Como é Que a Polémica do Festival da Canção Está Relacionada Com o Cinema Português?
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Como é Que a Polémica do Festival da Canção Está Relacionada Com o Cinema Português?



Já se sabe que o Eurovision - Festival da Canção da Europa já não tem o poder e o impacto que teve no passado e, após um ano de interregno que não parece ser causado grande convulsão social, Portugal e a RTP1 decidiram voltar a participar no Eurovision e, a julgar pelas ondas de contestação, se calhar a RTP1 deveria ter ficado quieta e deixar o Festival da Canção de vez. Sou um adepto da Eurovision, porque apesar de já ter apanhado o seu tempo de decréscimo de popularidade, o tipo de concurso que é sempre me fascinou, porque sempre achei curioso ver a Europa em despique directo no palco e, por vezes, ficava muito contente quando reconhecia alguns dos artistas que alguns países enviavam para lá, mas o que sempre mais me agradou era descobrir algumas pérolas que ficavam no ouvido, como por exemplo a canção finlandesa "Hard Rock Hallelujah", que venceu a Eurovision em 2006. E recordo que Portugal também já enviou no passado algumas músicas que ficam no ouvido, por exemplo, quem não se lembra da balada "Um Grande Amor", de José Cid, que não é claramente do meu tempo, mas que sempre ouvi por influência das gerações mais velhas, ou então num passado recente, já no meu tempo, aquela música "Senhora do Mar", que até conseguiu uma excelente pontuação e devolveu algum brilho a Portugal, que infelizmente ainda ostenta o desonroso título de país com mais participações e sem qualquer vitória.
Este ano, Portugal vai voltar a ficar pelas semi-finais e a deixar má imagem na Europa, já que a música escolhida é, muito provavelmente, a pior coisa que Portugal enviou para a Eurovision, sim bem pior que a participação dos Homens da Luta em 2012, ou a participação de Sabrina em 2007, se bem que esta última até pode ser considerada igualmente má, afinal de contas quem escreveu essa música também foi o cantor pimba Emanuel, que também compôs a tão horrível "Quero Ser Tua", que tanta contestação tem causado nas redes sociais, porque tem sido classificada como a pior música que estava a concurso, mas que mesmo assim conseguiu ganhar. É claro que isto tem dado azo a alegações fortes de manipulação de voto que não importam aqui discutir devido à falta de provas, mas devo confessar que também não me conformo, porque me custa horrores ler na imprensa estrangeira que a canção que Portugal vai enviar para a Eurovision em 2014 é, claramente, a mais fraca de todas as já seleccionadas. E se Portugal ficar de fora da Final, espero que não venham criticar ou atacar o Sistema de Voto, porque vamos ser francos, é uma desculpa fraca para este caso, agora se quiserem aplicar a outras situações verdadeiramente injustas estejam à vontade, agora não o usem para justificar a não escolha de uma música que até o programa Você na TV da TVI goza em direto sem qualquer mágoa.
E o que é que a Eurovision tem a ver com o cinema? Pois bem, gostava de aproveitar a polémica escolha pimba de Portugal para a Eurovision 2014 para criar um paralelismo com o atual estado do cinema português. A poucas semanas da estreia comercial de "Sei Lá", a adaptação cinematográfica do homónimo romance de Margarida Rebelo Pinto, que já se avizinha um enorme desastre, sinto uma poderosa necessidade de analisar com muito cuidado o rumo que Portugal está a seguir nas suas opções culturais. Já não falo dos programas pimba da televisão, já aqui muito discutidos, e não me parece ser pertinente bater mais no ceguinho da Eurovision, mas vale a pena sim falar no cinema português, que está a passar por uma fase de qualidade muito duvidosa. 
É verdade que Portugal ainda lança alguns bons filmes nos cinemas ou nos festivais, como o ainda inédito "Pecado Fatal", mas filmes como este nunca têm ou terão uma grande distribuição cinematográfica, como aliás podemos observar pelas passagens breves e limitadas de filmes elogiados como "Tabu", "O Gebo e a Sombra" ou "A Batalha de Tabatô" pelas salas de cinema portuguesas. O problema é que, cada vez mais, projetos como estes são mais raros, porque não há dinheiro para investir neles, mas também porque uma nova onda de filmes rentáveis têm estado em evidência no nosso país. Se retirarmos da equação o blockbuster " A Gaiola Dourada", que não merece entrar nesta discussão porque, para todos os efeito, é uma produção francesa, então chegamos rapidamente à conclusão que, nos últimos tempos, apenas um punhado de filmes portugueses é que tiveram uma ampla distribuição no circuito comercial e, sem surpresa, todos esses filmes são dotados de uma qualidade imensamente pobre e negativa que desonra o cinema português, como é o caso de obras tão pouco memoráveis como "Eclipse em Portugal", "RPG", "7 Pecados Rurais", "4ª Divisão" ou "Balas e Bolinhos 3". 
É pena que assim seja, porque apesar de acreditar que filmes como esses também merecerem o seu espaço nas nossas salas, não podem nunca monopolizar o mercado português, impedindo-o assim de crescer e apoiar outros géneros. É claro que todos os gostos são bem-vindos e não devem ser contestados, por isso não contesto o facto de filmes como "7 Pecados Rurais" ou "Balas e Bolinhos 3" terem sido sucessos de bilheteiras, agora já contesto a ideia que só projetos como estes é que devem ser lançados em múltiplos cinemas só porque vão fazer dinheiro, ou que se deve apoiar filmes como estes porque irão dar lucro. São ideias perigosas que podem perpetuar o género de paródia e estupidez nas produções portuguesas, e retirar espaço ao chamados filmes de autor que nunca farão dinheiro, mas que sempre ajudaram Portugal a estabelecer uma identidade bem própria no interior e exterior. Eu passaria bem sem filmes como "7 Pecados Rurais", mas há quem goste e se ajudarem a dar dinheiro às produtoras para investirem em outros projetos superiores, então tenho que aceitar o plano, agora peço que não foquem apenas esforços numa indústria de filmes ditos comerciais, já que Portugal também deve manter a sua indústria de filmes de autor, que tanto tem feito pelo nosso país no estrangeiro. Tem que se continuar a apostar neste tipo de filmes, podendo na mesma as produtoras e o público continuarem investir em outros projetos mais dúbios para assim existir uma espécie de balanço comercial e financeiro no estado do cinema. Mas querem mesmo que "Balas & Bolinhos 3" seja a imagem de marca do nosso cinema? É porque atualmente é essa a ideia que passa se alguém analisar o IMDB e ver que esse filme é a produção portuguesa mais cotada, quando noutros países a produção mais cotada é um clássico ou um filme de elevado nível.



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