"King Kong" por António Reis
Cinema

"King Kong" por António Reis



O fim da macacada

Rui Veloso cantava “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz ainda que o coração mande não faças o que ele diz”. Peter Jackson quis voltar a esse ligar mítico que é o cinema da Universal dos gloriosos anos 30 ou eventualmente à remake de Dino de Laurentis. O resultado está aquém das expectativas que um fã declarado de Jackson como sou teria. Isto porque a remake é uma mera transposição literal desse original embrulhado em tecnologia digital de alta qualidade mas que sabe a pouco. O mesmo não se pode dizer do filme que com a sua duração exagerada reafirma que Jackson não tem noção da contenção temporal nem do efeito das elipses na narrativa.
Esperava-se talvez que a obsessão por esse sonho de criança finalmente concretizado não eliminasse a capacidade do realizador de fazer alguma inovação na narrativa. Não é o caso. Faz uma brilhante reconstituição da Grande Maçã dos anos 30, delicia-se com efeitos especiais de enorme impacto visual, mas oscila num humor moralista e às vezes cínico e numa exposição de Naomi Watts que parece ter deixado o realizador pelo beicinho. Assim sendo este “King Kong” pouco acrescenta ao imaginário do fantástico em que se inspira, apesar de, nesse vale perdido, o gorila coabitar com dino e outros sáurios, aranhas gigantes e demais bicharada em tamanho gigante para satisfação de públicos mais adolescentes. Apesar da duração o filme apresenta lapsos incompreensíveis no argumento e soluções nem sempre ajustadas. Jackson não está no seu melhor, o macaco já teve melhores dias, as remakes já não são tão apelativas como os originais e o fantástico está a precisar de guionistas inspirados. Perdoa-se a Jackson este desvario para agradar aos americanos, mas espera-se que o genuíno cineasta de “Braindead” ou “Forgotten Silver” regresse na próxima produção. Este “King Kong” foi apenas um sorvedouro de dinheiro e mesmo que o box-office (como parece ser o caso) esteja a compensar, para a história do cinema este Kong não vai ser King.





Título Original: “King Kong” (Nova Zelândia, EUA, 2005)
Realização: Peter Jackson
Intérpretes: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody, Andy Serkis
Argumento: Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson (baseados na história de Merian C. Cooper e Edgar Wallace)
Fotografia: Andrew Lesnie
Música: James Newton Howard e Mel Wesson
Género: Acção, Aventura, Drama, Fantasia, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 187 min.
Sítio Oficial: http://www.kingkongmovie.com/



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