"Diary of the Dead" por Ricardo Clara
Cinema

"Diary of the Dead" por Ricardo Clara


A moda das handycam ao ombro e da tecnologia de ponta já assaltou uma das estrelas maiores da constelação de terror deste universo cinematográfico. George Romero traz-nos o quinto filme da saga "Living Dead", depois do original e brilhante "Night of the Living Dead” (1968), de “Dawn of the Dead” (1978), “Day of the Dead” (1985) e “Land of the Dead” (2005).

Em "Diary of the Dead" / "Diário dos Mortos", um grupo de estudantes de cinema prepara um filme de terror centrado numa múmia, tendo como realizador o aspirante a cineasta Jason (Joshua Close). Acompanhado da namorada Debra (Michelle Morgan), de um grupo de colegas e amigos e de um altamente alcoolizado professor - o britânico Andrew Maxwell (Scott Wentworth), são avisados pelas notícias de que um vírus está a atacar a população, ganhando vida depois da morte aqueles que caírem no sono eterno (quer por contacto com os infectados, quer por causas naturais.
A decisão do grupo é a de partir numa caravana em direcção à casa de Debra, e irem paulatinamente largando os membros da comitiva em fuga nas respectivas casas. Mas pelo caminho as dificuldades são imensas e passam a entrar num corrida pela vida.

E voltamos à formula referida, agora tão em voga. Handycam, planos a tremer, a ideia de que o que estamos a ver é um vídeo que sobreviveu à catástrofe: Jason realiza um filme intitulado "Dead of the Dead", fita montada por Debra, tudo isto porque o mundo tem de ficar a conhecer a verdade do que se passa. A ideia, ainda que esteja no limite da criatividade, pode resultar de várias maneiras. Em "[REC]", o pressuposto é idêntico, trocando estudantes por jornalistas de pacotilha. Os mesmos planos em fuga, o mesmo tremer e um desenlace em tudo similar. "Cloverfield", idem aspas. Já nem falo de "The Blair With Project", porque ainda que percursor em algumas opções de estilo, é uma tremenda ofensa a alguns princípios básicos do cinema.
O que os faz diferir, em toda a sua plenitude, é a abordagem narrativa. Mais do que a óbvia diferença entre uma fuga pelo país de uma horda de zombies, ou a de uma menina possuída dentro de um prédio, é a força imprimida na realização versus a consistência do argumento que vai imperar, ainda que aliada a interpretações equilibradas. "Cloverfield" não tinha nada disso. "[REC]" tem Manuela Velasco e uma perspectiva europeia na realização. Mas George Romero consegue aliar todos os condimentos de forma mais trabalhada. Tudo bem que os dois filmes citados caem na tentação de usar os mais básicos recursos de uma handycam para provocar o susto: iluminação directa repentina, visão nocturna, entre outros. "Diary of the Dead" não. E esse equilíbrio, aqui, é parcial. Onde o perde, é nos balanços do ritmo, fruto de uma narrativa inconstante.

A cumplicidade câmara / actor, essa, Romero consegue-la sem grande esforço. Onde destoa é na amálgama de referências que tenta imprimir ao longo do filme, e que não as consegue aguentar. Todo o discurso dos novos meios de comunicação, os blogues, a internet, o jornalismo pessoal, a ficção da realidade actual, onde o jornalista passou a acumular as funções de repórter com as de gestor de informação enviadas pela população em geral, estão todas lá. Mas por vezes perde-se em filosofia barata, que a ser ignorada, contrubuiria para o esboço de uma bela peça do género.

O desequilíbrio é mesmo a grande pecha desta nova abordagem. Se por um lado temos momentos de puro deleite (e podiam-se destacar vários: o amish surdo-mudo de foice em punho, o ácido ou o desfibrilhador como armas, algumas tiradas certeiras do professor Maxwell, bem como algumas mortes que Romero tão bem consegue encenar), a verdade é que o ritmo vê-se por vezes atacado da tal filosofia de café, aliado às referências pós-11 de Setembro e Guerra do Iraque, que afectam irremediavelmente a consistência do filme.
Não fosse este senão, e o equilíbrio ter-se-ia mantido estável durante a cronologia fílmica. Como falha nesse propósito, bem como no trabalho de câmara (o filme nunca chega realmente a assustar), é só mais um filme de mortos-vivos (ainda que tenha as vozes de Wes Craven, Stephen King, Simon Pegg, Quentin Tarantino ou Guillermo del Toro a lerem as notícias...).





Título Original: "Diary of the Dead" (EUA, 2007)
Realização: George Romero
Argumento: George Romero
Intérpretes: Joshua Close, Scott Wentworth e Michelle Morgan
Fotografia: Adam Swica
Música: Norman Orenstein
Género: Terror / Thriller
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.myspace.com/diaryofthedead



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