Cinema
Crítica: Magnólia
Estava falando com a minha namorada hoje o como eu gostei desse filme e o quanto tenho vontade de vê-lo várias vezes, apesar de ele não concordar tanto com isso, mas eu até que a entendo. Magnólia é um filme difícil de se ver, é muito angustiante, asfixiante, denso, pesado, aborda temas muito fortes e toda a construção do filme nos leva a uma sensação sufocante que nunca consegui presenciar em outro filme de um modo tão forte. A edição feita pelo próprio diretor o polêmico e genial Paul Thomas Anderson foi justamente visando tocar o espectador dessa maneira bem particular, tornando o filme tão forte que chega a incomodar muitas pessoas, algo similar feito por Lars Von Trier em Dogville.
A história se desenvolve em Los Angeles, nos arredores da rua Magnólia, acompanhando um dia na vida de nove personagens, que moram na mesma área e cujas histórias se cruzam por coincidências do destino. O filme aborda diversos temas polêmicos, como incesto, homossexualidade, drogas e violência. O roteiro se preocupa em, rapidamente, apresentar cada um deles, até como forma de o espectador se situar na trama. Assim, temos Earl Partridge (Jason Robards), um sexagenário produtor de televisão, que está em seu leito de morte, aguardando o câncer encerrar o trabalho que já iniciou. Ele é casado com Linda (Julianne Moore), uma mulher muitos anos mais jovem, que aceitou o casamento unicamente pelo dinheiro, mas que, naquelas horas finais, descobre que o ama.
Earl tem ao seu lado o enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), uma boa pessoa, que sensibiliza com os problemas de seu paciente, e luta para colocá-lo ao lado de seu filho, Frank Mackey (Tom Cruise), antes do evento trágico. Este, por sua vez, é uma espécie de Lair Ribeiro da sexualidade, que ensina aos homens a árdua e heróica tarefa de como seduzir e conquistar as mulheres. Paralelamente, Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é um âncora de um programa tipo O Céu É O Limite, produzido por Earl, e que é exibido há mais de 30 anos. Ele também está combalido pelo câncer, e com pouco tempo de vida. Do ponto de vista pessoal, Jimmy tem problemas de relacionamento com sua filha Claudia (Melora Walters), rebelde, viciada em drogas pesadas, e que se entrega ao sexo com estranhos. Ela encontra no policial de rua, Jim Kurring (John C. Reilly), uma chance de estruturar novamente sua vida.
Do ponto de vista profissional, Jimmy, pressionado pelo câncer e pela ausência de diálogo com a filha, começa a ter dificuldades de comandar o espetáculo televisivo, respondendo de antemão as perguntas que ele mesmo elaborou para seus candidatos. Um deles é o garoto Stanley Spector (Jeremy Blackman), um gênio de conhecimentos gerais, que está prestes a bater o recorde do programa e, por isso, receber um boa quantia em dinheiro como prêmio, sobre o qual seu pai não vê a hora de colocar as mãos. Enquanto isso, Donnie Smith (William H. Macy), famoso por ter sido, no passado, o detentor deste recorde, atualmente é um quarentão fracassado, lutando para manter-se no emprego de favor, e tentando conquistar um jovem barman.
O roteiro escrito por Anderson teve "Claudia" como a primeira personagem a ser criada, todos os outros protagonistas são uma conseqüência dela. O diretor aproveito ainda e convocou vários atores que participaram também de Boogie Nights - Prazer sem limites, filme anterior de Paul Thomas Anderson, entre eles estão Julianne Moore, William H. Macy, John C. Reilly, Philip Seymour Hoffman, Alfred Molina, Luiz Guzman, Philip Baker Hall e Ricky Jay.
Além de um elenco de grande destaque e muito bem produzido, chamaram a atenção a atuação de Tom Cruise (lhe rendendo inclusive uma indicação ao Oscar), que teve o papel de "Frank T.J. Mackey" escrito especialmente para ele. Jason Robards fez seu último papel no cinema, vindo à falecer pouco depois do fim das filmagens. Além do clima denso Anderson acrescentou alguns detalhes ao filme para torna-lo ainda mais peculiar, em quase todas as locações do filme apresentam um quadro ou uma foto da flor magnólia, além de ao longo da história faz várias referências ao números 82 e 23.
Assim como o filme indicado na semana passada Magnólia é um filme muito bom, mas muito forte e denso e as vezes isso espanta alguns espectadores. Saber passar por esse impacto inicial e conseguir apreciar o filme é um desafio para os mais habituados com os roteiros fracos e vazios de Hollywood, mas a recompensa com certeza vai valer e muito. A mão do diretor esta impecável, Anderson consegue tirar a dramaticidade necessária em cada cena e transborda para tela o dilema dos personagens que são muito bem delineados e trabalhados, coisas que poucos conseguem fazer.
Nota: 9,5
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