Crítica: Com os Punhos Cerrados
Cinema

Crítica: Com os Punhos Cerrados


?Uma vontade de voltar a falar da anarquia que estava em desuso em um momento de confusão ideológica. Nós precisamos sempre encontrar desafios novos e nos colocar em xeque. É uma luta. Renovando o lugar do coletivo com nossas figuras cênicas. Qual o papel do artista na anarquia? Questionamos esta democracia. O olhar e a dança são altamente revolucionários?, disse o trio de diretores. 

Por Fabricio Duque

São poucos os Movimentos cinematográficos  que conseguem uma tipografia própria de gênero. O coletivo Alumbramento é um deles e se firmou como exemplo deste adjetivo único e autoral, de inovação da linguagem. Trocando em miúdos, podemos utilizar Gênero Alumbramento para definir filmes que se utilizam desta estética. Os elementos característicos buscam "abrigo" no determinismo dos planos longos, contemplativos e existencialistas, conjugando narrativa com visual conceitual, liberdade utópica, desconstrução cinematográfica pela simplicidade complexa, exacerbação estilista, filosofia amadora e resultado extremamente pretensioso. Sim, este último não caminha no campo depreciativo e sim respeita a essência translúcida e idílica do novo tema que é abordado. ?Com Os Punhos Cerrados? é a ?homenagem? da vez, a da anarquia pura, utópica, passional, ingênua, de impaciência hiperativa, de intolerância do contra-ataque e de querer extremista de se mudar o mundo em um único clique e ou com ?poesias? marginais, agressivos e sexuais em tom carta narrados ora com ?violência? verborrágica, ora com didatismo político, ora com catarse, em uma ?rádio pirata?. O discurso de instauração do socialismo "revolucionário" em um mundo de capitalismos individuais soa infantilizado, incompatível, incongruente, nostálgico, constrangedor e sorumbático, talvez pela mitigação da própria irracionalidade intrínseca dessa palavra tão reacionária. O trio de diretores ?alumbramentos? (de ?Os Monstros?), Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti, e logicamente mais a ?mão? de Guto Parente, apresentam suas visões do apocalipse da ?mera necessidade de movimento perpétuo?. Corrobora-se narrativa nãolinear (final, início, meio e final), planos sequências (incluindo epifanias musicais de ?Os Monstros?), intercalações com fotos estilizadas, outros formatos, ?receitas de explosivos?, sons superexpostos, metafísica, captação de som metálico e fotografia esbranquiçada, fora de foco, de efeito maresia com uma tempestade de areia. A música que mais parece um ?fado árabe? conjuga a interatividade ?visual? do som. ?Ilusão que pertencem ao mundo, mas o mundo não existe?, exaspera-se. Corta-se. Uma cidade. Uma rodovia. Um plano aéreo. No interior de um carro, uma música brega está tocando na rádio. Mas por pouco tempo. A ?sintonia anarquista? muda o ?som? do ?vilão? (sem rosto) incomodado (que quer vingança contra ?os inimigos do progresso? usando os zumbis do ?conformismo?) para ?contradição e destruição? de uma ?cidade que é um grande hospício?. Os ?protagonistas? são andarilhos sem destino, ?Black Bloc?, ?prolongam? o tempo (como a câmera parada no rosto de uma mulher enquanto uma música ?folk melódico? inteira é executada). O ?isolamento estratégico? (?força maior na clandestinidade?) mostra que são ?Che Guevara (s)? do novo tempo. A própria anarquia é pretensiosa. Com sua ?dança? induzida (quase não se vê imagens nítidas), sua nudez natural, seu amor ?grupal? livre e seu violão ?pós-sexo?. A câmera aproximando ao olhar admirado dela nele configura-se como uma das cenas mais encantadoras do filme. ?Se permitir a loucura na imoralidade da arte?, discurso de Uirá, que não quer ?o sonho prático ditado pela sociedade?, com tempo para se captar o sentimento e permitido que o espectador embarque no questionamento.  Concluindo, uma experiência única, unilateral, desconstrutivista, ?anarco-punk?, ?de renovar as vanguardas?, estrutura efêmera, informal, não hierárquica e questionadora. 



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