Cinema
Crítica: Ninf()maníaca Volume II
Não Se Reprima, Não Se Reprima
Por Fabricio Duque
Leia também: "Ninf()maníaca Volume I"
Vamos começar por fatos. No universo cinematográfico há o talento (geralmente restrito ao ambiente independente) e há a estratégia marqueteira de se ?vender? os filmes (indiscutível no gênero comercial)., como já foi devidamente defendido na crítica do volume anterior. Mas como toda regra tem exceção, podemos ?visualizar? em ?Ninfomaníaca Volume II?, do diretor Lars von Trier (um dos criadores do manifesto dinamarquês ?Dogma 95?, de ?Dogville?, ?Melancolia?, ?Os Idiotas?) a ?união? midiática, talvez por se utilizar da polêmica como elemento de partida. Sinceramente, esses questionamentos não importam mais, a menos que não se tolere seu diretor (um ?personagem? performático). Mesmo assim. Não podemos negar, nem questionar, sua mastria ao dissecar, teoricamente e pela necropsia mental, o comportamento do ser humano, que necessita viver com limites sociais politicamente corretos, transformando simples palavras em armas verborrágicas (exemplo do termo ?ninfomaníaca? transfigurado em ?viciada em sexo? ou ?negro? trocado por ?afrodescendente?). Alguns dizem que a visão manipuladora (com suas teorias ?brainstorm? de ser, em uma "tempestade" surreal de "máximas") e misógina impedem a ?absorção? dos temas abordados. Neste caso, no filme em questão, o estudo (em capítulos) sobre as histórias (contadas) de uma mulher que ?desejou? explorar intensamente o desejo sexual e ?encontrou? a hipocrisia no repúdio não compreendido das possibilidades existenciais de um indíviduo. Talvez, muito provalvelmente, a segunda parte do novo longa-metragem de Lars, que no Festival de Berlim deste ano fez picardia com o Festival de Cannes, usando uma camisa ?persona non grata?, devido ao fato de ter sido banido por usar ?opiniões? ao nazismo (especificamente a Hitler), seja sua "ópera" cínica e terapêutica. Se podemos pensar sobre tudo, então por que as ?podas? sociais (de outros iguais)? Por que não questionar ideias bíblicas? Por que não entender a arquitetura ?sensorial? de nosso cérebro (que nos fornece tantas opções de ser e de agir)? Os porquês do dinamarquês são expostos sem medo de represália, sem ressalvas, com efeito e com polêmica sim, porém com controle sobre a ?discussão?. O embate entre um celibatário e uma ?viciada em sexo? busca estrutura teatral de Samuel Beckett, narração redundantemente visual (com ?humanizações? no tom de voz (ora para chocar, ora para demonstrar piedade, ora para excitar). Quem diz que sai imune de um filme de von Trier está mentindo. É impossível. A câmera estilosa de ?Dogma 95? cria a intimidade com o espectador, o transformando em cúmplice ao ?assistir? as ?pseudos? maldades da alma, como no livro ?Caim?, de José Saramago. Podemos ver as perversões, jogos psicológicos, humilhações (pelo próprio querer e ou pela ?culpa? massificada há tantos e tantos anos). Em relação à continuação, ?Ninfomaníaca Volume II?, mostra-se mais ?verborrágico?, mais ?embasado?, com menos foco em quem realmente está ganhando na ?ideologia?. E há o acréscimo do sadomasoquismo, aludindo, explicitamente ?A Professora de Piano?, de Michael Haneke. De novo, alguns ?reclamaram? da repetição apresentada. Ora, talvez tenham se esquecido de que um vício se concretiza por ser repetitivo e constante, logo as ?semelhantes? cenas criam o aprofundamento temático. Concordo com os que dizem que a parte dois não funcionaria se fosse separada do contexto. Lógico que não. Um filme, que deveria ter sido exibido integralmente (com suas quase cinco horas) ao público (majoritariamente ?puritano?) brasileiro, não seria possível visto as regras de mercado, por exemplo. Portanto, a ?quebra? era obrigação necessária. Talvez, em hipótese alguma busca-se ?agredir? nenhum ?colega? de profissão, tampouco aos espectadores, mas o que deve incomodar é o assunto propriamente dito, já que confronta nossas ideias (e percepções) já enraizadas e pré-conceitos definidos sobre todas as coisas. Concluindo, mais um vez, um filme que demonstra a genialidade de um cineasta que gosta de provocar (e se utiliza da mídia para isso - algo de errado?) e que tenta romper o politicamente correto de se achar que a opinião do outro (e ou o tipo de desejo) é inferior (e ou menos inportante) que o nosso. Obrigado Lars pelo sermão! Amém.
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