Sempre que se pensa que no cinema tudo já foi dito sobre a ditadura militar, outras abordagens chegam para mostrar que ainda há muita sujeira embaixo do tapete. Cidadão Boilesen trata, principalmente, da participação do empresariado brasileiro no golpe e na manutenção do poder militar.
Para chegar à questão, o diretor Chaim Litewski elege uma das figuras do alto-empresariado da época e decide contar sua história a partir de uma rua que, mesmo sem que seus moradores saibam exatamente o porquê, leva o nome do tal sujeito.
Henning Albert Boilesen era dinamarquês de nascença, naturalizado brasileiro e presidente da Ultragás. Ele é acusado por militantes revolucionários de financiar a Operação Bandeirante, que deu origem aos temidos e sanguinários DOI-CODI, e de estar presente em várias sessões de tortura.
A história chega até a execução do empresário, a tiros, por dois movimentos de esquerda da época.
Com um excelente trabalho de pesquisa, que durou mais de quinze anos, o filme mescla depoimentos de colaboradores civis e militares, amigos, familiares e até de um dos militantes envolvidos na morte de Boilesen com fotografias e imagens resgatadas daquele momento histórico.
Sem se perder no ritmo e sem cair nas armadilhas de documentários que apostam nessa linguagem, Cidadão Boilesen cresce na medida certa e sabe como terminar bem. Sem apelar para o didatismo e sem forçar a barra, o filme constrói uma relação com quem o assiste e consegue alcançar um público bem diversificado.
A história contada, como todos sabemos, é triste, mas é fundamental e demonstra que tudo aquilo que acontecia não era, como se diz, militar. Muitos civis influentes, vários deles citados no filme como Amador Aguiar e Sebastião Camargo, foram tão ou mais responsáveis pelas torturas e pela perseguição da época.
Um jornal, que hoje se diz ?plural? e que classifica a passagem histórica como ?ditabranda? também é citado como colaborador do esquema e, do lado dos que não quiseram participar daquele absurdo, só sobram Antônio Ermírio de Moraes e José Mindlin.
A maioria dos depoimentos acusa Boilesen e só mesmo seu filho parece sair em sua defesa, o que pode deixar a sensação de que o filme é parcial, mas, na verdade, demonstra uma outra qualidade do documentário, que descobre esse homem como um ser que tem seu lado obscuro e nem sempre é aquilo que aparenta ser.
Além de ser uma aula de história, é um curioso estudo sobre estas faces ocultas do ser humano
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