Crítica: Nebraska
Cinema

Crítica: Nebraska


NEBRASKA


Um pai idoso e alcoólatra (Bruce Dern) viaja de Montana ao Nebraska com seu filho (Will Forte) que ele não encontra há anos, na intenção de receber o brinde vencido em uma promoção na TV.

Por Fabricio Duque


"Nebraska", de Alexander Payne. Em um primeiro momento, o espectador é conduzido à espera do sentimento. Porque conjuga a fotografia preto-e-branco com os primeiros diálogos clichês e tipicamente americanos. Mas tudo muda quando o filme se desenvolve. Começamos a perceber que a história é na verdade sobre a sobrevivência na velhice (com o passado mal resolvido - arrependimentos e ou amores escondidos), esta que precisa conviver com a pressa, o "olho grande" dos ditos "amigos" e ou família, e as inúmeras atribuições dos filhos jovens. É um filme sobre um homem idoso "que acredita em tudo que contam a ele". A metáfora busca resgatar a simplicidade das pequenas ações e princípios. Como toda estrutura fílmica americana, há diálogos de gatilhos comuns que buscam a cumplicidade de quem assiste, principalmente do próprio público americano. Mesmo assim, o espectador não consegue ficar imune a lágrimas do final, dotado de sutileza de uma vingança "branca" e perfeitamente saudável. "Um Relato da nova grande depressão. Todo filme carrega a marca do seu tempo. A nossa é a melancolia", disse o diretor Alexander Payne. 

Por Francisco Carbone


O tempo e as pessoas. E incrível como tudo passa, o tempo passa, e quando menos esperamos, deixamos de ser filhos, viramos pais, viramos velhos, viramos descartáveis. O tempo e suas contradições, nos entrega sapiência mas nos tira disposição; nos tira muita coisa, e só resta torcer pra que tudo vá embora sem que notemos. O tempo passou pra Woody Grant. Sua esposa Kate não sabe mais o que fazer e seus filhos não conseguiram criar laços com o pai. A idade de Woody lhe fez um homem difícil e calado, a família Grant parece fadada ao silencio. De repente Woody anuncia um prêmio de 1 milhão de dólares ganho, e seu filho mais jovem resolve levar o pai pra receber tal prêmio, que ninguém acredita existir. No caminho, a família Grant será revistada, e a relação entre pai e filho sacudida. Não é a primeira vez que Alexander Payne fala sobe a velhice, os desvalidos, nem investe num road movie; sua carreira praticamente se alicerçou sobre esses temas. O requinte cênico aqui acaba casando com um roteiro excepcional e um elenco que dá o sangue e os ossos em cena, com Bruce Dern reacendendo uma chama que há muito não crepitava, enquanto June Squibb é simplesmente espetacular. Observar a viagem de Woody e família é uma prova de fogo pra quem facilmente interioriza o cinema, e Payne sabe como jogar pra plateia sempre. Com talento recobrado (depois do descartável 'Os descendentes'), o diretor faz das memórias de um homem o momento-limite onde ligamos uma chave interna pra analisarmos nossas próprias atitudes. Que seja também grande realização é um presente de todos os envolvidos para o público.


O Diretor. Constantine Alexander Payne, nascido em 10 de fevereiro de 1961 em Omaha, no estado americano do Nebraska, é um cineasta americano de descendência grega. Seus filmes são conhecidos pelo senso de humor negro e representações satíricas da sociedade americana contemporânea. Seus filmes também tratam de adultério e relacionamentos. Payne faz algumas cenas em locais históricos e museus, e costuma usar pessoas comuns para papéis menos relevantes (policiais reais atuam como policiais). Ele também incorpora monólogos no telefone como um recurso dramático.
Payne geralmente escreve roteiros em parceria com Jim Taylor.

Filmografia

2011 - Os descendentes (The Descendants)
2006 - Paris, eu te amo (Paris, je t'aime)
2004 - Sideways - Entre umas e outras (Sideways)
2002 - As confissões de Schmidt (About Schmidt)
1999 - Eleição (Election)
1996 - Ruth em questão (Citizen Ruth)
1992 - Inside out (episódio "My secret moments")
1991 - Passion of Martin, The (média-metragem)



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