"Max Payne" por Ricardo Clara
Cinema

"Max Payne" por Ricardo Clara


Não tenhamos ilusões: adaptar um videojogo ao cinema é como ter uma sequência real no póquer. Raramente acontece. E quando o salto do computador para a tela é concretizado, também não se deveria estar à espera de conjugar no mesmo espaço Mark Wahlberg, Chris O'Donnell e Nelly Furtado.
Max Payne foi um enorme sucesso da Rockstar Games à uns anos atrás, jogo do qual fui um assumido entusiasta, e dos poucos que me entretiveram desde que tal febre existe. Apoiado numa estilização muito própria, e recorrendo a conceitos gráficos que (aparentemente, e como se veio a confirmar) só fariam sentido no mundo virtual da programação computadorizada.

E lá, como em "Max Payne", agora em filme, vemos a história de um detective da divisão de narcotráfico, cujo nome é homónimo ao da fita (interpretado por Mark Wahlberg), três anos depois da bárbara morte da sua mulher e filhas, num acto descoberto pelo próprio, e que na altura deixou escapar um dos assassinos. Numa rebuscada e contínua procura pelo responsável foragido, conhece Natasha Sax (Olga Kurylenko), uma underground junkie, a quem nega uma noite de diversão. Tudo seria natural (ou não, tendo em conta a figura da dita Sax), se ela não tivesse sido descoberta morta e em pedaços, e na sua posse a carteira do polícia.

E se à altura era já pensado como o criminoso, a ideia veio a acentuar-se definitivamente quando o seu antigo parceiro na polícia, Alex Balder (Donal Logue) foi encontrado morto, e ao seu lado um ferido mas ainda com vida Max Payne. Na fuga da lei e da condenação sumária, recebe dois apoios: Mona Sax (Mila Kunis), irmã de Natasha, e BB Hensley (Beau Bridges), chefe de segurança de uma reputada farmacéutica.
Assim, vê-se definitivamente enredado numa trama que envolve uma potente droga experimental, que ditou o homicídio da sua família, e o fim da sua vida tal como a conhecia.

Se, como referiamos no início do texto, a adaptação de um videojogo para o cinema é muito complicada, este "Max Payne" junta-se à estatística. O edifício desmorona-se por completo no cariz estilizado da obra. Isto porque, se em jogo funciona, na tela definitivamente não. Ademais, John Moore ("Behind Enemy Lines", 2001) cede à tentação de querer agradar aos fãs da saga (erro crasso). De incongruências da narrativa a erros na montagem, nada consegue sair direito a Moore. Verdade seja dita que não era fácil. A adaptação do chamado bullet time era muito difícil - e redunda num enorme falhanço. Refirmo-me aquelas alturas (que não são novidade nenhuma, visto que a trilogia Matrix a introduziu no final da década de 90, já em filme) em que, por efeito especial, se consegue vislumbrar uma acção muito rápida (como o disparo de uma bala) muito lentamente. Ora, se o jogo assentava as suas permissas aí, na adaptação deixa de fazer sentido.

Por fim, a transposição do argumento do jogo para o da fita. Não só as alterações são diminutas, como as que faz (como a introdução de Jason Colvin (Chris O'Donnell)) são desculpas fracas para acelerar o processo narrativo de modo a que não se prolongue por demasiado tempo. Perde sequência, perde verosimilidade e, essencialmente, perde o interesse.




Título Original: "Max Payne" (EUA, 2008)
Realização: John Moore
Argumento: Beau Thorne e Sam Lake
Intérpretes: Mark Wahlberg, Mila Kunis e Chris O'Donnell
Fotografia: Jonathan Sela
Música: Marco Beltrami e Buck Sanders
Género: Acção / Thriller / Drama
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.maxpaynethemovie.com



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