Cinema Black ou Baxploitation
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Cinema Black ou Baxploitation


Cinema Black ou Baxploitation


Nildo Viana


O documentário Baadasssss Cinema (Isaac Julien, EUA, 2002), retrata o fenômeno do cinema "negro" (black ao invés de noir, os filmes de gangsters em vigência nos anos 1930 nos EUA), também chamado baxploitation, que surgiu nos anos 1970. Para quem tem acesso ao TCM, canal pago, às sextas do mês de setembro poderá ver alguns dos filmes deste período. Filmes como Shaft (1971); O Chefão de Nova York (Black Caesar, 1973), entre outros que serão exibidos [1].

O significado do que se convencionou chamar baxploitation é confuso. Não é possível qualifícá-lo como um "gênero" e nem mesmo como um "quase gênero". A não ser que se descarte grande parte dos filmes da época. Por exemplo, o foco em sexo e ação (e violência) é o forte de alguns, mas o "terror" (mas pela má qualidade se poderia falar em "humor") fazia parte do período. Assim, se dividir em tendências distintas, é possível ver alguma unidade (além dos personagens, atores, e, em muitos casos, os diretores, serem negros, o que é uma constatação superficial e que não tem utilidade analítica para o conteúdo dos filmes). Caso contrário, dizer que Shaft e Black Caesar poderia ser considerado do mesmo "filão" que Coffy, Black Gestapo, ou, pior ainda, com Blacula (1972), Blakenstein, Dr. Black e Mr. Hide, entre outros (abaixo trailers de alguns destes filmes).









O fenômeno, na verdade, se caracteriza pelo uso de personagens, atores e cultura negra para produzir filmes, alguns puramente comerciais. A origem de tudo, como se pode verificar pelo documentário, ocorre com o filme Sweet Sweetback's Badaaass Song, dirigido por Melvin Van Peebles (EUA, 1971), pai de Mario Van Peebles, diretor de Os Panteras Negras (EUA, 1995) e A Vingança de Jessie Lee (Eua 1993), filmes mais politizados que abordam a questão racial. 



O filho seguiu a trilha do pai e o filme de Melvin, segundo o próprio diretor em entrevista apresentada no documentário, mostra que havia uma intenção política em Sweetback, apesar do seu apelo sexual, que não era gratuito, mas cujo aparecimento parece, segundo se deduz da entrevista, do seu caráter atrativo. Esse filme independente e sem grandes recursos foi um sucesso de bilheteria junto à população negra e por isso acabou despertando o interesse do capital cinematográfico. Daí se iniciou o que alguns ativistas negros chamaram "baxploitation", exploração dos negros. Um famoso ator negro dá entrevista no documentário dizendo que não sabia o que estes ativistas chamavam de "exploração do negro", pois diretores e atores recebiam seus salários, todos estavam recebendo, onde estaria a exploração. O ator desavisado deveria ter entendido que se trata de exploração da imagem do negro e não exploração "econômica".



E nesse sentido os ativistas tinham total razão. O capital cinematográfico explorou a imagem e o público negro e não só fez isto como foi um dos agentes da contra-revolução cultural preventiva iniciada nos anos 1970, no período de crise do regime de acumulação intensivo-extensivo, e abrindo caminho para a hegemonia pós-vanguardista na arte e pós-estruturalista nas ciências humanas [2]. A estratégia desta contrarrevolução cultural era a de resgatar temas das lutas sociais do final dos anos 1960 (e a luta dos negros nos EUA, que assumiu várias formas e teve como uma de suas expressões mais radicais a luta dos Panteras Negras) e início dos anos 1970 e despolitizá-las e retirá-las da totalidade (ou do "contexto político", como diz um entrevistado no documentário).

Porém, seria necessário uma análise mais totalizante de tal produção cinematográfica, principalmente vendo as diferenças entre os diversos filmes e tipos de filmes que são associados ao "cinema black", pois existem brechas no capital cinematográfico e suas contradições podem ter permitido produções fílmicas relevantes ao lado das irrelevantes, bem como os filmes inspiradores e as cópias comerciais. Além disso, o seu significado, com a consideração das devidas diferenças, para a luta dos negros norte-americanos (e fora dos EUA), bem como seus efeitos culturais e psíquicos. Porém, no mesmo momento em que surgiu o super-herói Pantera Negra nos quadrinhos, tudo isto mostra, mais uma vez, que, ao contrário da ideologia dominante e dos modismos voluntaristas e individualistas, nada foge da história e das relações sociais concretas.

[1] - Para ver a programação completa, clique aqui.
[2] - Sobre isso: VIANA, Nildo. O Capitalismo na Era da Acumulação Integral. São Paulo, Ideías e Letras, 2009.




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