Cinema
Crítica - Third Person (2014)
Realizado por Paul Haggis
Com Liam Neeson, Olivia Wilde, James Franco
Já passaram dez anos desde a estreia do consagrado "Crash" (2004), um pequeno drama independente que surpreendeu tudo e todos ao conquistar o Óscar de Melhor Filme, superando na altura grandes favoritos, como "Brokeback Mountain", "Capote" ou "Munich". Este prémio, embora justificado, continua a pertencer, ainda hoje, à lista de grandes surpresas da Academia, mas verdade seja dita que "Crash" teve mérito no sucesso que alcançou, muito por culpa da mestria do produtor, diretor e guionista Paul Haggis. Uma década após esse grande sucesso, Haggis regressa às salas de cinema com mais uma produção dramática que explora várias histórias pessoais diferentes que estão interligadas entre si por detalhes e temas. É certo que este seu "Third Person" está bem longe do valor e nível de "Crash", mas nota-se bem que Haggis tentou replicar um pouco do que fez no passado neste seu novo projeto, no entanto, desta vez, há que dizer que a coisa não correu lá muito bem.
Tal como já referi, "Third Person" explora várias histórias pessoais que, ao longo do desenvolvimento do argumento, vão-se aproximando umas das outras até pintarem, no final, um quadro geral que foi claramente idealizado para chocar o espectador e deixá-lo na dúvida sobre as reais bases da história que acabou de ser contada. A sua conclusão parte, para mim, de uma grande ideia que, infelizmente, ficou muito áquem do seu real potencial por causa dos vários problemas de contexto e desenvolvimento que se levantam ao longo de todo o filme e que tornam, por isso, um pouco difícil a total percepção do surpreendente desfecho e objetivos desta intriga que, primeiramente, aparece disfarçada como um conjunto de melodramas românticos com toques familiares de choque, mas que no final sobressai apenas como um melodrama sobre a culpa, o desespero e a depressão onde o romance pouco mais aparece como um efeito secundário sem grande relevância, já que o que realmente importa são os negativos contextos familiares e as suas consequências devastadoras. É certo que este seu apimentado e surpreendente final dá algum azo a discussão e dúvidas que permitem avaliar os reais objetivos e mensagens do filme, mas confesso que esta conclusão aparece bastante perdida no meio de um grande deserto de sonolência e maus contextos que derivam de tudo o que está para trás e que, claramente, não fazem justiça a tudo aquilo que o filme tem intenção de contar e mostrar.
E que histórias são estas que aparecem retratadas neste projeto? A primeira é, como se descobre mais tarde, a mais importante e foca-se em Michael, um escritor premiado com o prestigiado Prémio Pulitzer que procura em Paris inspiração para terminar o seu último livro, isto após uma série de desastres pessoais e profissionais que estão prestes a levá-lo a cair num abismo emocional, algo que poderá ser evitado pela presença de Anna, uma jovem jornalista ambiciosa que deseja começar a escrever e a publicar, mas que esconde um terrivél segredo que a impede de assumir qualquer relação estável com um homem. As outras duas intrigas humanas acompanham Scott, um homem que em Roma apaixona-se por uma bela cigana que o envolve num perigoso jogo de chantagem; e Julia, uma ex-atriz que quase matou o seu próprio filho e que agora enfrenta uma batalha judicial em Nova Iorque para provar a sua inocência e para conseguir a custódia do menino. Tal como já dei a entender, estas três pequenas histórias são exploradas com pouca energia e sem o esperado contexto, algo que no final traz as suas devidas consequências para o nível generalizado de um projeto mediano que, no final de contas, poderia ter tido um maior apelo dramático, trágico e emocional se o seu argumento tivesse tido uma maior profundidade que poderia, claramente, ter preparado melhor um final que, com outras bases, teria sido digno de um grande filme trágico e inesperado. O resultado final, no entanto, não é esse. É certo que há vários elementos presentes na história de "Third Person" que são interessante, mas o seu conjunto pobremente montado dá azo a um resultado final que carece de uma conexão humana e de um contexto cativante capaz de rentabilizar todos os ingredientes de qualidade que Haggis tinha à sua disposição para criar um belo e tocante melodrama.
Classificação - 2 Estrelas em 5
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