Estúdio: Agat Films & Cie / Ex Nihilo / France 3 Cinéma / Les Films de la Belle de Mai
Duração: 107 minutos
País: França
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião
?As Neves do Kilimanjaro? apresenta-se como o novo filme do diretor francês Robert Guédiguian (de ?A Cidade Está Tranquila?, ?Armênia?, ?Marie-Jo e Seus Dois Amores?), conservando a característica questionadora e humanizada do cineasta e a narrativa francesa. A abordagem política é recorrente em seus filmes, que se explica por ser filho de um trabalhador nas docas de Marselha, e por isso ter se envolvido no Partido Comunista Francês. Quando digo que há reiteração da estética cinematográfica é por causa do elemento realista de cotidiano. As ações e diálogos buscam o estado natural de ser, o mais crível possível, dentro do gênero discutido, que também explora reações com drama e exagero, desejando aparentar uma máscara fictícia ? e propositalmente perceptível ao espectador ? por trás de uma fragilidade contrastada, pelo simples fato dos personagens saberem exatamente o que precisam fazer. Outra característica é a escalação de alguns atores na maioria de seus filmes, como por exemplo, Ariane Ascaride e Jean-Pierre Darroussin (também de ?O Porto?, ?O Gosto dos Outros?). Esse recurso, aliado a outros do elenco, Grégoire Leprince-Ringuet (de ?A Bela Junie?, ?Buraco Negro?, ?Anjo da Guerra?), Anaïs Demoustier (de ?A Bela Junie?, ?Thérèse D?), gera a cumplicidade interpretativa, corroborando a naturalidade já mencionada. O roteiro aposta e acredita na inteligência de quem assiste. Já de início, insere elementos reais como já conhecidos, ocasionando a surpresa e necessidade de se formar um quebra-cabeça simples ao longo da trama. A política é questionada, trabalhando os elementos de resignação, utopia, cansaço, necessidade, vigor adolescente, levantando o embate entre burguesia e classe trabalhadora, ao colocar um no lugar do outro.
?A luta é uma coisa de classe?, lê-se no muro, com música inglesa e nostálgica. Dessa forma, aprisiona o momento passado, de tentar modificar o mundo capitalista, mas sem datá-lo, porque este encontra atualidade no universo comportamental dos jovens. A narrativa equilibra-se no clichê superficial, propositalmente para mostrar as ideias ?ultrapassadas? da luta política, e na realidade bruta da alienação social. ?É um homem como os outros. É fraco. Um homem comum?, os parentes analisam um dos personagens, metaforizando a fraqueza pela conservação radical pela mudança social do país. A nostalgia é algo desejado, tanto que a trilha sonora da festa de comemoração de bodas de casamento é regada aos anos oitenta, aludindo aos tempos áureos do protagonista, se é que podemos chamá-lo assim, mesmo dividindo atenção com outros tão importantes quanto. É aí, que vem o entendimento adjetivado. Sonhava em ser um super-herói, herói da política classista pelo sindicato, recitando inglês em trechos de música que possui o fragmento ?As neves do Kilimanjaro?, sem perder a ?ternura?, quando diz ?Inglês é a língua dos colonizadores?. O casal homenageado recebe dinheiro para viajar. Logo depois, um assalto acontece. O dinheiro é roubado. Então, todo questionamento sobre a ética e sobrevivência aprofunda-se. ?Ele leva o passado e o presente?, diz-se. O trauma é instaurado, o alimento Nutela é uma iminente possibilidade. Para resolver um problema, estraga outro. O maniqueísmo é posto a prova, expondo que é inevitável não ser burguês no mundo de hoje. Roda-se numa bola de neve. O sistema une. A vingança acontece. A culpa acomete.
A violência é despertada, e revidar é preciso, por causa das ofensas, insultos. ?A crise são eles, a solução somos nós?, argumenta-se, expondo mais uma vez a dificuldade de ser sindicalista na época atual, enquanto a música de Joe Cocker, ativista que prezava pela paz e amor no movimento Woodstock, rasga a cena fazendo que o espectador pensasse na frase clássica de Jean-Paul Sartre, ?O Inferno são os outros?. O casal, junto com o casal de amigos, tenta entender, envolvendo-se nos problemas do causador destes questionamentos. Na televisão, ?O Velho e o Mar?, referencia sutil ao livro homônimo, ao título do filme em questão aqui, que Ernest Hemingway escreveu. Ser burguês é ajudar os outros, porque já se tem o dinheiro. A ética briga com o subjetivismo, gerando analises realistas e existencialistas da vida. ?O zoológico está aqui mesmo?, finaliza-se, explicando que houve inspiração num poema de Victor Hugo chamado "Os Pobres", uma verdadeira declaração humanista de amor ao próximo, sem qualquer ingenuidade ou pieguice. Concluindo, um filme necessário e obrigatório aos marxistas e capitalistas convictos. O filme ao qual os irmãos de Marie-Claire e Christopher estão assistindo na TV é As Bicicletas de Belleville (2003). Ganhou Melhor Filme e Melhor Filme - Júri Popular no Festival De Valladolid 2011. Em 2012, foi indicado ao prêmio César de Melhor Atriz (Ariane Ascaride). Recomendo.
Trailer Oficial Legendado
O Diretor
Robert Guédiguian Jules, nascido em 03 de dezembro de 1953 em Marselha, estreou como diretor com ?Último Verão? (1981). A partir de então, dirigiu vários longas, entre eles ?À Vida, à Morte!? (1995); ?Marius and Jeannette? (1997); ?A Cidade está Tranquila? (2000); ?Marie Jo e seus Amantes? (2002); ?O Último Miterrand? (2005); e ?Armenia? (2006).
- Cineastas, Do Nosso Tempo: Jean-luc Godard
?Jean-Luc Godard ou o cinema desafiado? integra a mostra Cineastas, do Nosso Tempo, da Caixa Cultural do Rio de Janeiro. O documentário, por Hubert Knapp, faz um retrato do cineasta francês, intercalando reportagem sobre o realizador em questão,...
- Crítica: O Garoto De Bicicleta
Ficha Técnica Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc DardenneRoteiro: Jean-Pierre Dardenne, Luc DardenneElenco: Thomas Doret, Cécile De France, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Egon Di Mateo, Olivier Gourmet, Batiste Sornin, Samuel De Rijk, Carl Jadot,...
- Potiche: A Esposa Troféu
Ficha Técnica Diretor: François Ozon Roteiro: François Ozon, baseado em peça teatral de Pierre Barillet e Jean-Pierre Grédy Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard, Judith Godrèche, Jérémie Renier, Sergi López...