Crítica: Sudoeste (2011)
Cinema

Crítica: Sudoeste (2011)


Clarice Lispector, grande romancista brasileira, em suas obras têm como características principais fluxos de consciência e metalinguagem. Clarice mergulha em sua alma e transcreve o que sente, tentando desvendar as verdades do ser humano atingindo-o em sua essência através da linguagem. Para fazer isso ela não define um tempo, vive dentro e fora dele.

Sudoeste é o primeiro longa de Eduardo Nunes, veterano em curtas-metragens e co-roteirista de Árido Movie (filme de Lírio Ferreira, 2005). Em entrevistas, Nunes diz que foi difícil realizar esse projeto, pois o roteiro não vendia bem o filme. Depois de refazer tantas vezes, ou seja, depois de quase dez anos, o filme finalmente saiu. Todos os profissionais da técnica, atores e locações foram escolhidos a dedo. Feito com muito cuidado e profissionalismo, Sudoeste é um filme que quer causar impacto e balançar a cabeça do espectador.

O primeiro impacto é causado logo nos primeiros segundos de filme quando vemos uma tela menor verticalmente causando uma desproporção que aguça a horizontal, além da utilização do preto e branco um pouco granulado. Não fica difícil imaginar, logo no primeiro plano-sequência, que as influências de Nunes na sétima arte são, entre outras, do cineasta Andrei Tarkovsky, que através da imagem brincava com a passagem do tempo. Aliás, Nunes confessa em entrevistas que as pessoas dizem para ele que o primeiro plano de Sudoeste é parecido ao primeiro plano de O Cavalo de Turim (2011) de Béla Tarr, outro cineasta que bebe na fonte do russo Tarkovsky.

O segundo impacto é a história. Usando o realismo fantástico, o roteiro ? assinado por Nunes e Guilherme Sarmiento ? carrega uma personagem principal chamada Clarice (Regina Bastos, Simone Spoladore, Raquel Bonfante). Homenageando ou não, a referência a Clarice Lispector fica clara quando Clarice de Sudoeste tem um tempo diferente dos demais do vilarejo onde mora. Clarice, no decorrer de um dia, nasce, cresce, envelhece e morre. Nunes através de Clarice quer nos atingir em nossa essência através da linguagem do cinema. Ele preza por um filme que tenha silêncios e que faça o espectador pensar enquanto assiste. Sudoeste com sua estética naturalista reforça e nos faz refletir sobre a percepção do tempo. E esse tempo pode desvendar as verdades do ser humano e do mundo.

Aberto a múltiplas interpretações, Sudoeste é um filme que tem muito a dizer. Na narrativa, fotografada pelo cobiçado Mauro Pinheiro Jr., e que tem duração de 128 minutos, descobrimos misturas e referências da literatura e da filosofia. O que pode incomodar no filme é o rigor técnico e a busca maciça pela perfeição, mas poucos conseguem contar uma boa história com excelência. Eduardo Nunes releva-se um cineasta ambicioso que merece ser observado.


Trailer do Filme:





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