Cinema
Crítica: Cine Holiúdy
Por Fabricio Duque
O diretor Helder Golmes é formado em Administração, teve uma academia de artes marciais (explicando-se assim o tema do filme em questão aqui) e produziu ?Bezerra de Menezes ? O Diário de Um Espírito?. Ele é acima de tudo um publicitário ?marketeiro?. Não na profissão técnica, mas sim na forma como arregaçou as mangas, depois de ter sido rejeitado em editais e nas mostras competitivas de alguns dos maiores festivais do país, e divulgou seu filme ?Cine Holiúdy?, que despertou curiosidade ?arretada? do espectador por ?vender? uma película tipicamente ?cearês? (ou ?cearencês?) com legendas para traduzir o dialeto do estado, ?fazendo sucesso de dentro para fora, aos poucos, pelas beiradas?. Assim desde sua estreia, tornou-se o maior sucesso de público (?identificando-se com o que vê?) de toda história do Ceará.
?O mercado viu que fenômenos regionais existem e fazem diferença?, disse Bruno Wainer, distribuidor da Downtown Filmes. O longa-metragem vem de seu curta-metragem anterior, ?O Artista Contra o Cabra do Mal?. ?O (meu) filme foi confundido com uma comédia sem reflexão séria?, lamenta Helder. A crítica negativa não se apresenta totalmente como um disparate. O roteiro busca o entretenimento do riso fácil do humor local, exacerbando gatilhos comuns e picardias, que mitigam a novidade da piada. São sequências verborrágicas que exploram a caricatura mais elementar do universo social interiorano. Trocando em miúdos, uma comédia pastelão de tipos que tenta imprimir referências a Mazzaropi e a Bruce Lee, mas que acaba gerando a ingenuidade amadora da paixão pelo cinema. Quando o espectador se deixa capturar pela simplicidade do amor a sétima arte, o filme ganha a dimensão esperada, desencadeando momentos engraçados, como quando o projetor apresenta problemas técnicos. Não há equilíbrio de ritmo, que para resolver os conflitos, ?procura? a rapidez e a obviedade.
?Cine Holiúdy? desmistifica a figura do super-herói por um personagem que faz de tudo para que o cinema não acabe ?por causa da televisão?. É a metáfora da metalinguagem midiática, aludindo aos pequenos distribuidores que precisam ?dançar conforme a música? das ?leis? (quase subjetivas) dos maiores (infere-se a majors). A película representa a luta por um sonho; a dura luta neste caminho projetado; e o ?jeitinho? brasileiro (de não se ter vergonha de nada) para sobreviver enquanto os resultados positivos não aparecem. O espectador pode passear quase como turista pelo ?cerarês? e pelas ?típicas? personalidades do interior (o menino rico que humilha os outros; o prefeito decadente; o cego; o repetidor de frases; o galã; e por aí vai). Concluindo, um gênero regional de linguagem (e estrutura) popular que diverte, mesmo com os exagerados desenhos (quase toscos) de personagens típicos, que se comportam como brega kitsch, e que discute a ?desaparição? dos cinemas de rua.
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