Cinema
"Gone Baby Gone" por Nuno Reis
"Gone Baby Gone" não é um filme que marque a temporada cinematográfica, mas é um filme que combina com a temporada em que foi feito. O seu tema é o desaparecimento de uma menina de quatro anos e a investigação de contornos suspeitos que gera. O tema não tem nada de original nem seria mais apelativo que qualquer outro filme se não fossem as incríveis semelhanças com um caso actual. Exceptuando para quem esteve sem comunicação com a Europa por nove meses ,este filme parece um retrato fiel de um caso que se vai desenrolando sem pressas em Portugal. A estreia foi adiada em muitos países precisamente por isso, parecia que se estavam a aproveitar da tragédia alheia para promover o filme. O tempo de lamento passou e o filme tinha de aparecer mais cedo ou mais tarde. Esta semana foi a eleita.
A primeira metade do filme é um drama insípido. Um casal de detectives vai seguindo algumas pistas pelo mundo marginal e através dos seus contactos consegue informações que escaparam à polícia nos primeiros dias. Esse desfasamento em relação ao dia do rapto é proveitoso para a construção do filme. Fica tudo nas mãos dos detectives que seguindo um rumo não oficial descobrem muitas novidades. Os polícias são personagens insignificantes e a investigação deles é algo de que não se fala.
Para quem acompanhou o Caso Maddie esta fracção do filme é um retrato ficcionado do que sucedeu à criança inglesa. Tem tudo o que precisa para ser igual à realidade e por isso mesmo parece melhor do que realmente é. O tempo encarregar-se-á de tirar muito do pouco valor que tem.
A segunda metade tem um ritmo diferente e segue um fio narrativo mais cinematográfico. Acção, tiroteios, suspense, vale tudo para manter o espectador interessado numa história que já não é totalmente previsível, já não é a de Maddie... O final é o culminar de um desentrançar de nós frágeis. Pode não surpreender, mas consegue seguramente dividir os espectadores.
A nível de interpretações não há nenhum destaque, a nomeação de Amy Ryan para o Oscar é um bocado forçada pois tal como os outros pouco se afasta da mediania. A realização (com um bocado mais de esforço) é capaz de ser o futuro do Affleck mais velho, agora que o irmão mais novo provou que já há alguém da família a saber representar. A banda sonora é agradável e compensa os momentos menos conseguidos do argumento. Cumpre o dever de entreter e com o efeito Maddie guardou um pequeno lugar na história do cinema e no coração de muitos espectadores.
: "Gone Baby Gone" (EUA, 2007) Realização: Ben Affleck Argumento: Ben Affleck, Aaron Stockard baseados no livro de Dennis Lehane Intérpretes: Casey Affleck, Michelle Monaghan, Ed Harris, Morgan Freeman, Amy Ryan, John Ashton Fotografia: John Toll Música: Harry Gregson-Williams Género: Drama, Crime, Mistéria Duração: 114 min. Sítio Oficial: http://www.gonebabygone-themovie.com/ |
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