Crítica - O Complexo de Baader Meinhof (2008)
Cinema

Crítica - O Complexo de Baader Meinhof (2008)


Realizado por Uli Edel
Com Bruno Ganz, Johanna Wokalek, Martina Gedeck

Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha viveu um período de enorme instabilidade política e financeira provocada pela sua divisão entre os mundos capitalista e comunista. Durante essa fatídica época, foram vários os movimentos radicais que ameaçaram a frágil democracia do lado Ocidental, entre esses grupos encontrava-se a RAF (Red Army Faction/Baader-Meinhof Group), uma facção inspirada na ideologia comunista, que também apresentava nos seus meios traços da perigosa e radical ideologia Nazi. Esta explosiva combinação originou um grupo extremamente violento e sangrento que se destacou dos demais grupos radicais devido à enorme brutalidade das suas acções. Entre 1968 e 1998, as acções do grupo semearam o pânico e a insegurança por todo o território Alemão Ocidental, através de ataques bombistas e frios assassinatos. À frente desta facção estava uma tríade composta por Andreas Baader, Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin que fundaram este grupo com o intuito de libertar a Alemanha das garras capitalistas e opressoras dos EUA. O seu objectivo principal era unir definitivamente a Alemanha à ideologia comunista da URSS para criar uma sociedade mais humana e solidária. A década de 70 representou o ex-líbris deste fanático grupo, já que foi durante esta década que se deram os seus principais ataques. Através de ?Der Baader Meinhof Komplex?, o realizador alemão Uli Edel regride no tempo para nos mostrar as origens e consequências das acções da RAF na comunidade alemã, mas também tenta explicar-nos (através de um exercício subjectivo e bastante complexo) as ideologias do grupo e as razões que levaram uma simples mulher como Ulrike Meinhof a enveredar por uma carreira dedicada à morte e ao sofrimento de terceiros.
O filme começa por nos apresentar uma Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) bastante simples e estável que aparenta ser uma mãe extremamente dedicada aos seus dois filhos. No entanto, esta sua faceta simpática rapidamente desaparece após as manifestações estudantis de 1968 que tiveram um profundo impacto na sua mentalidade. Após este acontecimento, Ulrike abandona a sua família para se juntar a Andreas Baader (Moritz Bleibtreu), um activista que é retratado pelo filme como um guerrilheiro impiedoso e brutal. Este duo junta-se então a Gudrun Ensslin para, em conjunto, fundarem a RAF. A primeira parte da obra é praticamente dedicada à análise das acções destas três personagens e à forma como eles conseguem iludir a polícia durante aproximadamente cinco anos. A parte inicial do filme também aborda as relações ?diplomáticas? que a RAF mantia com o mundo árabe, nomeadamente com organizações terroristas que partilhavam o seu desdém pelos EUA. É durante esta parte que somos confrontados com os discursos idealistas e psicóticos de Andreas Baader, que tenta justificar as suas acções no amor e na igualdade. Após a prisão dos três líderes do grupo e consequente morte de Ulrike Meinhof, a RAF começa a ser comandada por outra mulher, Brigitte Mohnhaupt (Nadja Uhl), que planeja friamente uma série de assassinatos e atentados contra alvos alemães, nomeadamente os dois grandes ataques que celebrizaram o Outono de 1977. A segunda parte do filme mostra então a nova geração de membros da RAF que, entretanto, assumiu uma postura mais violenta e calculista mas, após mostrar uma tentativa falhada da Nova RAF em libertar os Membros Originários e de explorar os acontecimentos do Outono de 1977, o filme chega à sua conclusão, que se limita apenas a contar o princípio do fim de uma trágica história que termina ironicamente ao som de ?Blowing in the Wind?.



O argumento de ?Der Baader Meinhof Komplex? foi escrito pelo mesmo guionista de ?Der Untergang?, um filme biográfico sobre a vida de Hitler, também ele um ponto negro da história contemporânea alemã. Bernd Eichinger volta assim a desenvolver uma complexa biografia sobre um movimento de ideologia duvidosa que assombrou durante anos a Alemanha. Ao contrário de ?Der Untergang?, este seu guião mais recente não aprofunda em pormenor a vida e a personalidade de apenas uma personagem, já que alastra o seu espectro de atenção às várias figuras de elite da RAF. No entanto, é bastante clara a sua intenção de dar mais atenção à história de Ulrike Meinhof, porque é de todas a mais complexa e mais incompreensível. De certa forma, a história da RAF mostra-nos que, por vezes, o sexo feminino também pode ser capaz de actos terroristas de grande violência e envergadura já que, à excepção de Andreas Baader, a RAF era comandada por mulheres. ?Der Baader Meinhof Komplex? é fácil de entender, mas difícil de compreender. Durante duas horas e meia, Uli Edel dá-nos uma autêntica lição de história muito bem explicada, mas a parte psicológica dessa história está fortemente subentendida nos diversos diálogos e acções das personagens. O filme não nos dá uma única resposta ou explicação concreta sobre as suas atitudes, porque todas essas explicações teóricas são remetidas para as suas acções. Como já referi, a existir uma personagem principal, essa terá de ser forçosamente Ulrike Meinhof, mas mesmo sendo alvo de uma atenção extra, ficamos sem perceber as razões concretas que levaram esta mulher a abandonar os seus filhos. Pode-se dizer que o enredo dá muitas informações, mas não dá nenhumas explicações concretas. É um filme neutro que retrata a RAF exactamente como ela era. Numa perspectiva mais secundária e menos relevante, destaco a prestação do elenco que sem ser magnífica consegue ser bastante competente. A fotografia e a banda sonora também são bastante aceitáveis, mas não acrescentam nada de mais a um bom filme alemão (Nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro), que retrata mais uma negra e polémica página da história contemporânea alemã.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

2ª Crítica - AQUI



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