Foi
inventado em 1929, ainda no cinema mudo, mas ficou esquecido e restrito até a
década de 50. No início da década de 40, as pesquisas no campo da tecnologia de
transmissão eletrônica de imagens já haviam chegado, nos EUA, a um grau de
excelência que possibilitou a invenção da TV comercial. Num primeiro momento,
este avanço não chegou a incomodar, mas já na década de 50, a TV representou
para o cinema a inclusão de um concorrente direto e potencialmente promissor, e
cuja consequência mais próxima seria sua extinção.
Levando-se
em conta que o cinema era uma das maiores fontes de renda americanas, a
televisão punha-se como um rígido anteparo ao avanço das produções em película,
tanto pela comodidade de assistir filmes pelo aparelho de TV quanto pelo custo menor
de uma produção eletrônica. Como em ambos, o interesse comercial era
proeminente, a saída que os grandes estúdios encontraram foi a criação de
sistemas impossíveis de serem reproduzidos em toda sua grandeza e magnitude
pela TV. Em outras palavras, transformar o cinema num espetáculo
insubstituível. Um deles foi a cor, outro, o som estereofônico e quadrifônico,
e ainda outro, a retomada dos grandes formatos.
Surgiu
daí o conceito de grande produção e da volta da bitola de 70mm. E, de fato, era
realmente impossível reproduzir a experiência proporcionada pela sala escura
numa projeção em 70mm, dada a qualidade da imagem e do som, que ainda hoje nenhuma
outra bitola, tanto em película como em vídeo, jamais alcançou.
O
70mm representou o auge do cinema espetáculo nas décadas de 50 e 60 (a era dos
grandes estúdios e das grandes estrelas) e as projeções de 70mm em telas gigantescas, sem dúvida, fizeram o cinema triunfar como indústria
sobre a televisão, numa época em que a tecnologia eletrônica ainda era muito
limitada.
Mas,
mesmo hoje, com todo o aparato de vídeo de alta definição e avançados
equipamentos, o 70mm ainda se afirma como o mais contundente espetáculo visual
já criado, por uma razão muito simples: conforme se pode perceber na imagem acima, o 70mm é uma bitola com o dobro da largura do 35mm, e seu formato de
1:2,20 representa entre 3 e 4 vezes a área útil de um fotograma 35mm. Disso
decorre a projeção de uma imagem extremamente nítida, de uma riqueza de
detalhes impressionante e com possibilidade de ampliações muito maiores, sem
perda de qualidade. A isso, acrescenta-se também o som quadrifônico, que em relação ao 35mm convencional, que, na época, era estéreo,
permitia a inclusão de duas pistas de som a mais, e fazia do 70mm uma
experiência extasiante.
E
por que não se produzem mais filmes em 70mm? Porque são extremamente caros, com
equipamentos muito maiores e cujo orçamento multiplica-se vertiginosamente em
relação ao 35mm. Por este motivo, mesmo os filmes produzidos em 70mm são, na
maioria, grandes épicos, cuja temática, evocando arquétipos heroicos de grandes
personagens e histórias marcantes, garantiriam, na pior das hipóteses, um
retorno aos milhões investidos nestes filmes. E, com efeito, os filmes mais
caros da história foram estes, como Ben-Hur (William Wyler,
1959), Cleópatra (Joseph Mankiewicz, 1963 ? provavelmente o
mais caro filme já produzido), Os Dez Mandamentos (Cecil B. de
Mille, 1956), El Cid (Anthony Mann, 1961) ou mesmo 2001
- A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968).
Atualmente,
o 70mm ainda encontra espaço em produções com fins científicos ou
entretenimento puro, como é o caso do IMAX, que se utilizava da bitola deitada (agora a projeção IMAX é digital).
Mas
a experiência de assistir a um destes filmes em 70mm levou muitos empresários a
manter um arquivo de cópias em 70mm, principalmente na Europa e nos EUA, e que
são exibidas periodicamente em salas específicas. Mesmo filmes produzidos
originalmente em 35mm, como Star Wars ou Indiana Jones,
também ganharam cópias ampliadas em 70mm, claro, sem a mesma qualidade, mas
ainda assim sendo uma grande experiência.
65mm
Outro aspecto deve ser abordado em relação ao 70mm. Embora seja comum se
referir a ele como 70mm, esta é na verdade a bitola de EXIBIÇÃO, e não a de
CAPTAÇÃO. Isso se deve a motivos práticos. Os 5 mm (2,5 de cada lado) que se
apresentam após a perfuração são dedicados às bandas sonoras magnéticas da
cópia. Como não há registro do som na câmera, não é necessário este espaço
depois da grifa e dos rolos de tração das câmeras. Portanto, a bitola das
câmeras é 65mm, que são copiados numa bitola de 70mm para projeção. Dependendo
do sistema utilizado, esta cópia pode ser ampliada, reduzida ou anamorfizada,
como nos sistemas Panavision e Todd-AO.
Formatos
para Bitola de 65/70mm
Janela
1:2,20 (1,912" x 0,870") ? Formato Standard
Janela 1:2,35 (1,912" x 0,816") ?
Formato anamórfico antigo (até
década de 70)
Janela 1:2,40 (1,912" x 0,797") ? Formato anamórfico moderno
Entretanto,
mesmo com tais recursos, o custo de uma produção desta magnitude era inviável
para a maioria dos estúdios, de tal maneira que foi necessária a criação de
sistemas alternativos. Tais sistemas, os formatos especiais, simulam diferentes
formatos numa mesma bitola, ao ponto de permitir, com algumas restrições
técnicas, um formato próximo à proporção do 70mm numa bitola de 35mm.
Parte
do texto ?Bitolas e formatos no cinema?, de Filipe
Salles.
Novo filme de Tarantino será exibido em 70mm
O próximo filme de Quentin
Tarantino já tem data marcada. Segundo a Weinstein Company, o lançamento de "Os Oito Odiados" está previsto para 25 de dezembro nos
Estados Unidos e vem com novidade: o faroeste ambientado no pós Guerra Civil
será exibido, durante duas semanas, em formato 70mm. A ideia é distribuir as
cópias digitais somente a partir de 8 de janeiro. No Brasil, o longa terá
distribuição da Diamond, ainda sem data de estreia, e deve ser lançado direto
no formato digital, devido à inexistência de salas com projeção nessa bitola.
A decisão radical de explorar o 70mm, hoje uma
raridade nos cinemas do mundo, foi do próprio diretor, famoso defensor da
película. Esse não é o primeiro lance polêmico envolvendo o projeto. Em 2014, ainda em fase de
desenvolvimento, Tarantino assistiu ao vazamento de seu roteiro original, que
logo depois foi publicado no site Gawker.
Depois de promover uma leitura pública do script, o cineasta chegou a
desistir do filme, mas voltou atrás e decidiu retomar o trabalho após mudanças
drásticas na história. Samuel L. Jackson, Kurt Russel, Jennifer Jason Leigh,
Walton Goggins, Demian Bichir, Tim Roth, Michael Madsen e Bruce Derne estão no
elenco principal.
Texto publicado no Portal Filme B, em 12/06/2015.
Leia,
também, o texto ?Cinemas de rua com 70mm?, de Paulo Roberto Elias.
Conheça
tudo sobre o formato 70mm no site ?In70mm.com?.
Abaixo, antigas exibições em 70mm na cidade de São Paulo :
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