Cinema
"Juno" por António Reis
Este ano os Óscares nas categorias principais estão verdadeiramente influenciados pelo espírito do amor. Seja o amor pela vingança no filme dos Coen, o amor excessivo e romântico em "Expiação", o amor adolescente em "Juno", o amor ao dinheiro em "Haverá Sangue" ou o amor pela verdade em "Michael Clayton". Mas se valem as apostas antes da cerimónia, vão 2 Oscares para Juno pela melhor actriz e melhor argumento - apesar de na concorrência se encontrarem excelentes interpretações femininas e um outro notável argumento que é o de "Lars and the Real Girl", ainda que demasiado marginal para ser aceite pela Academia - porque "Juno" é um dos mais inteligentes, divertidos, ternos e cáusticos filmes dos últimos tempos.
Juno recebe o seu nome da personagem central assim chamada em homenagem à irascível e ciumenta esposa de Zeus, o deus dos deuses do panteão da mitologia grega, ainda que aqui seja o nome romano da dita deusa. Mas é a história possível de uma adolescente que subitamente descobre que está grávida por um amor de verão.
Pensa em interromper a gravidez e só esta primeira ideia que percorre o filme permite de imediato uma descontraída mas séria reflexão sobre as sexualidades modernas e a gravidez indesejada das adolescentes. Só que a opção definitiva de Juno, após leitura atenta dos classificados de jornal, é o de ceder o futuro rebento para adopção a um casal escolhido com critério. Lembremos que a mulher desta família aparentemente perfeita é Jennifer Garner, no papel de uma trintona desesperada por ser mãe. E que o marido (Jason Bateman) é um compositor de publicidade, nostálgico da música dos anos 60 e que recusa aceitar o peso da idade e das responsabilidades.
O argumento e os diálogos são espantosos de ritmo e de alternância dramática, de acutilância nos temas sociais que aborda, de cómico de situação e de diálogo. Em resumo um comédia dramática de costumes onde a sátira prevalece. A responsável pela história e diálogos será Diablo Cody, uma ex-stripper occasional, que se tiver o talento de tirar a roupa como tem de escrever frases arrasadoras é uma artista. E as falas são de uma naturalidade, cadência e qualidade exuberantes. Aliás até demasiado boas para terem sido escritas por uma mulher, que me desculpem as feministas. Apesar de no seu currículo já ter escrito um muito esperado "Jennifer’s Body".
Sobretudo "Juno" precisa de tempo em exibição para que o boca a boca funcione. Porque o seu lançamento feito de forma tão discreta e em tão poucas salas revela falta de ambição da LNK no seu próprio filme. Pode ser que o Óscar lhe dê um empurrão definitivo que acabe por fazer de Juno um sucesso de bilheteira que a sua qualidade merece.
: "Juno" (Canadá, EUA, Hungria, 2007) Realização: Jason Reitman Argumento: Diablo Cody Intérpretes: Ellen Page, Jennifer Garner, Jason Bateman, Michael Cera Fotografia: Eric Steelberg Música: Matt Messina Género: Comédia, Drama, Romance Duração: 96 min. Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/juno |
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