Realizado por Oren Peli
Com Katie Featherston, Micah Sloat
Estava bastante ansioso para ver o que valia o filme sensação deste ano. Com um orçamento mísero e quase impraticável nos dias que correm em Hollywood, filmado em 2007 na própria casa do realizador, ?Paranormal Activity? assume-se como o grande caso de sucesso do ano. Oren Peli pega numa velha e simples premissa dos clássicos filmes de terror ? um jovem casal começa a ver as suas noites perturbadas por inexplicáveis fenómenos paranormais ? e eleva-a a um estatuto que roça o culto cinematográfico, tal está a ser o delírio em redor desta sua obra.
Verdade seja dita que ?Paranormal Activity? merece toda a atenção que lhe possamos dedicar. Estamos perante um filme assustador, perturbador e deveras inquietante. Uma boa aposta para os fãs do género fantástico e uma venerável adição para este tão desprezado e subestimado género. Contudo, o filme tanto promete que, a certa altura, acaba por desiludir. À medida que a história vai decorrendo, percebemos as limitações de um orçamento reduzido e compreendemos que esta obra poderia ser muito mais do que aquilo que é. Ninguém poderá dizer que ?Paranormal Activity? não é extremamente realista e assustador! Mas o seu potencial não é totalmente espremido e o que poderia ser uma jóia da coroa, inevitavelmente desagua num bonito mas vulgar conjunto de prata. Estivéssemos a falar de uns jogos olímpicos, poder-se-ia dizer que ?Paranormal Activity? estava perto de levar o ouro para casa quando o abafo dos metros finais apenas lhe permitiu ficar com o bronze. O que é pena.
Como já foi referido, a premissa é muito simples. Desde tenra idade, Katie (Featherston) é assombrada por um assustador e perturbador vulto negro que a apoquenta. Após vários anos sem manifestação de incidentes paranormais, Katie pensa que a entidade finalmente lhe ofereceu descanso. Porém, ao mudar-se para uma nova casa com o seu namorado Micah (Sloat), Katie descobre que o vulto voltou à carga. Um psíquico revela que a entidade se deverá tratar de um demónio, o que deixa o casal obviamente preocupado. Até porque as assombrações começam a ficar cada vez mais perturbadoras e violentas. É aí que Micah decide comprar um conjunto de câmaras e equipamentos electrónicos, de forma a filmar os fenómenos paranormais que os assolam durante a noite, tentando assim encontrar alguma solução para o problema.
Escusado será dizer que ?Paranormal Activity? nos proporciona diversos momentos da mais pura tensão e do mais arrepiante suspense. Bem filmado e arquitectado, o filme tenta recorrer à essência do mais profundo terror para assustar o espectador. Longos momentos de silêncio levam-nos a recear cada frame da película. E como um bom filme de terror, aquilo que se esconde nas sombras acaba por ser o que mais nos perturba e incomoda. ?Paranormal Activity? é o parente mais próximo de ?The Blair Witch Project?. O estilo é o mesmo, pelo que os fãs da bruxa do bosque americano reconhecerão a mesma técnica e o mesmo padrão terrorífico. Ainda assim, devo dizer que a obra de Oren Peli não consegue aceder ao patamar de obra-prima do terror. E isto porque a sensação de que algo lhe falta é simplesmente imperdoável. Os minutos passam e o filme vê-se com agrado; mas se o filme trata de assombrações, então é justo dizer que ele também é assombrado pelo pecado de deixar o espectador à espera de algo que nunca vem a acontecer. Algo mais. Algo que salte das sombras e nos faça pular da cadeira. Algo que nos faça retirá-lo da vulgaridade e atribuir-lhe um estatuto superior.
Comparando rapidamente com o fabuloso ?REC? ou o eterno ?The Exorcist? (esses sim, verdadeiras obras-primas do cinema de terror), ?Paranormal Activity? mete medo e consegue ser assustador. Mas os outros dois são mais que isso; eles são aterradores e levam o espectador a desejar fechar os olhos e abandonar a sala! Algo que o filme de Peli infelizmente não consegue fazer. E como explicar isso? Muito simples. O filme poderia e deveria ser muito mais intenso, feroz e criativo. A certa altura, ?Paranormal Activity? torna-se mesmo previsível e as cenas terminam quando estão a aumentar o seu interesse. Este filme deveria ser mais ambicioso e elevar as emoções dos espectadores até eles não poderem mais do coração! Em vez disso, a imagem é cortada por um irritante fade out que decapita o ritmo do filme e dá início a tempos mortos que levam o espectador a desejar apenas uma coisa: que venha a próxima cena nocturna! Assim é ?Paranormal Activity?. Um daqueles filmes difíceis de críticar e/ou classificar. Por um lado assusta-nos e perturba-nos. Por outro lado, deixa-nos irritados por não ser capaz de levar o terror a um patamar superior. Algo lhe falta. Talvez uma cena final mais elaborada, aterradora e intensa. Talvez cenas mais arrepiantes, criativas e corajosas. Algo está em falta. Algo que não deixe o terror restringir-se a uma série de sons e ruídos de fundo. Graças à tentativa de simular um home vídeo, ?Paranormal Activity? é órfão de uma estrutura narrativa clássica. Não há princípio, meio e fim. E talvez seja essa a sua grande virtude, mas (ironicamente) também o seu grande pecado. Virtude porque o realismo dessa estrutura aprimora o efeito aterrador; pecado porque mata um possível clímax mais intenso e simplesmente infernal (algo a que ?REC? atendeu com tanta mestria). Enfim, apesar de alguma desilusão da minha parte, não desanimem! ?Paranormal Activity? não deixa de ser um filme extremamente interessante, bastante assustador e que promete tirar-vos o sono por algumas noites.
Classificação ? 4 Estrelas Em 5
Leia a 2ª Crítica
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