Realizado por James Gray
Com Joaquim Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Isabella Rossellini, Elias Koteas
A expectativa era enorme à partida para ver este filme. Dos textos que havia lido, todos eles o referenciavam como um grande filme, um dos melhores de 2008. E a verdade é que nenhum deles se engana, a verdade é que é um filme fenomenal. Um drama romântico clássico que Gray filma magistralmente. Um Joaquim Phoenix portentoso, fabuloso e Paltrow a impressionar.
Mas é todo o classicismo que preenche o filme, todo o ambiente que James Gray cria desde o início do filme que nos prende à obra. Todo o desenvolvimento em tons de negro num caos hipotético que é criado dá a ideia que a história vai acabar mal, o que não é necessariamente mentira, dependendo do ponto de vista. Mas Gray cria uma mente instável e que nem ela própria sabe o que fazer, que caminhos tomar, porque o amor é aqui o grande âmago da história. E se a história é banal, porque o é, a forma como é narrada, a mão de Gray transforma-a numa história emocionante e tocante. Porque o filme nunca cai em lamechices, porque apesar de Leonard passar à frente da tela quase o filme inteiro, porque apesar de Leonard tentar o suicídio logo no inicio do filme, apesar de toda a instabilidade mental e emocional (no inicio os pais falam em doença bipolar), apesar de quando rejeitado ele se desfazer em lágrimas, apesar disso tudo Gray nunca nos leva a um ambiente lamechas, ao típico ambiente novelístico do coitadinho que sofre por amor. Não, aqui ele envereda por outra vertente, aqui ele fecha uma porta mas abre outra (relativamente a Leonard), aqui ele não cai no facilitismo de encontrar a tragédia que vai assolando o filme desde o inicio e cria uma história mais real, menos melodramática, mais credível. E aqui não há final feliz nem trágico, há o final apropriado, o final mais real e credível para o senso comum, o final que nos deixa satisfeitos porque era o que nós faríamos. E o amor é isso, é tentar tudo por ele mas parar quando se percebe que não há mais nada a fazer. E é esse realismo sem ser exasperado que faz de ?Two Lovers? um filme magnífico. São os planos magníficos que Gray filma que enaltecem a obra, a simplicidade de uma beleza ímpar de Gray filmar os pormenores, os detalhes para uns desnecessários que Gray prova serem necessários. É a beleza de Gray contar uma história de amor de modo arriscado mas competente, de modo a não cair nos
clichés, de modo a fugir ao
mainstream, de modo a retirar o que de melhor um actor pode dar ao filme. Porque há realizadores que têm essa capacidade, esse dom de conseguirem arrancar uma portentosa interpretação a um mediano actor (o que não é o caso). E Phoenix transcende-se, mergulha na interpretação de uma vida e dá corpo a Leonard de um modo de tal apaixonante que sem ele o filme não alcançava tal proeza.
E a instabilidade emocional de Leonard oscila entre o amor obsessivo e incerto mas explosivo e cego, e a certeza de uma relação com futuro e lealdade mas que não ultrapassa essa calma e paz interior que lhe traz, essa consolação de ter estabilidade, essa paixão acesa que falta e que encontra na outra. Por outras palavras, uma dualidade de atitudes que Leonard tem de adoptar, a escolha entre o amor e a razão, a decisão entre o que o coração lhe pede e o que a cabeça lhe indica. E independentemente das condições que o fazem decidir, das adversidades que sucedem, Leonard vai ter que decidir. Porque o que Gray quer mostrar é o poder do amor
vs o poder da mente, da ?reabilitação?, da resignação ? porque muito que custe, ela chega, porque nunca ninguém morreu de amor. E o filme é isso, essa dualidade de sentimentos, esse conflito entre amor e razão, essa viagem emocional que Leonard vai fazer e que lhe vai deixar marcas. E se o tema é banal, a realização, as interpretações, a luz e as sombras, a mise-en-scène de Gray torna tudo extraordinário, clássico. ?Two Lovers? é sem dúvida um grande filme, dos melhores de 2008.
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