Cinema
Crítica - 45 Years (2015)
Realizado por Andrew Haigh
Com Charlotte Rampling, Dolly Wells, Tom Courtenay
Não há qualquer dúvida que as sublimes performances de Tom Courtenay e sobretudo de Charlotte Rampling são ilustres pontos positivos de "45 Years" e serão até, porventura, os exemplos mais vistosos e mediáticos da sublime e delicada qualidade desta obra. É certo que os elogios às enormes performances destes dois veteranos são mais que justas e devem ser evidenciados, mas podem ofuscar injustamente a real qualidade deste poderoso drama matrimonial que se destaca para mim como um exemplo de elevado calibre de um tipo de cinema mais adulto, delicado e nitidamente menos dado ao comercialismo.
É para mim um daqueles filmes de qualidade certificada e de certa forma anunciada, mas admito que para surtir os efeitos desejados deve ser encarado com a devida cautela, já que não é um filme popular ou simples. Não se deve portanto ir vê-lo completamente às cegas, porque tendo em conta as suas especificações mais paradas e subjetivas poderá não agradar a todo o público. Os que se informarem e aceitarem o seu desafio, então já entrarão para o seu visionamento com uma certa expectativa positiva que será certamente corroborada por um sentimento de realização positiva no seu final. E tais expectativas positivas começam a forma-se de imediato após ser conhecida a sua premissa. Esta expõem habilidosamente o enfoque desta obra, onde a magistral Charlotte Rampling, que acredito piamente que possa ambicionar ao Óscar de Melhor Atriz, interpreta com um profissionalismo irrepreensível o papel de Kate Mercer, uma mulher já idosa que está a planear o seu 45º Aniversário de Casamento. Tal celebração de suposto entretenimento e comoção é drasticamente afetada quando o seu marido, Geoff (Tom Courtenay), recebe uma carta que o avisa que o corpo do seu primeiro amor foi encontrado congelado no meio dos Alpes Suíços. A partir deste ponto crasso a estrutura emocional dos dois é seriamente abalada e dá-se início a uma curioso drama matrimonial entre ambos que, no decurso de cinco dias, põem em evidencia as fraquezas de ambos e da sua própria união.
Tal como se percebe não estamos perante um filme simples de ver ou analisar. Para muitos espectadores, "45 Years" até pode ser um filme aborrecido e cansativo, já que a ação dramática praticamente não existe e a emoção subjacente à história não é propriamente expressiva e objetiva. É perfeitamente compreensível que "45 Years" não seja uma produção para todos os gostos, porque efetivamente requer um certo estado de espírito conjugado com uma certa determinação para que o espectador em causa possa apreciar devidamente todos os seus recantos dramáticos. Se reunir estas condições, então não ficará desiludido. A sua história analisa e disseca um casamento estável que, perante um evento inesperado, parece cair por terra, demonstrando na perfeição que tudo é eterno até morrer. O filme nunca conclui objetivamente a história nem dá um desfecho certo ao casal, mas dá-nos a entender que nada será como era antes do inicio da derrocada. E tal derrocada é analisada de forma progressiva e sempre muito subjetiva no espaço de cinco dias.
O inicio de tal queda começa por disfarçar a sua eventual dimensão, mas com o passar dos dias e o aumento das reações de Kate à posição irritante e desoladora de Geoff, então fica efetivamente delineado uma real crise matrimonial e até existencial que deve ser acompanhada com a máxima atenção. A sua idealização e desenvolvimento são sublimes. Esta nunca é forçada ou básica. É sim sempre pautada por um forte sentimento de realismo e dureza emocional que leva o espectador a entrar a pés juntos no drama de uma vida desta simpático casal, cuja história de amor duradoura revela-se uma ilusão provocada por mentiras e más decisões. A forma como Kate vive este seu drama é retratada de uma forma, repito, sublime. É difícil apontar outro adjetivo à demonstração subjetiva de emoção e drama de uma mulher que luta para esquecer a traição moral do seu marido. Este também denota uma construção muito real, mas não tão forte e sentimental como a de Kate que, por tudo o que representa, recolherá inevitáveis sentimentos de compaixão junto de qualquer espectador mais sentimentalista. Estas duas personagens têm por detrás, para além de um enredo muito bom, dois experientes atores que assumem os seus dramas com muita personalidade e paixão. São eles que expressam os seus dramas de uma forma inexplicavelmente atenta e cuidado, conferindo assim uma maior proximidade dramática e humana a uma história de amor e desilusão tecnicamente subjetiva mas sentimentalmente objetiva.
Classificação - 4,5 Estrelas em 5
loading...
-
Top 10 - Os Dez Melhores Filmes De 2015
O ano de 2015 já terminou e chegou por isso a altura de escolher aqueles que foram, no meu entender, os Melhores Filmes de 2015. Eu relembro que esta lista versa apenas sobres os filmes que estrearam nas salas de cinema portuguesas entre Janeiro e Dezembro...
-
Estreias Da Semana - 31 De Dezembro
A Rapariga Dinamarquesa Realizado por Tom Hooper Com Eddie Redmayne, Alicia Vikander Género - Drama País de Oirgem - EUA Sinopse - A imponente e comovente jornada de Wegener e da sua mulher, Gerda (Alicia Vikander), numa pioneira viagem...
-
Crítica - The Danish Girl (2015)
Realizado por Tom Hooper Com Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Amber Heard O Mundo e Hollywood depositaram fortes esperanças em "The Danish Girl" desde que este projeto foi anunciado. E tais esperanças foram motivadas e incrementadas graças a uma ampla...
-
Crítica - Southpaw (2015)
Realizado por Antoine Fuqua Com Jake Gyllenhaal, Rachel McAdams, Forest Whitaker Em tempos houve quem visse potencial em "Southpaw" para entrar na lista dos melhores filmes de 2015. Não se pode atacar ou criticar tal perspectiva, já que no...
-
Drops Do Vertentes: Os Melhores Filmes Do Ano
TOP 10 ++ * MEIA NOITE EM PARIS * INQUIETOS * TUDO PELO PODER * MELANCOLIA * MEDIANEIRAS * O PALHAÇO * MÃE E FILHA * AMANHÃ NUNCA MAIS * TRANSEUNTE ...
Cinema