Crítica: O Cavalo de Turim (A Torinói Ló/2011)
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Crítica: O Cavalo de Turim (A Torinói Ló/2011)



Um filme precisa de uma trama sensacional ou uma história fascinante para ser considerado uma grande realização? O nosso saudoso Glauber Rocha já dizia que o cinema é áudio e visual, não precisa de história ou a mesma seria mero detalhe na concepção desse polêmico diretor. Bom, também sou adepto daqueles que acreditam que o cinema pode ser grande e interessante apenas usando de imagens e sons, como nessa maravilhosa produção européia que é O Cavalo de Turim. Um filme que emociona pelo detalhismo de suas cenas e tem o mérito de fazer isso em uma representação que é pouco emocional pelo ponto de vista humano e ainda parecendo que apenas aquele sofrido animal realmente tem sentimentos feridos.

No começo do filme temos uma explanação em off sobre um cavalo que o filósofo alemão Friederich Nietzsche salvou de um linchamento em 1889, tendo ainda adquirido o animal para si, o levando para Turim. Logo depois o mesmo narrador nós conta sobre a loucura que se apossou de Nietzche e que por ter que ser cuidado pelas irmãs, o filósofo teve que se desfazer do cavalo. Então daí parte o ponto de vista da parca trama: O que teria acontecido ao cavalo de Nietzche? Ao final dessa indagadora explanação inicial, o espectador é levado a um longo plano seqüência sensacional de um senhor conhecido como Olsdorfer (János Derzsi), que parece ser agora o detentor do animal, conduzindo o cavalo por terrenos inóspitos, envolvidos por uma espessa névoa e um vento cortante. Alías, o que é a sonoplastia desse filme? Diria que rara, fazendo o próprio vento surgir com um dos principais personagens do filme.

O cinema do diretor húngaro Béla Tarr se assemelha em alguns aspectos com o do austríaco Michael Haneke, com longos enquadramentos estáticos, dando tempo ao espectador explorar cada canto da cena, como se fosse um quadro. Na verdade, todo O Cavalo de Turim parece uma pintura em movimento, daquelas sufocantes, com momentos detalhadamente captados pela câmera de Tarr, que sem pressa constrói o cotidiano monótono daquele pai e filha (Erika Bók) vivendo em um lugar pouco povoado, isolados ainda e com uma relação quase inexistente de afeição mútua, o que ainda rende pouquíssimos diálogos e mesmo quando um senhor surge na casa para lhes pedir bebida, causando uma única cena de verborragia exacerbada, o diretor parece colocar apenas para afirmar a sua intenção de mostrar que muitas vezes as palavras não querem dizer nada ou usar muito bem aquele clichê de que uma imagem vale por mil delas. 

Ainda tocado pela forma como Tarr comete seu filme, que cresce na consciência quando relembrado, e mesmo sendo uma realização longa (150 minutos) e que ainda parece não acontecer nada ou muito pouco, em nenhum momento O Cavalo de Turimse mostra chato ou maçante, pelo contrário. Repleto de momentos lindamente melancólicos em que esse brilhante diretor constrói usando apenas o vento e nos brindando ainda com outros planos seqüências impressionantes, como quando a dupla fica sem água em casa e precisa sair para arrumar alguma, é inevitável ao final do longa afirmarmos que estamos diante de uma obra-prima. 






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