Cinema


"Michel Vaillant" por Nuno Reis





Dia 13 de Junho de 2002, Le Mans, França. Às 19 horas começa a célebre corrida das 24 horas, mas às 17 já a multidão está a festejar a vitória e a chorar a derrota. O que se passa? E por que motivo estão duas novas equipas a ser tão apoiadas? São os Vaillant e os Leader e o que a multidão faz é ensaiar para o dia seguinte ao mesmo tempo que participa no filme "Michel Vaillant".

Realizado com fundos Media e com argumento de Luc Besson, como o outro êxito francês de alta velocidade "Taxi" e sequelas, o filme recupera toda a magia da popular banda desenhada Michel Vaillant.

Para quem não conhece a história, Vaillant é o nome de uma escuderia que em todos os veículos e em todos os circuitos corre para vencer tendo para isso os melhores carros e os melhores pilotos. Com os Leader passa-se exactamente o mesmo mas os seus carros e os seus pilotos são apenas os segundos melhores e para compensar esse facto eles são capazes de utilizar estratagemas perigosos e ilegais para vencer. Michel é o típico herói pois conduz bem, tem bom aspecto, é forte, inteligente, corajoso e tudo o resto. A nova dirigente dos Leader é a impiedosa Ruth Wang que consegue ser mais perigosa que o pai.

O filme é basicamente um remake do clássico "Le Mans". Quando um piloto da Vaillant morre tragicamente num acidente suspeito a equipa tenta descobrir os culpados ao mesmo tempo que auxilia a viúva. Mas a viúva é uma condutora profissional e consegue um lugar na equipa. Agora ao lado de Michel, Steve Warson e outros pilotos menos conhecidos da poderosa Vaillant, Julie Wood quer vencer a prova em homenagem ao seu marido. Mas no início do filme a mãe de Michel teve um sonho premonitório assustador, sonho esse que começa a ter muitas semelhanças com a realidade...

Quanto ao argumento é claramente francês apesar de não se notar o toque pessoal de Besson. Não tem demasiados exageros e não se torna cansativo. O carácter das personagens foi muito modificado em relação ao que me recordo da banda desenhada mas foram detalhes que numa perspectiva global do filme têm necessidade de existir e não destoam. Em termos de montagem nota-se algumas inperfeições e a realização poderia estar nas mãos de alguém mais experiente, é apenas a segunda obra de Louis-Pascal Couvelaire (a primeira foi "Sueurs" com Joaquim de Almeida e é, resumidamente, uma perseguição num deserto). Alguns detalhes como a aula de condução que Michel dá à sobrinha e a entrega dos prémios da primeira corrida ajudam a aliviar o ambiente que fica bastante denso. Os diálogos são numa mistura de francês com inglês, defeito habitual nos filmes que pretendem uma distribuição internacional. As cenas de corridas estão excelentes, mas as restantes filmagens são uma desilusão, se não houvesse ocasionalmente um toque de humor o filme seria uma desgraça.

O elenco escolhido é bastante sólido apesar de não ser conhecido. O protagonista principal, Sagamore Stévenin não fez nenhum filme conhecido mas entrou em "Sueurs". Warson é interpretado por Peter Youngblood Hills, um sósia de Seann William Scott, que apareceu em "The Beach". Julie é interpretada pela revelação Diane Kruger que foi escolhida para o épico "Troy" onde interpretará Helena de Tróia, a mulher mais bela da época. Lisa Barbuscia é possivelmente a actriz mais conhecida deste elenco pois apareceu em "Almost Heroes" ao lado de Matthew Perry e Eugene Levy, no mais recente filme sobre Imortais "Highlander: Endgame" e finalmente em "Bridget Jones Diary" como Lara, a correspondente nova-iorquina. Jean-Pierre Cassel é um grande artista mas pouco conhecido, foi Olivier em "Prêt-à-Porter" e apareceu diversas vezes em filmes e séries portuguesas, costuma fazer três filmes por ano.
Seria difícil analisar individualmente cada um destes indivíduos pois o filme não assenta em ninguém. Todos eles são vitais para a história e estão bem dentro da personagem. Mesmo personagens um pouco mais secundárias como Jean-Pierre Vaillant e a mãe, ou Odessa estão bem definidas.

O filme é bom para fãs das corridas, que desta vez se resumem a alguns rallys na Suécia e Itália e, é claro, Le Mans. Se acontecer o mesmo que com "Taxi" mais filmes estão na forja e poderão ser corrida de motas, todo-o-terreno, qualquer coisa que tenha rodas e motor.

Neste filme o que recomendo mesmo é que se veja o que oferecem na Internet, o sítio oficial que está recheado de informação, como os percursos, as máquinas, as equipas e os condutores, tem mesmo um jogo de corridas e uma perspectiva das três pistas em que a acção de desenrola: a Suécia onde começa o filme, Itália onde ocorre o acidente mortal, e Le Mans onde tudo o resto acontece. Está quase tudo em francês.



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