De forma mais ou menos descarada, até aqui a comédia tem feito parte de todos os filmes de Allen. Ao fim de uma dúzia de filmes que não se consegue ver sem rir, aparece "
Interiors", uma obra completamente distinta onde o objectivo não é alegrar o espectador, mas apenas transmitir angústia. O título é um jogo que combina a decoração de interiores, tarefa desempenhada pela sofredora Eve, com a análise psicológica de personalidades distintas, à deriva num mundo sem lugar para elas.
Aproximando-se do estilo que tanto admira de Bergman, e que reutilizará em "
Husbands and Wifes", vai narrar a relação de três irmãs (nenhuma se chama Hannah) com a mãe, os pais, os maridos e o emprego. Três mulheres adultas a braços com os desafios da vida.
Joey (Mary Beth Hart) não sabe o que quer da vida. O marido é compreensivo para ela, mas nem tanto para a sogra a braços com uma depressão. Renata (Diane Keaton) é poetisa. Sente-se cada vez menos capaz de escrever, e o marido considera-se um escritor fracassado. Estão um pouco mais distantes pelo que não convivem muito com a mãe. Finalmente Flyn (Kristin Griffith), a estrela da família, é actriz e corre mundo, não tendo tempo para homens nem para a família que, quando reencontra, a recebe sempre com grande festa. Os pais estão separados e enquanto a mãe acredita na reconciliação (apoiada pela optimista Renata e contrariada pela pessimista Joey), o pai apresenta-lhes a nova mulher da sua vida. Esta personagem e a sua forma de encarar a vida obriga todos a repensar quem são.
É uma complexa trama de emoções sobre expectativas falhadas e sonhos desfeitos. Uma irmã não sabe o que quer, outra sente que está a perder capacidades, outra sente que o seu talento não é reconhecido. Os pais que sempre admiraram estão separados, o pai segue em frente com a sua vida deixando a mãe num estado ainda mais miserável. O que lhes resta além de pensarem quem são e o que fazem neste mundo?
Ao melhor estilo de Bergman é um filme que dispensa música, que combina a musa eterna com actrizes desconhecidas, que tem um monólogo brilhante para finalizar e que mostra uma completa indiferença pelas convenções americanas sobre o cinema como entretenimento. O Oscar pode não ter significado nada para Allen, mas deu-lhe a coragem de ir ainda mais além, com a certeza de que nem os que até então o ignoravam iam perder a oportunidade de ver um filme do realizador oscarizado. E que belo soco no estômago sentiram todos eles.
Curiosidade: O guarda-roupa foi feito por um designer de nome Joel Schumacher. Sim, esse mesmo.
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