"Thirst" por César Nóbrega
Cinema

"Thirst" por César Nóbrega


Um dos fenómenos do Festival de Cinema de Cannes de 2009 estreia em Portugal. "Thirst – Este é o Meu Sangue"provoca o mais ateu dos espectadores. O currículo do realizador Park Chan-Wook ("Oldboy – Velho Amigo", "I’m a Cyborg, But That’s Ok") aconselha a um atento visionamento. O César Nóbrega já viu e confirma, o cinema sul-coreano está volta em grande forma, depois de uns anos de indefinição.

Os filmes de vampiros estão mais do que na moda. Muito graças ao clã Cullen da saga "Twilight" de Stephanie Meyer, os seres que vivem para sempre sugando o sangue dos humanos conquistam cada vez mais adeptos.

Mas, os filmes de vampiros têm um longo caminho percorrido – que dizer de "Nosferatu" de F.W. Murnau em 1922, ou de "Drácula" de Tod Browning (1931). Mais recentemente, Francis Ford Coppola realizou "Dracula de Bram Stroker" (1992), dois anos depois foi a vez de "Entrevista com o Vampiro" de Neil Jordan. Destaque, ainda, para "Blade" de Stephen Norrington e "Vampiros" de John Carpenter (1998).

Em 2008, " target=_new>"Crepúsculo" de Catherine Hardwicke veio dar visão aos livros da escritora mórmon norte-americana que idealizou um vampiro romântico que se apaixona por uma humana. O amor impossível, o protagonista saído de um catálogo de modelos e uma realização inspirada fizeram os vampiros renascer.

Com todo este fenómeno corremos o risco de perder outros filmes do género dignos de nota. " target=_new>"Deixa-me Entrar" do sueco Tomas Alfredson e produzido no mesmo ano é um desses exemplos. Um criança frágil é vítima do tão "agora famoso" bullying. Sonha com a vingança, o seu maior desejo é ter um amigo. Quando chega à escola uma nova miúda, as coisas vão mudar. Ela é uma vampira que vai despertar no rapaz não o habitual medo, antes o que se pode chamar de amor. O filme estreou em Portugal em Maio do ano passado e quase passou despercebido. O facto de ser cinema europeu pode explicar algum do desprezo, mas não todo.

De aceitação, ainda, mais dificil é "Thirst – Este é o Meu Sangue". Só agora o cinema sul-coreano começa a ser distribuído comercialmente nas salas de cinema portuguesas. Foi o Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto quem pela primeira vez arriscou mostrar este cinema ao seu público – e com resultados brilhantes. Em 2004, por exemplo, "A Tale of Two Sisters" de Kim Jee Woon arrecadou o Grande Prémio do festival.

Os mais importantes filmes do realizador Park Chan-Wook passaram no Fantas, com destaque óbvio para a trilogia dedicada à vingança iniciada em 2002 com "Sympathy for Mister Vengeance", desenvolvida no brutal "Oldboy – Velho Amigo" (2003) e encerrada em 2005 com "Lady Vengeance" (Prémio Melhor Filme da Secção Oficial Orient Express do Fantasporto 2006).

Em 2008, Park Chan-Wook voltou a ser distinguido com uma Menção Especial do Júri da Secção Oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto pelo estranho mas belo e original "I’m a Cyborg, But That’s Ok". "Thirst – Este é o Meu Sangue", o seu mais recente filme, venceu a secção Orient Express do Fantasporto 2010, depois de ter arrecadado o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes 2009.

O filme é sobre vampiros, mas não só! É muito mais do que isso – é um filme sobre sentimentos. À parte da polémica, uma vez que é um padre católico quem se vai transformar em "sugador de sangue", "Thirst" é sobre um homem bom, a quem roubam toda a dignidade. E este facto é muito importante. O tal padre oferece-se para uma experiência à volta da investigação de novos medicamentos. Quando tudo corre mal, uma transfusão de sangue infectado vai transformá-lo em vampiro. Daí em diante, o apelo do sangue, mais – da carne – vão tentar destruir o que de bom existiu no coração daquele religioso. Incluindo a primeira cena de nu masculino frontal num filme mainstream sul-coreano, "Thirst – Este é o meu Sangue" peca por gula. A fome de cenas de sexo e violência podem parecer demasiadas, mas no final há a redenção. Contudo, encontramos os sete pecados mortais em "Thirst": a inveja – o homem que só queria praticar o bem e não consegue; a ira – a raiva que sente e a necessidade de vingança por algo que não controla; a vaidade – o sentimento de imortalidade que um vampiro "pode ter" (uma vez que um verdadeiro vampiro não seria nada bonito de se ver, porque seria parecido com um toxicodependente em último grau); a preguiça – a facilidade com que consegue tudo depois de se transformar em figura das trevas; a avareza – o desejo de ter tudo para ele/ela; e a luxúria – o simples toque num corpo feminino e todas as emoções que isso pode despertar num homem que jurou fidelidade a Deus.

Seja pela polémica de um padre se tornar no maior dos pecadores, seja pela crueldade da vida impossível e condenada à morte que, contraditoriamente, se apresenta, "Thirst – Este é o meu Sangue" deve ser visto. Eles falam todos (ou quase todos) sul coreano, mas as legendas existem para traduzir...


: "Bakjwi/Thirst" (Coreia do Sul, EUA, 2009)
Realização: Chan-wook Park
Argumento: Chan-wook Park e Seo-Gyeong Jeong (baseados num livro de Émile Zola)
Intérpretes: Kang-ho Song, Ok-bin Kim, Hae-sook Kim, Ha-kyun Shin, In-hwan Park
Fotografia: Chung-hoon Chung
Música: Young-ook Cho
Género: Drama, Horror, Romance
Duração: 133 min.
Sítio Oficial: http://www.thirstmovie.com/



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Ficha Técnica Direção: Park Chan-wook Roteiro: Seo-Gyeong Jeong, Park Chan-wook, baseado em romance de Émile Zola Elenco: Kang-ho Song, Mercedes Cabral, Ok-bin Kim, Hae-sook Kim, Ha-kyun Shin, In-hwan Park Fotografia: Chung-hoon Chung Trilha Sonora:...

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