Cinema
Crítica: Homens, Mulheres e Filhos
"Eu acho que daqui a 100 anos, vamos nos sentir tão tolos como andássemos no escuro com esta nova tecnologia", disse o diretor Jason Reitman.
Por Fabricio Duque
?Homens, Mulheres e Filhos? representa o mais recente filme do cineasta canadense Jason Reitman (de ?Juno?, ?Amor Sem escalas?, ?Obrigado Por Fumar?, ?Jovens Adultos?), filho de outro diretor ?peixe-grande?, Ivan Reitman (que realizou o mega sucesso ?Os Caça-Fantasmas?). Jason possui como característica marcante a sensibilidade de traduzir medos, defesas, crises, anseios, impulsividades, covardias dos indivíduos sociais, ?conservados? na essência de seres humanos dotados de explicações plausíveis para seus atos. Cada um é respeitado por ser quem é. A narrativa mantém a estrutura independente dos filmes anteriores, conjugando, sem confrontar e ou contrastar, a edição em videoclipe sem pressa e a nostalgia atemporal (mas que é ambientada na própria contemporaneidade também possível de ?existir? em qualquer época). A trama aborda a incomunicabilidade atual do mundo virtual, retratando relacionamentos em mensagens na internet, tentando ?alertar? sobre nossa individualidade coletiva de ser, sendo difícil o entendimento do porquê de se ter ?mais? liberdade e ?mais? timidez. É incompatibilidade reversa. As possibilidades de ?encontros? são expandidas e o ?medo do outro próximo? também. Talvez a ?digitalização? do mundo, a velocidade do querer (instantâneo) e a facilidade de se conseguir em apenas um ?clique? aumente o estímulo ao ?universo? interiorizado de cada um com um latente tédio, uma cobrança exacerbada, uma pressa intransigente, uma falta de tempo surreal e uma tristeza em constante progressão. Talvez essa ?sociedade? em que vivemos tenha a ?consciência? equivocada de que para que se tenha um futuro, o anacronismo, necessariamente, precise ser mitigado ao extremo. Não há lugar ao retrógrado. A ouvir discos em vinis, a sentir um amor puro, a não pensar em infinitas consequências ?maléficas? do ser humano. Jason não tem esse problema. Integra o ?obsoleto? com o ?pop?, gerando um equilíbrio perfeito. Outro elemento técnico que ?Homens, Mulheres e Filhos? se utiliza é a câmera, que extrai dos seus personagens os silêncios, a verdade da hipocrisia e o real desejo do fazer. É quase um ?drone?, que capta imagens próximas (e trêmulas ? meio que sobrevoando), de artificialidade (logicamente por ser um robô só há objetividades), mas sem a interferência subjetiva sentimental. E é nesta superficialidade que percebemos a espontaneidade (da falta da câmera). Se antes o drama era dosado com humor ácido, agressivo e sarcástico, aqui é pela apatia, questionando se a metáfora ?autista? tem cura. O filme baseado no livro homônimo Chad Kultgenque ?destrincha? situações cotidianas como de um casal que não tem intimidade (Adam Sandler e Rosemarie DeWitt), de uma garota que quer ser uma anoréxica melhor (Elena Kampouris); de um adolescente que vive em num mundo de pornografia virtual, uma mãe obcecada por proteger sua filha do mundo real e virtual (Jennifer Garner), um adolescente que não quer participar do time da escola e sim jogar videogame (Ansel Elgort, de ?A Culpa das Estrelas? ? que tenta aqui repetir seu papel anterior ? sem prejudicar o contexto) e outra mãe que ?estimula? a sensualidade da filha (Judy Greer). É um filme de ?situações? (no melhor estilo ?Comédia da Vida Privada?), em que cada um tem sua própria importância, mas que se interagem pela proximidade do meio vivenciado. O longa-metragem cria a atmosfera de uma fábula de ficção científica, por narrar (pela sempre ótima Emma Thompson) ?passados-presentes? enviados a ?outras galáxias? pelo balé da ?gravidade? temporal, com Louis Armstrong na ?vitrola? espacial. É o eterno embate entre liberdade e controle de jovens de hoje em dia que não conhecem limites e que se sentem ?desamparados? e vitimados pela excessiva permissividade. Concluindo, é incrível como o Jason Reitman não perde a mão em realizar filmes. Retrata com suavidade nosso universo solitário e vazio que estamos vivendo e opta por seguir por outra direção à temática apresentada em ?Bem-vindo à casa de Bonecas?, de Todd Solondz. Se no filme de 1995, há realismo ácido e agressivo, aqui, há suavização pela emoção não óbvia, tampouco sentimental. ?Como pai, você percebe que há coisas lá fora que pode ser doloroso para todos, e é logo ali, se você apertar um botão e você está fazendo de tudo para proteger sua vida e sua família de ir por esse caminho?, disse Adam Sandler, durante a coleiva de imprensa no Festival de Toronto.
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