"Unstoppable" por Nuno Reis
Cinema

"Unstoppable" por Nuno Reis


Para mover um comboio é preciso a locomotiva estar afinada e atestada, que por sua vez precisa de um condutor lá dentro (hoje em dia pode ser remotamente) e de linhas montadas à frente. O que costuma ser esquecido é todo o movimento de bastidores. As pessoas que coordenam o tráfego nas linhas, ajustam horários, alertam passagens de nível, transportam carruagens vazias para se ajustarem às necessidades de carga, mudam máquinas e carruagens entre linhas, todo o pessoal de manutenção...
Nas linhas as agulhas, dentro da locomotiva imensos mecanismos de controlo e diversos travões de segurança. Nada é tão simples como parece e o mundo ferroviário é muito maior e complexo do que se imagina.

Dois homens estavam a transportar um carregamento de zinco entre dois pontos. De repente são avisados que um comboio desgovernado vai na sua direcção. A sua prioridade é abrigarem-se. Depois disso vão partir numa viagem suicida atrás do comboio que a companhia ferroviária, a polícia e o exército estão a tentar alcançar, parar ou descarrilar. Se as medidas previstas não detiverem o comboio, eles podem muito bem ser a última esperança da cidade de Stanton. Desenganem-se do que este filme parece ser no trailer, as crianças não estão em risco mais do que dez minutos. O alvo do comboio é uma cidade de quase um milhão de pessoas que tem gigantescos depósitos de combustível numa curva onde um comboio a mais de 30km/h descarrila. E ele está acima dos 120km/h!

Estes homens partem numa missão suicida não por serem pagos para isso - pelo contrário, são ameaçados com despedimento se o fizerem - mas porque é a coisa certa a fazer. Podemos tentar minimizar o feito. Will de momento não tem razões para viver, pretende causar remorsos na mulher? Se Frank com o salário não consegue ajudar as filhas financeiramente, a morte trará algum prémio de seguro? Mas isso são meros esboços de justificações para o injustificável. São dois homens que estavam no local errado à hora errada, sentiram a morte, saborearam a adrenalina e souberam que tinham de fazer algo. Não para salvar a reputação de um empresa (neste caso não lhes diz nada), mas por amor à cidade.
Os nossos leitores talvez se tenham deparado com uma situação do género na vida profissional. O "comboio" está descontrolado, milhares de pessoas em risco e adivinham-se milhões de prejuízo. Os administradores no campo de golfe pensam em poupar, os homens no terreno sabem o que tem de ser feito por instinto adquirido ao longo de muitos anos. Podem respeitar a cadeia de comando, perder tempo, desperdiçar a oportunidade e destruir o trabalho de décadas, ou podem seguir esse instinto, confiar apenas no colega do lado e fazer o que está correcto. Dedicação, experiência, confiança. Este filme é sobre isso.

Talvez por ser inspirado em factos reais o retrato das personagens seja tão verossímil. Will (Chris Pine) chega com uma aura de mistério. Alguns boatos espalhados sobre ele dão-nos uma ideia mais ou menos vaga de que pode ser, ou podem ser todos invenção de uma multidão revoltada com a economia e que o vêem como bode expiatório dos seus males. Frank (Denzel Washington) com quase trinta anos nos comboios não parece tão misterioso, mas tem uma surpresa reservada. Ned (Lew Temple) é a excepção. É tão louco que não pode ser real. Quando a chefe de serviço (Rosario Dawson) lhe pede que desvie um comboio em movimento lento para uma linha secundária o soldador fá-lo com gosto. Quando descobre que o comboio está em aceleração e já lhe escapou, vai persegui-lo de carro. É uma questão de brio profissional.
Bravo pelas personagens. Parecem meros estereótipos, mas com o desenrolar do filme ganham individualismo e simpatia.

Uma terrível sequência de azares despoletou a catástrofe. Um grupo de homens com a filosofia "I'm just doing my job" vai fazer os impossíveis para a evitar. O filme no seu todo é convincente. Tem mais carros destruídos do que era necessário, mas consegue fugir ao mainstream nas pequenas coisas. A realização de Scott atinge o efeito pretendido e o filme acaba por ser uma muito agradável viagem ao incrível mundo escondido dos comboios, disfarçado de filme para as massas. Andar de comboio vai saber melhor depois disto.

UnstoppableTítulo Original: "Unstoppable" (EUA, 2010)
Realização: Tony Scott
Argumento: Mark Bomback
Intérpretes: Denzel Washington, Chris Pine, Rosario Dawson, Lew Temple, Ethan Suplee
Música: Harry Gregson-Williams
Fotografia: Ben Seresin
Género: Acção, Drama, Thriller
Duração: 98 min.
Sítio Oficial: http://www.unstoppablemovie.com/



loading...

- Trágico Acidente No Set De Cinebiografia De Músico
As filmagens de "Midnight Rider", a cinebiografia oficial do músico Gregg Allman, foram suspensas após uma assistente ter falecido na sequência de um trágico acidente, que ocorreu durante o fim-de-semana, quando a equipa estava a filmar uma cena nos...

- Crítica - Unstoppable (2010)
Realizado por Tony Scott Com Denzel Washington, Chris Pine, Rosario Dawson, Kevin Dunn Aquando da sua estreia nos Estados Unidos da América, ?Unstoppable? foi imediatamente catalogado como sendo o ?Speed? do século XXI. Como seria de esperar, Tony Scott...

- Unstoppable - Poster & Trailer
Realzado por Tony Scott Com Denzel Washington, Chris Pine, Rosario Dawson Género - Drama Estreia Mundial - 12 de Novembro de 2010 Sinopse - Denzel Washington interpretar um veterano que juntamente com um jovem maquinista (Chris Pine) tenta impedir o...

- Erupções E Exibições
Nem de propósito esta erupção no vulcão que colocou a Europa em terra. Faz-nos pensar como estamos dependentes de um meio de transporte e do planeta-mãe. A última vez que o espaço aéreo europeu esteve assim tão limitado foi durante a Segunda...

- "transsiberian" Por Nuno Reis
Quis a ironia do destino que Brad Anderson, depois de filmar um inesquecível maquinista, voltasse ao cinema para o mais célebre comboio do mundo. A bordo do transsiberiano, um comboio que vive mais do turismo e curiosidade do que da necessidade de transporte...



Cinema








.