Crítica - Pride and Prejudice (2005)
Cinema

Crítica - Pride and Prejudice (2005)


Realizado por Joe Wright
Com Keira Knightley, Matthew Macfadyen, Donald Sutherland, Brenda Blethyn

Com um livro de origem tão repleto de detalhes, cujo desenrolar e desfecho são tão intricadamente ligados a cada personagem e a cada situação, com uma série de seis horas altamente pormenorizada e, mesmo assim, com falhas, esta adaptação cinematográfica era esperada com baixas expectativas. É sempre muito difícil fazer-se um filme simultaneamente bom e fiel. No entanto, a história é abordada da única maneira possível para que se verifiquem ambos. E a resposta é razoavelmente simples.
Jane Austen escreve e descreve, com minúcia e numa linguagem deliciosamente floreada, gentes e costumes de uma época politicamente correcta, em que os únicos aspectos que interessavam sobre uma pessoa eram o estatuto social e o valor do património. O objectivo das mulheres era casar bem e o dos homens escolher bem a sua esposa. No entanto, as heroínas de Austen são sempre mulheres à frente do seu tempo, que de alguma forma não se conformam com o seu papel. Elizabeth Bennett, de ?Orgulho & Preconceito?, é a mais forte, inteligente e determinada de todas e, como tal, a que menos se encaixa no seu mundo. Tem um entendimento aprofundado das coisas e uma vivacidade que lhe permite tirar o máximo gozo do ridículo e da tolice alheios, às vezes mesmo no seio da própria família. Sendo a segunda de cinco irmãs, duas delas particularmente tolas, com um pai negligente e uma mãe histérica cujo único propósito na vida é casar as filhas, Elizabeth tem muito com que se debater. E eis que, no meio de bailes e jantares e passeios, chama a atenção, com a sua impertinência, do imponente e arrogante Sr. Darcy. Elizabeth, de orgulho ferido, repudia-o a princípio, mas cedo se apercebe que também ela se deixou levar por ideias pré-concebidas e que a primeira impressão é, em geral, a errada.
Mas, no fundo, ?Orgulho & Preconceito? trata-se apenas e somente de uma história de amor entre duas pessoas, que, em prole desse amor, se moldam e se tornam melhores e é esta faceta que o filme de Joe Wright explora. Acompanha duas pessoas cujo forte carácter tornou arrogantes, cada uma à sua maneira; duas pessoas que não foram feitas uma para a outra, mas que, de alguma forma, e após tumultuosos encontros, reconhecem as qualidades do outro e se apercebem de como as suas personalidades e temperamentos se complementam. Este amor torna-os humildes e a sua constância supera os mútuos defeitos. Em comparação com o livro, perdem-se qualidades, como é óbvio. As personagens estão menos desenvolvidas, as situações menos completas. Mas é aí que entra o papel do realizador e se vê se ele está à altura do desafio. Joe Wright não esteve só à altura, esteve excepcional. Tanto umas como outras são quase sempre apresentadas de modo a que possamos tirar o máximo de informação delas, sem ser necessário explicar as motivações de tal personagem, ou prolongar demasiado uma cena. Isto verifica-se logo no início do filme, quando vemos pela primeira vez a família Bennet; numa visita guiada pelas várias divisões da casa, observamos o comportamento e a ocupação de cada membro, traçando-lhes as linhas gerais. A mesma apresentação acontece no baile de Netherfield, um dos acontecimentos mais prolíferos em personagens e cenas, magistralmente acompanhados pela câmera, em particular quando Darcy passa por trás de Elizabeth como num prelúdio. Há outros exemplos de realização soberbos, como os close-ups para enfatizar uma qualquer emoção, a passagem das estações no rodar do baloiço, ou a introdução de Lady Catherine de Bourgh, tão ansiosa por entrar em cena que nem espera que a câmara se posicione. Mas o expoente máximo é a dança de Elizabeth e Darcy. O movimento dos corpos, os passos no vazio, é um intenso e doloroso duelo intensificado pelo violino. Aliás, tudo se torna mais intenso devido à música de Dario Marianelli. Toda a sequência da carta de Darcy, o passar do tempo, a luz e as sombras, os espaços mentais e os espaços reais, o diálogo entre o piano e o violoncelo, ilustram na perfeição as profundas modificações de sentimentos e pensamentos no âmago de Elizabeth. Apesar do argumento não poder fazer justiça às suas intervenções, as suas emoções estão ali para ser vistas, tais como as de Darcy; lágrimas silenciosas, olhares angustiados. O filme não se limita a abordar a história como nunca tinha sido abordada antes, confere-lhe precisamente o que lhe faltava: o ardor, o coração. E faz-nos esquecer os aspectos mais negativos.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5



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