Crítica: Lola
Cinema

Crítica: Lola


Ficha Técnica

Direção: Brillante Mendoza
Roteiro: Linda Casimiro
Elenco: Anita Linda, Rustica Carpio, Tanya Gomez, Jhong Hilario, Ketchup Eusebio, Benjie Filomeno
Fotografia: Odyssey Flores
Direção de arte: Harley Alcasid e Chris Garrido
Edição: Kats Serraon
Produção: Ferdinand Lapuz
Distribuidora: Lume Filmes
Duração: 110 minutos
País: Filipinas/ França
Ano: 2009
COTAÇÃO: EXCELENTE




A opinião

Em seu mais recente filme, o diretor filipino Brillante Mendoza aborda a história de um amor incondicional de duas ?Lolas? (avós). Cada uma possui uma versão e está em um lado diferente. De um lado a avó do neto que matou, acidentalmente, um jovem. Do outro lado, a avó do neto morto. Uma precisa realizar todos os meios (possíveis e impossíveis) a fim de que possa tira-lo da cadeia. Já a outra, precisa fazer de tudo para conseguir dinheiro para o enterro. Duas vidas, duas histórias, duas perspectivas que se interconectam por um trágico acontecimento. Mendoza direciona a trama pelos detalhes, captando a essência da interpretação dos personagens. Assim como fez nos seus filmes anteriores, a camera parece estar invisível, não causando desconforto, deixando a naturalidade da ação individual acontecer, mesmo quando se relaciona com o próximo e ou com a figura pretendida ao benefício esperado: a saída da prisão e o sepultamento. Uma avó anda com uma criança. Vai à igreja, passa por comunidades carentes, mendigos, por vento, tentando em vão acender uma vela. A luz natural, não tecnicamente, infere, sutilmente, o movimento Dogma 95. É direto, respeitando o tempo da ação. Retrata o ambiente pelo qual a personagem passa, mostrando o cotidiano social e atual: o transporte público (o caminhão van), o celular de uma mulher, o roubo.

Traça o perfil filipino de ser. O dia-a-dia real. É tão convincente, que todos parecem atores natos. A avó transmite, em seus olhos, resignação e aceitação das coisas serem assim. Ela não quer muito. Todo o percurso, desde a palafita, foi necessário para que escolhesse o caixão de seu neto. O agente funerário frio, seco, tentando vender o mais caro (e impaciente). É a briga entre futilidade capitalista e a figura sentimental da morte. Ela não entende a linguagem. A filha a ajuda no gestual. Ela precisa ser forte. Lidar com o sofrimento, as consequências da velhice e tomar decisões. Mostra-se a dificuldade, a garra para seguir adiante e a frieza das relações humanas, quando tenta arrecadar a quantia ao enterro. Cada uma faz o que pode a fim de ajudar seus netos. A outra é camelô (proibido ? sem licença), não sabe ler, e apresenta maiores dificuldades. Vendedora que engana os clientes por um pouco mais de dinheiro. Come bananas e legumes podres, e cuida de familiar doente. ?As boas ações é Deus quem cria?, diz-se. No enterro, o caixão sai da palafita, após ser velado, e parte em plano longo, observando de perto, experimentando ângulos de imagens (com sombras e contrastes, no trem ? incrivelmente fantástica).

A fotografia da noite parece uma pintura em movimento. Não há clichê, não suaviza, mostra uma realidade editada, porém crua. No trem, uma equipe de filmagem cria a metalinguagem em um lugar em que tudo que se lê está em inglês, mas a cultura local está preservada na linguagem apresentada, pelo menos. Elas enfrentaram tudo. A avó mais necessitada pede perdão, paga por ele e assim a história termina, transmitindo a mensagem final de todos os longas-metragens. Cada um possui a escolha. E isso não é julgado. Vender a ética? O dinheiro ser mais importante que a raiva? Comprar a raiva? Só elas que sabem. Concluindo, um filme excelente, que de tão natural, convence como se a camera não existisse. As interpretações são espetaculares, com a simplicidade de um tema que ganha a polêmica por aprisionar o espectador à trama. Vale muito a pena assistir. Recomendo. Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2009. O ator que interpreta o personagem Mateo tem o curioso nome (para os brasileiros) de Ketchup Eusebio. ?Lola? foi inteiramente rodado nas Filipinas.





SAIBA SOBRE O DIRETOR --> AQUI

(Matéria Especial)




Com a Palavra, o Diretor




loading...

- Crítica: Lola (filipinas/frança, 2009)
Lola (Filipinas/França, 2009) gira em torno de um crime: um jovem morre esfaqueado por um assaltante que pretendia roubar o seu telefone celular. O diretor Brillante Mendoza explora as repercussões do crime nas famílias da vítima e do agressor:...

- Crítica: Sapi
Por Fabricio Duque "Sapi" demonstra mais uma experimentação de gênero do diretor filipino Brillante Ma (acrescentando mais uma vez o "Ma" no nome - de "Serbis") Mendoza (leia aqui sobre o cineasta). Homenageando o cinema terror oriental (contextualizando...

- Mãe E Filha
?Uma obra de arte? A opinião (por Fabricio Duque) ?Mãe e Filha?, dirigido por Petrus Cariry (de ?O Grão?), participa do gênero autoral cinematográfico ao inserir tempo; contemplação; simplicidade; existencialismo; poesia crua e cotidiana; silêncio;...

- Crítica: Serbis
Ficha Técnica Direção: Brillante Mendoza Roteiro: Armando Lao, Boots Agbayani Pastor Elenco: Gina Pareño, Dan Alvaro, Mercedes Cabral, Julio Diaz, Bobby Jerome Go, Roxanne Jordan, Jacklyn Jose, Kristoffer King, Coco Martin Duração: 90 minutos País:...

- Diretor: Brillante Mendoza
O cinema filipino destaca-se no circuito mundial, imprimindo competência narrativa (extremamente simples, porém com temas polêmicos e sérios) e naturalidade interpretativa (cada vez mais próximo do quase documentário). Entre a trupe de cineastas...



Cinema








.