Cinema
"Rio 2" por Nuno Reis
Carlos Saldanha tem feito um enorme esforço na utilização do seu talento como contador de histórias para a preservação da fauna e flora brasileira. Se no primeiro "Rio" tratava da preservação das espécies autóctones em risco de extinção, exemplificadas nas araras azuis, agora tem uma missão bem maior: a defesa da floresta amazónica. Pegando novamente nas personagens do primeiro filme, embrenha-se na floresta profunda em busca do resto da espécie. Blu, Jewel, as crianças e os amigos voadores que fizeram no Rio, vão descobrir que nem a selva é tão agradável como a civilização a que se acostumaram, nem os humanos que encontram são tão prestáveis.
O risco das sequelas é evidente. Se as boas ideias foram usadas no primeiro filme, o que pode um regresso trazer de novo que seja melhor? Uma mudança geográfica despoleta nova situações e personagens, mas a tendência a fazer o mesmo não pode ser evitada. Em "Rio 2" há demasiadas semelhanças com o primeiro filme. Contudo, são semelhanças boas, como a espectacularidade visual e sonora de cada número musical com centenas de indivíduos a dançar em perfeita sintonia, os já referidos valores ecológicos e a hilariante incompatibilidade de Blu com a vida das aves selvagens.
A nível narrativo entrou em terreno conhecido, com as disputas amorosas, os conflitos, e os regressos de velhos inimigos que tantas sequelas fazem. Mas a fraca história central é salva pelas ricas histórias secundárias, como a venenosa e romântica Gabi (que nos proporciona um grande momento musical com a voz de Kristin Chenoweth) e em especial o regresso aos palcos de Nigel, o único motivo pelo qual a ideia da audição não é um longo flop pontuado com algumas boas ideias. Ao longo do filme o espírito nacionalista que vimos no primeiro episódio mantém-se, apenas substituiram o Carnaval pelo Futebol, duas actividades conhecidas por todo o mundo em que o Brasil é uma referência.
O primeiro capítulo não estava muito bem conseguido, arriscando-se entre o filme de animação infantil, o de cariz ambiental e o tecnicamente elaborado. Nesta sequela ir por terrenos já explorados acabou por ser uma vantagem. Claro que o trapalhão Blu já foi mais engraçado (ainda que seja cada vez mais exagerado), Jewel quase nem se viu (pelo menos cantou uma música), os humanos são um desperdício de tempo de ecrã, e dos restantes só o já referido Nigel está bem. Entre as novas personagens a situação repete-se. Muitas não precisavam de ter aparecido - nos humanos isso é especialmente evidente - e outros só estão a fazer lembrar situações de outros filmes. Mesmo assim, o público do primeiro filme teve exactamente o que procurava e não será uma ida inútil ao cinema. Quem gostou do primeiro tem fortes motivos para gostar deste, e quem não gostou tem algo menos intenso para se ir acostumando. Há margem para um terceiro? Não, mas não estranhava se tentassem!
Numa pequena nota, apesar de ter tido um fim-de-semana de abertura semelhante ao primeiro filme, facturou menos 30 milhões tanto no mercado internacional como no americano tornando-se o segundo pior desempenho para um filme da Blue Sky, perdendo apenas para o desapontamento do ano passado que foi “Epic”.
| Título Original: "Rio 2" (EUA, 2014) Realização: Carlos Saldanha Argumento: Don Rhymer, Carlos Saldanha, Jenny Bicks, Yoni Brenner, Carlos Kotkin Intérpretes: Jesse Eisenberg, Anna Hathaway, Kristin Chenoweth, Jemaine Clement, Jamie Foxx, Andy Garcia, Bruno Mars, Leslie Mann, Kate Micucci, Tracy Morgan, Rodrigo Santoro, Will.i.am, Música: John Powell Fotografia: Renato Falcão Género: Animação, Aventura, Comédia, Família Duração: 101 min. Sítio Oficial: http://www.rio-ofilme.com.br |
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