Crítica: O Julgamento de Viviane Amsalem
Cinema

Crítica: O Julgamento de Viviane Amsalem


Por Fabricio Duque

Há filmes que causam desconfortos aflitivos no espectadores, devido à carga dramática do tema abordado. ?O Julgamento de Viviane Amsalem? é um deles. O longa-metragem, dos diretores Shlomi Elkabetz, Ronit Elkabetz, disseca o comportamento machista dos homens judeus ortodoxos de um Israel radical, que se utilizam da religião a suas necessidades pessoais (?adaptando" o que está escrito no Torá), perante às mulheres, ?seres" que ?sobrevivem? à sombra dos maridos. O único desejo da personagem principal, Viviane Amsalem, uma mulher independente, cabeleireira, com quatro filhos e que a única coisa que quer é poder separar de seu esposo, por não o amá-lo mais. Assim, a alegoria crítica sobre o divórcio (Gett) está montada, reverberando rachaduras hipócritas nas opiniões ?ignorantes" e limitadas dos rabinos (que têm ?última palavra?). Aqui, deturpa-se os reais motivos. De um lado, defende-se a índole do bom marido, de outro, a vontade ?inconsistente" e incompreendida da mulher ?propriedade? (que não ?vale nada?). E sempre é enaltecida a moral dos envolvidos. ?O Julgamento de Viviane Amsalem? incomoda por confrontar quem assiste, nós ocidentais, a uma ?pseudo" democracia, que não existe, visto que a última palavra condescendente é sempre do homem. A mulher precisa da ?voz" do advogado. ?O marido batia na mulher? Depende do que se considera violência?, diz-se com um único cenário, entre planos longos e estáticos, contudo, sem deixar de imprimir ritmo narrativo de cinematografia clássica, que se caracteriza por preterir a história à forma. Assim, é mitigado todo e qualquer gatilho comum e clichê aparente, descrevendo com realidade naturalista as ideias e consequências, aprisionando o espectador no universo intolerante enraizado por uma narrativa de tensão aflitiva de impotência. Aqui, o motivo subjetivo (apenas do não querer) não representa um motivo real. Os personagens (homens) alimentam-se da própria regurgitação, dando voltas em ideias antiquadas, atrasadas e preconceituosas. É o eterno orgulho de macho, que vê na mulher um objeto de posse e que a perda atenta contra a moral ?fofoqueira" da comunidade. Eles não querem que os outros ?esfreguem seus fracassos?. Se não há razão óbvia como adultério e ou violência sofrida, então ?não há motivo para conceder o divórcio?. O longa-metragem é a necropsia de uma sociedade israelense-hebraica, em que a figura feminina não tem direitos, ?despreza? desejos individuais e só serve para servir com ?respeito? e "medo" (cozinhar, ter filhos e ?tentar salvar o casamento? - ?um lar judeu exemplar? - a todo custo). O ?amor" apaixonado não está em pauta e importância. A trama mostra o processo deste pedido de divórcio que ?corre em círculos" (que se arrastou por cinco anos), criticando a Justiça lenta e conivente ao marido, buscando sempre a ?reconciliação? (caso contrário, ouve-se que se está ?desperdiçando o tempo do Tribunal?). ?Eu fiz a minha mulher ser a mulher certa?, diz-se. A protagonista, interpretada magistralmente pela atriz Ronit Elkabetz (de ?Alila?) enfrenta uma guerra. Um inferno contra os ?respeitados e versados no Torá?. ?Todos estão sendo julgados?, confessa-se. ?O Julgamento de Viviane Amsalem? é uma crítica ferrenha às relações sociais e uma terapia catártica ?lava roupa suja?, que cria o desespero, apatia, a resignação, a desesperança e acima de tudo a morte do ser humano como indivíduo social. Recomendado.



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