"Moon" por António Reis

No ano em que se assinalam os quarenta anos da primeira chegada do homem à Lua, a ficção-científica está de regresso e em grande. O festival de Sitges reflecte essa tendência com uma mão cheia de filmes deste sub-género. Obra de estreia de Duncan Jones, lembre-se de passagem que é filho de David Bowie, "Moon" é um exercício de representação assente no personagem interpretado por Sam Rockwell, a que a voz de Kevin Spacey como computador serve único contra-ponto.
Duncan Jones salienta que o seu filme é uma homenagem aos clássicos da F-C dos anos 70 e 80, como "Blade Runner", "Silent Running", "Solaris" e "Outland", ainda que as preocupações políticas e ecológicas destes filmes não sejam as determinantes de "Moon". Em "Moon" a tónica dominante é a solidão que eventualmente conduz à loucura e a reflexão sobre a essência da humanidade que é a sociabilidade.

Abandonado numa estação na face oculta da Lua, qual Robinson Crusoe sem Sexta-Feira, a sua vida é regulada por um omnipresente Gerty, que lembra estranhamente HAL de 2001. No seu isolamento estelar Sam Bell é humano demasiado humano: tem uma mulher que o ama por causa da ausência, uma filha que cresce sem a presença paterna, respostas emotivas e agressivas como qualquer um de nós. A não ser que seja apenas mais um clone no limiar da validade que descobre o seu destino. Uma obra muito filosófica, ou não fosse Duncan Jones da filosofia, que consegue o milagre de, com cinco milhões de euros, fazer uma obra-prima da ficção-científica, com a dificuldade de estar centrada na interpretação de um único personagem.

Apresentado à Europa em Cannes, confirmou o seu estatuto ao vencer o Méliès d’Argent em Lund e o Grande Prémio em Sitges. Quando lhe perguntamos porque não tem o seu filme músicas do álbum "Space Odditty" do pai Bowie, respondeu sorrindo que os direitos eram demasiado caros para o seu orçamento. Mas que Bowie gostou da estreia do filho gostou.

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