Crítica: Soy Nero
Cinema

Crítica: Soy Nero


Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Berlim
16 de Fevereiro de 2016

Nunca me incomodei tanto com um filme como é o caso de ?Soy Nero?, do diretor iraniano Rafi Pitts (de ?Zemestan?, ?Shekarchi - The Hunter?), integrante da competição oficial do Festival de Berlim 2016, que é uma ode ao povo mexicano contra os Estados Unidos da América, este que participa da metáfora da história da Formiga (os não americanos) e o Elefante (americanos). É um longa-metragem sobre imigração, sobre cruzar a fronteira de Tijuana a "Terra dos Sonhos?. Tudo, sem excessão, reverbera xenofobismo, fascismo, alienação social por uma estrutura atmosférica por estereótipos extremamente maniqueístas e de preconceitos enraizados da raça e do visual, definindo americanos ?legítimos" como ?idiotas?, ?estúpidos?, (como ?apenas um negro com uma arma" que não aceita a presença-?geografia? e que implica com o nome árabe de um americano - esquecendo que em um passado não muito distante, eles também sofreram com o ?exílio" social-existencial) soldados-zumbis-máquinas que não pensam em situações-limites e que zombam dos costumes de outros países. O protagonista nascido ?legítimo?, mas por não estar com a identidade e parecer um imigrante, é deportado ao México, até que em um dia consegue avançar ilegalmente ao lado americano para encontrar seu irmão. Encontra um motorista ?simpático?, "surtado" e bipolar. Aí, é uma sucessão de gatilhos comuns a fim de ajudar a história, como o nome de seu irmão, Jesus, que irá salvá-lo e ressuscitar dos fantasmas do passado (que aparentemente vive em uma mansão em Beverly Hills, Los Angeles - ?está trabalhando com drogas??, pergunta o recém-chegado, que quer entrar no exército com o objetivo de se tornar um ?típico-inquestionável-herói-patriota?). As liberdades poéticas ?cúmplices" são muitas (interpretação forçada, defensiva, sentimental, exaltada, encenada e teatralizada; o tratamento nervoso, despreparado e agressivo dos policiais; a música relaxante para ?entrar" no mundo irreal e mágico; ações e reações super-alteradas). A verdade aparece, ele acorda, a realidade o ?assalta?, a música do Sonic Youth crava em seus ouvidos, ?ganha" a seguridade social falsa. Em certo momento, o filme faz uma mea-culpa mostrando que nem todos os americanos são tão debochados, ?retardados? e que acreditam incondicionalmente que seus poderes nunca acabam. É ironia em cima de ironia. Manipula-se a unilateralidade crítica. É a jornada épica de se buscar um lar projetado em tom fábula realista que ?prova? que americanos do norte sabem sim de tudo e que vivenciam o perigo-medo iminente de que serão bombardeados a qualquer momento, exacerbando a pretensão em ser um herói, mas que toda provação é vencida pela ?limitação mecânica? do povo que fala inglês. ?Soy Nero? incomoda como cinematografia e também como temática.



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