Cinema
Crítica: A Família Bélier
Por Fabricio Duque
?A Família Bélier? prova que há exceção quanto ao gênero de novela utilizada na arte cinematográfica. Aqui, a estrutura de fábula realista endossa o objetivo proposto, que é mesclar características típicas de uma comédia romântica com a perspicácia afiada (espontânea e sensível) do comportamento da narrativa. Utilizando-se a simplicidade da liberdade poética (com seus acasos fáceis, palatáveis e ?ajudados? pelo roteiro com o intuito de ?resolver? as reviravoltas ? como a aula de canto, a paixão pelo garoto da escola) a fim de traduzir um sutil aprofundamento às questões banais de uma família da vida privada, ?quebrando? com elementos inversos (como a surdez, o professor ?ultra? sagaz ? ?nem tudo gira em torno de vocês, o famoso ego dos adolescentes?). Assim, o longa-metragem, dirigido pelo francês Eric Lartigau (de ?A Noiva Perfeita?, ?O Homem Que Queria Viver Sua Vida?, e do segmento ?Lolita? de ?Os Infiéis?), constrói com naturalidade despretensiosa, assumindo-se como uma diversão ?diferenciada?, por incluir a emoção não manipulada, não clichê e não ?bobinha?. A positividade está no sim, principalmente quando expõe a máxima de que o ?menos é mais?. É um filme de instantes (e de picardias aceitadas de forma cúmplice e de humanização das consequências embaraçadas, tratadas como normais e com um desprendimento do politicamente incorreto), e pululado de referências pop (como a ?Bella de Crepúsculo?, a música ?That´s Not My Name? do grupo ?The Ting Ting?). Logicamente, a maestria está nos personagens que vivenciam os pais (os atores Karin Viard e François Damiens) e o irmão surdos-mudos da protagonista filha, Paula (a atriz Louane Emera), a única da família que não nasceu com ?deficiência?, e que traduz a eles tudo sobre a ?vida ao redor?, inclusive a informação do médico sobre a ?micose da vagina da mãe? e que eles ?precisam ficar sem fazer sexo por um tempo?, eis que a mãe responde ?não vou conseguir? ? é hilário. A trama questiona ?aptidões profissionais? dos ?que falam com as mãos?, dúvidas da filha quanto ao futuro e ao propósito de ?proteger? sua família das ?dificuldades do mundo? (?eles já eram surdos antes de você nascer?). Como foi dito, mesmo com todas as ?facilidades? da narrativa para ?fechar? a conclusão da mensagem, é um grande filme, perceptível na cena que a música que Paula canta no final cria o paralelo com o momento atual, e que quando a traduz na linguagem de sinais, leva às lágrimas tanto a família, quanto o próprio espectador. Recomendado.
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