"Defiance" por Ricardo Clara

Coincidência ou não, a indústria cinematográfica descidiu lamber mais algumas feridas pós II Guerra Mundial, com algumas peças que evocam aquele marcante acontecimento da nossa História. E estreia essas fitas com algumas semanas de diferença, desde "The Boy in the Striped Pyjamas" (Mark Herman, 2008) a "Valkyrie" (Bryan Singer, 2008), passando por "Die Welle" (Dennis Gansel, 2008), ainda que numa versão recente, numa curiosa visita ao passado.

"Defiance" / "Resistentes", é baseado numa história real, com a adaptação do livro homónimo de Nechama Tec. Aí é contada a história dos irmãos Bielski, que em plena Segunda Grande Guerra formaram a Bielski Partisan, uma força paramilitar que combateu o regime totalitário de III Reich, em defesa do povo judeu da agora Bielorússia.
Tuvia (Daniel Craig), com a ajuda dos irmãos Zus (Liev Schreiber) e Asael (Jamie Bell) fogem de uma chacina na sua vila natal, e refugiam-se no coração de um denso bosque, com umas dezenas de refugiados judeus. Lá, montam um pequeno acampamento, que começa paulatinamente a crescer com a chegada de novas pessoas dos arredores. A palavra começa a passar com velocidade, acerca de um local que dá guarida aos judeus, defendidos por estes corajosos partisans. Enquanto uns erguem o povoado, outros vão em busca de comida, roubando em quintas e cidades. E enquanto uns procuram sobrevivência, outros procuram vingança. Tuvia faz parte do primeiro grupo, e torna-se comandante de um número cada vez maior de pessoas. Outros, como Zus, anseiam por vingança, e decidem alistar-se no exército russo, que não nutre grande simpatia pelo povo a que eles pertencem.

Após uma nova fuga, obrigados pela intervenção de uma pequena facção da infantaria nazi, levantam novo acampamento, onde passam um rigoroso inverno, e a provação da falta de alimentos, da doença, e das desavenças pelo poder. Até que uma nova investida alemã, com Moisés e as santas águas à mistura, os obrigam a nova luta pela vida.

Estamos, como afirmei, perante factos reais, que aclamam a resistência daquele grupo de refugiados, e elevam os Bielski a figuras quase mitológicas numa altura propensa ao surgimento de heróis. O filme, que conta com Eduardo Serra na direcção de fotografia (e que monta um trabalho competente, um pouco aquém do que já o vimos fazer), seria quase de certeza uma aposta simpática, até pela história recheada de interesse (especialmente para os que seguem com atenção aquela época), e inclusive pela capacidade de Edward Zwick ("Blood Diamond", 2006) de trabalhar em ambientes adversos. Em parte confirma-se. "Defiance" é uma peça cuidada, que não deslumbra, mas que traz uma narrativa linear e bem estruturada, com algumas emoções à mistura, e que demonstra muito trabalho na sua produção - ou não tivesse passagens faladas em russo e alemão, que conferem uma carga muito mais verdadeira à narrativa.
É, por vezes, entediante, em especial pela incapacidade de Craig em encarnar na sua totalidade a personagem que lhe foi confiada - situação diametralmente oposta no belíssimo trabalho de Liev Schreiber e Mark Feuerstein, cujas interpretações acrescentam corpo ao filme, e redobram o interesse na trama. E é este desfasamento entre a realidade da fita e a profundidade dos personagens que fazem soçobrar o trabalho. Assim, no seu todo, um drama simpático com uma história interessante, ambientado na música de James Newton Howard, nomeado para Óscar, mas que nada acrescenta de novo.

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