Crítica - The Day the Earth Stood Still (2008)
Cinema

Crítica - The Day the Earth Stood Still (2008)



Realizado por Scott Derrickson
Com Kathy Bates, Keanu Reeves, Jennifer Connelly

Em 1951, Robert Wise apresentou ao mundo ?The Day the Earth Stood Still?, um portentoso filme de ficção científica que surpreendeu o público da época com os seus surpreendentes efeitos especiais e com a sua apocalíptica história. Um pouco menos de sessenta  anos após a estreia do filme original, Scott Derrickson apresenta-nos um remake que não segue totalmente a base narrativa do filme original, mas que apresenta um claro melhoramento a nível visual, aproveitando assim os incríveis avanços tecnológicos que se deram no hiato temporal entre as duas obras. Apesar de ser visualmente mais interessante, o remake de ?The Day the Earth Stood Still? não se mostra capaz de corresponder às grandes expectativas criadas em seu redor. Como já referi, a história deste remake difere um bocado da apresentada no filme original. Os aliens mantêm-se como figura central do enredo, mas a razão da sua visita à Terra é substancialmente diferente. Nesta versão actual, os seres-humanos são tacitamente julgados por uma raça alienígena altamente superior que nos condenou à extinção, em prol do bem geral do planeta Terra e dos restantes seres vivos que nele habitam. O embaixador dessa raça é Klaatu (Keanu Reeves), um aparentemente calmo e relaxado ser de outra galáxia, que inicialmente parece disposto em negociar com humanos, mas ao aperceber-se do que estes são capazes, decide executar a sentença de morte de uma raça inteira. Entre sucessivos confrontos e encontros com os seres humanos, Klaatu vê na doutora Helen Benson (Jennifer Connely) e no amor que esta nutre pelo seu enteado Jacob (Jaden Smith), uma possível causa abonatória da raça humana, no entanto será que o processo mortal iniciado por Klaatu pode ser regredido a tempo?
Antes de iniciar a minha análise a esta versão actual de ?The Day the Earth Stood Still?, sinto-me na obrigação de tecer algumas considerações sobre a obra original. O filme de 1951 alcançou um sucesso relativo nos EUA, graças aos seus interessantes efeitos especiais que revolucionaram o género de ficção científica e que iniciaram uma crescente evolução gráfica, que teve continuidade com a mítica obra ?War of The Worlds? de 1953. A própria história do filme beneficiou da crescente popularidade das histórias sensacionalistas que envolviam alienígenas e a sua conspiração com o governo norte-americano. Hoje em dia vemos que essa história não é assim tão interessante e que todo o filme se apoia nos fantásticos efeitos especiais que ainda hoje são alvo de aplausos. Não quero com isto dizer que o trabalho efectuado por Robert Wise em 1951 seja mau, no entanto, parece-me a mim que o filme original foi e ainda é extremamente sobrevalorizado pelo mundo cinematográfico.
Após este desabafo em relação à divinização do filme original, que muitas publicações têm vido a alimentar ao longo dos anos, resta-me analisar este remake contemporâneo e igualmente comercial que recentemente estreou nas salas de cinema mundiais. Em termos narrativos, apresenta uma história algo semelhante à do fracassado ?The Happening?, onde também temos o tema do Aquecimento Global retratado de uma forma apocalíptica e claramente exagerada. A utilização desta actual problemática do nosso planeta, criada exclusivamente pelos seres-humanos, funciona como uma excelente forma de actualizar a história original e evitar uma repetição desleixada de um enredo que nunca foi plausível (nem tinha obrigações de o ser). Sendo assim, o remake apresenta uma história praticamente nova e refrescante que se distancia do exacerbado ficcionalismo do enredo original, fornecendo igualmente, uma justificação minimamente plausível do porquê da visita de Klaatu ao nosso planeta. No entanto, este é ,na minha opinião, o único ponto positivo do argumento. A ideia era boa e apresentava grandes potencialidades criativas, mas foi mal transposta para o papel o que originou um enredo mal explicado e uma confusão generalizada no desenvolvimento da história. O tema foi levado ao extremo e foi muito mal conjugado com as ideias ficcionais do filme original, criando assim uma erro de coerência criativa que acabou por misturar o pior de dois mundos. Se a equipa criativa deste remake foi inovadora o suficiente para criar uma nova história de fundo, poderia ter também criado meios coerentes que apoiassem um desenvolvimento claro do enredo. A interacção de Klaatu com Helen Benson constitui outro grave lapso do argumento. Nada nesta relação transmite criatividade e interesse, quando estamos perante um ser de outro mundo é assim que reagimos? E o alienígena como consegue ser tão emocional e rígido ao mesmo tempo? Felizmente, os problemas narrativos não se traduzem no campo visual do filme. Os efeitos especiais utilizados apresentam uma qualidade digna dos seus antecessores e a fotografia, apesar de não ser extraordinária, é interessante e futurista. É esta qualidade visual que, no fundo, salva o filme de uma nota negativa.
O elenco tem em Keanu Reeves a sua grande estrela. A sua interpretação do alienígena Klaatu é razoável e só não foi melhor por culpa do argumento, que não o deixou ser mais actor e menos ?robot?. A bela Jennifer Connelly assume o outro papel de destaque do filme, mas também ela não se conseguiu livrar dos condicionalismos impostos pelo argumento, no entanto é justo afirmar que em circunstancias idênticas, a sua interpretação está uns bons furos abaixo da de Keanu Reeves. O elenco secundário não é dos mais competentes e não acrescenta nenhum valor ao filme. Entre os vários géneros cinematográficos, a ficção cientifica é dos poucos que não pressupõem plausibilidade e realismo, no entanto deve sempre pressupor a criatividade e a devida explicação da sua exteriorização na história. O criador deste tipo de histórias deve ter sempre em conta que o espectador não tem a obrigação de conhecer ou entender da mesma forma que ele a história que é contada. Foi esse pequeno pormenor que faltou a este remake de ?The Day the Earth Stood Still?. O filme é ávido em imaginação, mas não a explica devidamente e quando assim é, a ficção perde muita da sua potencial qualidade. Ao contrário do filme original, este remake não deverá perdurar no tempo e na história do cinema.

Classificação - 3 Estrelas Em 5



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