Cinema
"Corrupção" por Ricardo Clara
O buzz por detrás de um filme não é sempre um bom prenúncio para o que vai ser projectado na sala de cinema. Globalmente, um determinado realizador ou actor, uma temática ou uma era são atracções para falar de um filme e esperar por ele. Quando esse buzz surge por causa do cinema ser veículo para propaganda de ódios e facções, os seus objectivos não estão concretizados.
Analisar um filme como "Corrupção" é uma tarefa que se divide em duas vertentes: o filme de per se, e o seu redor.
Quanto à envolvência, os factos são conhecidos: Carolina Salgado, antiga companheira do presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, decidiu escrever um livro após separar-se deste. O livro (que confessamente não li, a não ser os excertos publicados nos jornais) aborda, entre outros temas, casos de suposta corrupção desportiva perpretada pelo dirigente em causa. Foi um sucesso de vendas, e o salto para o cinema era inevitável. A fazer fé nas declarações do intervenientes, a autora literária telefonou e encontrou-se com Leonor Pinhão, escitora e esposa do cineasta João Botelho, ambos ferverosos adeptos do Sport Lisboa e Benfica, tendo aquela usado alguns conhecimentos para ajudar a que o livro fosse editado. Meses depois, adaptou (livremente, como pomposamente o referem) o livro para um argumento cinematográfico, tendo o filme começado a ser rodado sob a produção Alexandre Valente, o qual encetou uma vasta campanha publicitária para rentabilizar o investimento. Jornalistas no set, entrevistas, ameaças de morte por anónimos, e clubites exarcebadas foram os condimentos da rodagem. Terminado o filme, a última bomba explode: o realizador João Botelho não assina a obra, por discordâncias quanto à actuação do produtor Alexandre Valente. Este, alegadamente, decidiu proceder à montagem e sonorização do filme, onde trocou uma banda sonora jazzy e clássica, por temas comerciais portugueses (entre os quais Pedro Abrunhosa).
Dois pontos sobre estas polémicas. O primeiro, na ingerência do produtor, a ser verdade, descabida e despropositada. Quando continuamos com um cinema nacional de uma pobreza avassaladora, justificar-se estas atitudes com o argumento de que nos EUA é um cenário frequente, é triste. Essencialmente porque, por cá, não temos produção de qualidade que sequer rivalize com a independente norte-americana, muito menos a dos grandes estúdios. Mesmo com o restante cinema europeu, a diferença é gigantesca. A obra é assinada por quem a realiza, e as suas opções e perspectivas são a base do seu cinema.
O segundo, quanto ao objectivo do filme - que parece ser, indubitavelmente, o de publicitar determinados comportamentos que foram praticados por pessoas ligadas a um clube, e através do olhar parcial de um realizador. Aqui, o objectivo do cinema está corrompido, porque usa-lo como veículo de propaganda é um comportamento desviante. Leni Riefenstahl fazia-o, foi condenada moralmente por tal, mas mesmo ela imprimiu conceitos belíssimos nas suas obras - e tal não acontece aqui.
O filme é, efectivamente, muito pobre. A montagem (um dos pomos da discórdia) é tenebrosa, e a espaços nota-se com facilidade que as imagens são colocadas à pressão, e por vezes sem nexo. As interpretações são igualmente fracas, apesar de Nicolau Breyner ter um bom papel, e Margarida Vila-Nova (na pele de Sofia) ser regular. O resto, é um desfilar de lugares comuns, mal sonorizado, por vezes mal iluminado e carregado de diálogos pobres. A justificação de "adaptação livre" é imbecil, especialmente porque os intervenientes do livro original estão todos lá, com Virgílio Castelo a ser uma fotocópia de Reinaldo Teles, e com insinuações grosseiras e cheias de mau gosto, como as do vício do jogo do Vice-Presidente, ou o Presidente pedir a Sofia que acenda um cigarro. Não nomear alguns personagens também não contribui em nada para a causa, sendo a fita marcada pelo "Sr. Presidente", o "Vice-Presidente", a "Alternadeira", o "Fotógrafo" e a "Esposa do General", sendo mais similar a um "Serrote" (nome dado aquelas pequenas paródias muito lusitanas, que os estudantes académicos finalistas realizam, a imitar professores, e projectado no final do ano lectivo) - fraco e amador. O Cinema sai muito mal tratado desta experiência.
Título Original: "Corrupção" (Portugal, 2007)
Realização: não creditado
Argumento: (adaptação do livro "Eu, Carolina) Carolina Salgado, adaptação não creditada
Intérpretes: Nicolau Breyner, Margarida Vila-Nova, Virgílio Castelo, Alexandra Lencastre.
Fotografia: Orlando Alegria
Música: não assinado
Género: Crime / Drama
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://http://www.corrupcao.net
loading...
-
Livro De Estreia De Margarida Rebelo Pinto Poderá Ser Adaptado Ao Cinema
O Correio da Manhã revelou que o livro ?Sei Lá?, de Margarida Rebelo Pinto, vai finalmente ser transformado num filme. Já há vários anos que se fala de uma adaptação cinematográfica deste livro de estreia de Margarida Rebelo Pinto, mas só agora...
-
Crítica - A Corte Do Norte (2008)
Realizado por João Botelho Com Ana Moreira, Ricardo Aibéo, Rogério Samora, Margarida Vila-Nova O último grande projecto cinematográfico de João Botelho foi o vergonhoso ?Corrupção?, um filme de fraca qualidade que levou os portugueses às salas...
-
Globos De Ouro 2008 - Portugal
Os Globos de Ouro são prémios atribuídos anualmente em Portugal desde 1996 pela estação de televisão SIC e pela revista Caras que premeiam várias áreas da arte e entretenimento no país, desde o Teatro ao Desporto, passando pelo Cinema, Moda...
-
Quatro Filmes Portugueses Em Exibição Simultânea
Haver quatro filmes portugueses em exibição simultânea seria um motivo para comemorar, não fossem eles de qualidade duvidosa. Após anos de quase total dependência estatal na produção cinematográfica e de critérios de selecção onde o factor...
-
Crítica De Um Portista A Um Trash Movie Que Não Vi
Que fique claro: não contribui financeiramente com o preço do bilhete para essa vigarice a que querem chamar de filme e que intitularam "Corrupção". O problema surgiu quando os meus amigos benfiquistas começaram a desancar no “filme”. Se nem...
Cinema