Cinema
Crítica Argo
O Resgate de Jéssica
Argo
Nota: 8,0Adoro filmes políticos. Que me desculpe quem não gosta de política ou diz que não tem nada a ver com ela, mas tudo que se fala é uma mensagem, um discurso, e tudo que se faz carrega consigo valores, ideologias e princípios, e tudo isso é política. E ela afeta o cotidiano de todos nós, ainda mais hoje, no mundo globalizado que vivemos, onde as fronteiras estão cada vez mais tênues e cada vez mais protegidas. Mas claro, como tudo na vida, tudo tem dois lados. E a política tem vários lados. Então gostar de um filme político também depende de qual agenda que está sendo abordada no filme. E se ela serve para levar uma história adiante, ou se ela vira propaganda, como no caso de Won’t Back Down.
Meu apreço pela carreira artística do Ben Affleck é quase o mesmo que tenho por um CD do Latino. Mas tudo isso vem de uma antipatia minha por um sucesso meio que imposto, seguido por sua figura pública pouco interessante. Mesmo ele tendo feito Dazed and Confused, sua carreira começou de fato com aquela jogação de confete desnecessária que foi Gênio Indomável, um filme bom, irregular, que começa piegas e depois melhora, mas que foi alçado a obra prima pelas campanhas de marketing de Hollywood, como elas tanto fazem. E o pior é que as pessoas acreditam nessas coisas. A Alemanha acreditou em Hitler, não? (Obs: Não estou comparando-o com Hitler, só estou dizendo que uma campanha de marketing eficiente vende qualquer peixe.)
Depois disso, virou astro e fez muita porcaria. Ele briga tapa a tapa com Keanu Reeves pelo troféu canastrão da indústria. Eu fui à uma palestra de um diretor (que prefiro deixar no anonimato) em que ele dizia “trabalhei com Affleck nos anos 90, em um filme. Um ano depois ele estava no Oscar. E eu me perguntava, como isso aconteceu? Eu costumo reconhecer talento quando o vejo.” Mas acredito que o que lhe faltou de talento dramático, sobrou de esperteza pra lidar com a indústria. E sabemos que hoje em dia cinema é muito mais negócios do que arte. Arte está nas ruas, nas esquinas, mendigando centavos.
Affleck deve ter investido boa parte dos seus contracheques em capacitação, observado e estudado muito bem os sets onde trabalhou e se lançou como diretor. Eu tenho até arrepios em dizer, mas reconhecer é necessário, ele fez bons filmes. No entanto esse é o melhor deles, com certeza. De longe. E a história é toda verídica. Com algumas licenças poéticas para transformar certos momentos mais cinematográficos, obviamente.
Todos (creio eu) sabem que o Irã é uma das nações islâmicas totalitaristas do Oriente Médio, e esse fator é o que constitui o mote principal do filme. Nos anos 70, quando o xá da Pérsia foi deposto do poder e o aiatolá teocrático e totalitário alçado ao governo, Washington deu asilo ao xá e a embaixada dos EUA em Teerã foi invadida por uma multidão revoltada ordenando o retorno dele, para que ele fosse julgado. Os indíviduos na embaixada que foram pegos pela multidão viraram reféns, mas uns poucos funcionários conseguiram fugir pela porta dos fundos e se refugiaram na casa do embaixador do Canadá.
Então o dilema ficou em como tirar esses refugiados de lá da casa do embaixador sem o governo iraniano perceber. Tony Mendez, um agente da CIA latino (feito pelo Ben Affleck, praticamente um dançarino de rumba hondurenho) arma o plano de criar uma equipe de produção de um filme fictício, o tal do Argo, que vai ao Irã pesquisar locações para as filmagens. Com passaportes falsos para todos os funcionários, ele chega em Teerã para tirar esse pessoal de lá, se passando por esses cineastas canadenses.
Bom, o filme é muito bem feito, mescla gêneros eficientemente, e não se deixa ser exageradamente dramático, cômico ou aventureiro demais. Transita por todos tranquilamente. O elenco está afiado, e nem Affleck (que produziu e dirigiu o filme para si próprio) compromete, o que é difícil, sendo ele o protagonista. O restante do elenco, que tem Alan Arkin, Kyle Chandler, Bryan Cranston e John Goodman como destaques, são todos coadjuvantes, que aparecem bem pouco no enredo comparado a Affleck.
Minha crítica maior fica à indecisão do filme em tomar partido, se posicionar politicamente. Imparcialidade não existe, não adianta jornalista nenhum vir dizer isso. Todo indivíduo tem suas convicções políticas e em qualquer lugar do mundo todos os meios de comunicação têm seus interesses políticos claramente estampados nas suas manchetes. Nos EUA as redes de TV se dividem em democratas, como a NBC, ou republicanas, como a Fox. Já no Brasil todos os canais de TV são de direita. Além de quase todos os meios de comunicação impressos, como a Veja, a Folha e o Estadão.
O filme começa mostrando, em forma de storyboard de filme de super-herói, a história recente do Irã, contando como nos anos 50 os EUA e Reino Unido depuseram do poder um governo democraticamente eleito pra poder ocidentalizar o país e impor seus interesses no petróleo local. Algo parecido com o que os mesmos fizeram na América Latina, para manter suas influências políticas. E com isso, num efeito bola de neve, acabaram elevando essa facção fascista que hoje é responsável por esse governo ditatorial, que não só castra a sociedade iraniana, como os próprios EUA, que vivem em guerra com eles pra poder meter a mão no precioso óleo. Ou seja, uma visão bem auto-crítica da realidade dos fatos.
No desenrolar do filme, em contrapartida, a velha máxima conservadora prevalece: os inimigos malvados nos perseguem, temos que dar o fora daqui! Normalmente o Rambo vai lá e mata todo mundo, mas em um filme menos macarronesco sabe-se bem que o máximo que se pode fazer na casa do inimigo é fugir de lá. Incomodou-me também a forma estereotipada em que o povo iraniano é retratado, com exceção de uma serviçal que ajuda no “Resgate de Jéssica”... Então fica clara uma indecisão em se posicionar. Se vai se responsabilizar pelo que fizeram, pelo monstro que criaram, como parecem tentar no início, ou se vão simplesmente demonizá-lo, o que é sempre mais fácil e senso comum. Fazer simplesmente um filme de aventura dentro desse contexto tão real e atual não serve.
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