Cinema
"Husbands and Wives" por Nuno Reis
Quando o filme começa com um anúncio de divórcio pode parecer um regresso de Allen à comédia, no entanto apesar de ter uns traços de comédia é dos filmes mais sérios que jamais fez. Transcreveu para "
Husbands and Wives" algumas das próprias discussões conjugais e entre a rodagem e a estreia terminou a relação com Mia Farrow que depois de treze filmes não voltou a trabalhar com ele. Isso foi uma excelente publicidade para o filme que estreou em quase 900 cinemas batendo todos os recordes do realizador de salas e de melhor primeiro fim-de-semana de bilheteira (no total ficou-se pelos 10 milhões).
Tecnicamente também marcou um ponto de viragem pois marcou a diferença desde a abertura onde filmou uma televisão. Câmara ao ombro, cenas cortadas quase ao calhas e uma tentativa de filmar em 16mm (foi obrigado a usar 35mm) foram esforçar arrojados para parecer documental. Só que ao contrário dos
mockumentaries que fez anteriormente este tinha demasiada história.
Jack (Sydney Pollack) e Sally (Judy Davis) são o casal que anuncia o divórcio. Gabe (Allen) e Judy (Farrow) são o casal amigo que fica a pensar na notícia. Enquanto a crise de meia-idade de Jack lhe arranja uma namorada muito mais jovem (Lysette Anthony), Sally começa a criar laços com um colega (Liam Neeson) que podem levar a uma relação mais séria. Judy e Gabe começam a pensar na volatilidade das relações e a repensar a própria. Gabe começa a sentir-se atraído por uma jovem aluna (Juliette Lewis) que se orgulha de ser uma dor-de-cabeça para todos os homens.
"
Husbands and Wives" é um retrato das relações quando esmorecem. Umas terminam, outras caminham para isso. O diálogo e as escapadelas (pensadas ou executadas) fazem parte da realidade e é disso que aqui se fala. Allen tem uma performance genial, assim como Judy Davis. Quanto a Lewis tem uma personagem complexa e de quem é fácil não gostar. Contrasta com a anterior Lolita, a dócil Tracy de "
Manhattan", e tem um pouco da crueldade da invulgar
femme fatale Tina Vitale ("
Broadway Danny Rose"), mostrando que todos os grandes filmes de Allen são peças de uma gigantesca história da vida, da humanidade e da sociedade, que ninguém consegue explicar em duas horas, mas ele consegue resumir em quarenta anos de carreira.
Não é um filme para todos os públicos, mas é daqueles que se gostará mais com a idade à medida que se passa por situações idênticas e se compreende as personagens que Allen como é habitual tornou demasiado reais. Como diz Sally
"It's the Second Law of Thermodynamics: sooner or later everything turns to shit.". É assim a vida e isso está aqui muito bem retratado.
A nota é provisória, sei que vou aprender a gostar do filme.
| Título Original: "Husbands and Wives" (EUA, 1992) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Judy Davis, Sydney Pollack, Woody Allen, Mia Farrow, Juliette Lewis Fotografia: Carlo Di Palma Género: Drama, Romance Duração: 108 min. |
loading...
-
Dirigindo No Escuro
(Hollywood Ending, EUA, 2002) Comédia Direção: Woody Allen Elenco: Woody Allen, George Hamilton, Téa Leoni, Debra Messing, Mark Rydell, Treat Williams Roteiro: Woody Allen Duração: 112 min.Nota: 6/10 Ver um filme do Woody Allen é sempre certeza...
-
"deconstructing Harry"por Nuno Reis
Demónio: It's like Vegas. You're up, you're down, but in the end the house always wins. Doesn't mean you didn't have fun. Quando um qualquer argumentista sofre de bloqueio de escritor tem de parar por muito frustante que seja. Isso...
-
"hannah And Her Sisters" Por Nuno Reis
Foram precisos vinte anos para um filme de Woody Allen facturar 40 milhões de dólares. Seriam precisos quase outros tantos para esse recorde ser batido (“Match Point”). Além das sete nomeações a Oscar levou ao aparecimento de um movimento que...
-
"the Purple Rose Of Cairo" Por Nuno Reis
Aqui está uma das obras mais importantes do realizador e do Cinema. Tem tudo o que caracteriza os filmes de Woody Allen como o contexto histórico (a Grande Depressão), o amor pelo Cinema, uma imaginação prodigiosa, e ser um grande filme com curta...
-
"broadway Danny Rose" Por Nuno Reis
Além dos argumentos únicos Woody Allen é também um exímio criador de personagens. Quando escreve para si é um bocado limitado e acabam por parecer muito semelhantes, mas há sempre excepções e uma das mais memoráveis de sempre é precisamente...
Cinema