Crítica - Foxcatcher (2014)
Cinema

Crítica - Foxcatcher (2014)


Realizado por Bennett Miller 
Com Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo 

As performances competentes do trio de protagonistas formado por Steve Carell, Channing Tatum e Mark Ruffalo são o único real apelo de qualidade de "Foxcatcher", um drama criminal baseado numa história real que, apesar das elevadas expectativas, mostra-se incapaz de ser tão negro e sugestivo como se esperava, aliás "Foxcatcher" pode mesmo ser classificado como um retrato desapontante e algo incompleto da complexa intriga que envolveu os Irmãos Schultz e o milionário Jon Du Pont. 
Essa história começou em 1987, quando Mark Schultz, lutador olímpico de luta livre premiado com uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, foi convidado pelo milionário John du Pont para se mudar para a sua luxuosa propriedade, onde du Pont planeava formar e treinar uma equipa de luta livre para os Jogos Olímpicos de Seul de 1988. Schultz, que na época passava por apertadas dificuldades económicas, aproveitou a oportunidade, ansioso também por sair da gigante sombra de Dave Schultz, o seu irmão mais velho, um respeitado treinador de luta livre, também ele medalhista olímpico nos Jogos Olímpicos de 1984. A parceria entre Mark e du Pont deu alguns frutos iniciais, mas a personalidade esquizofrénica de du Pont e os seus jogos psicológicos começaram a pesar sobre a instável auto-estima de Mark, minando as suas performances e à perda de confiança entre ambos. Um pouco mais tarde, du Pont contrata Dave Schultz para se juntar à Equipa Foxcatcher, algo que rompeu definitivamente a ligação de Mark com du Pont e deu início a uma trágica parceria que culminou na morte de Dave.


Por este resumo pode-se perceber que esta história real tinha o potencial obscuro e criminal para dar origem a um thriller humano bastante empolgante e espetacular, onde as profundezas de sentimentos negros e perigosos como a ambição e o ciúme poderiam ser exploradas com um interessante pormenor dramático e criminal, mas o que é certo é que tal abordagem não foi aplicada com o devido respeito ou potencial. Embora aprofunde com um certo detalhe a complexa relação triangular que se estabelece entre os três protagonistas, "Foxcatcher" nunca consegue ir além do óbvio nem aposta numa abordagem mais negra, crua e polémica da estranha relação que se estabelece entre o inseguro Mark e o esquizofrénico du Pont, aliás estas duas personagens que tinham tanto sumo de compexidade emocional e extravagância humana para ser espremido, acabam por ser muito poupadinhas em termos emocionais por um guião que restringe o seu retrato pessoal ao mínimo necessário para passar as mensagens essenciais sobre o sufoco emocional e humano que marcou a sua complexa ligação pessoal. Esta crítica estende-se à pobre caracterização pessoal de Dave Schultz, cuja longa e complexa relação com du Pont nunca é devidamente vincada, tal como nunca é devidamente vincado o seu retrato individual. Esta gigante falha faz com que o clímax do filme perca muito do seu possível impacto, aliás com isto "Foxcatcher" perde muito do seu ímpeto criminal e todo o seu suspense, porque embora parte da intriga que rodeou a história real seja abordada com alguma qualidade, a parte criminal da história acaba por ser atirada para um plano mais secundário e, graças a isso, é abordada com uma ligeireza tremenda que não rentabiliza a riqueza total desta intriga. 
O que salva "Foxcatcher" é a primeira parte do filme, que explora com o valor esperado mas, no entanto, sem o pormenor expectável, a difícil relação entre Mark e du Pont, mas a partir do momento que esta relação se deteriora, esta obra perde todo o controlo e interesse, muito por culpa da sua incapacidade de apresentar convenientemente a personagem Dave Schultz e de explorar todos as negras complexidades da sua relação com du Pont, uma personagem que, devido às suas potencialidades, acaba por ser muito mal aproveitada nesta obra, mas não por culpa da interpretação de Steve Carell que, aqui, aparece num apontamento diferente do habitual mas entrega-nos, ainda assim, uma interpretação muito positiva e verdadeiramente poderosa. As performances de Tatum e Ruffalo, nos papéis dois Irmãos Schultz, também são muito competentes, mas Carell é claramente o grande destaque do elenco, apesar da sua personagem não ser tão grandiosa como poderia ter sido, aliás este é o problema crasso de "Foxcatcher", um filme que poderia ser muito melhor do que aquilo que é, mas que desilude no que mais importa.

Classificação - 3 Estrelas em 5



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