Crítica Cinema Alternativo: Kill List (2011)
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Crítica Cinema Alternativo: Kill List (2011)



O cinema alternativo europeu tem se especializado em realizar filmes de temática forte, muitas vezes apostando em um terror mais palpável. Saem fantasmas e estéticas clássicas e entram o poder da mente diabólica de um ser humano, inseridos em uma vida mais cotidiana. Na verdade, isso não chega a ser uma novidade, muitas obras de terror dos anos 70 usaram e abusaram desse expediente. Recentemente comentei que os filmes de terror cada vez menos metem medo, mas por outro lado apostam em outras nuances que ainda fazem o gênero um nicho interessante. Apreciador confesso que sou do gênero, sempre arrisco em obras pouco conhecidas ou desprezadas. E tenho chegado à conclusão que delas acabam saindo às gratas e assustadoras surpresas, como aconteceu com esse Kill List, um filme que me fez ter pesadelos, coisa que não acontecia há muito tempo.

Alguns dias atrás, li uma entrevista do diretor brasileiro Karim Ainouz (residente na Suíça) falando de como o cinema em geral se apega a esquemas de gêneros e também como as produções de origem nórdico-escandinavas, há muito tempo, quebraram esses paradigmas e transitam livremente pelos diversos gêneros em suas obras. O próximo filme de Ainouz, Praia do Futuro, vai ser algo tramado nesse esquema e esse tipo de tratamento, vem fazendo escola na Europa. A própria Hollywood recentemente recrutou alguns desses cineastas (na intenção de reciclar seu cinema) que ficaram em evidencia ao trabalhar essas temáticas, como o atualmente hypado Nicolas Winding Refn. O diretor inglês de Kill List, Ben Weatley, é novato na realização, mas parece ser um aplicado aluno do ?cinema gelado? que vem conquistando o mundo. O seu filme transita de forma competente pelos gêneros drama, ação e terror, fazendo de seu trabalho, uma obra que de tão assustadoramente realística, cria uma hiper-realidade. 

A trama começa nos jogando em um conflito conjugal entre o ex-militar Jay (Neil Maskell) e a esposa Shel (MyAnna Buring), também soldado reformada. Interessante como Jay é subjugado pela mulher, se mostrando quase que submisso à personalidade da esposa (talvez por ele estar desempregado a um bom tempo). Um desavisado pode achar que esta acompanhando um melodrama, tantas são as discussões entre o casal e como elas afetam o pequeno filho. Daí tem um jantar na casa do casal, aonde conhecemos Sam (Harry Simpson) e sua namorada Fiona (Emma Fryer). Um clima descontraído, apesar das constantes desavenças, mas que serve para situar o relacionamento entre Sam e Jay, de uma forte amizade. Entre cigarros de maconha e copos de vinho, os dois homens se destacam das mulheres e vão para a garagem da casa, na maior naturalidade, começam a manusear armas de grosso calibre e lembrar de quando eram soldados. Durante a conversa, Sam propõe a Jay um trabalho: o de assassinos contratados.

O tal trabalho consiste em matar três personalidades públicas: um padre, um sujeito envolvido com vídeos de ordem não apresentada (mas possivelmente pedófila) e um político influente. Jay não titubeia em aceitar a missão e assim eles partem. Nessa segunda parte do filme, entramos em uma típica trama de ação, com chefões do crime e uma montagem ágil que destoa abruptamente do ritmo lento inicial. O submisso e letárgico Jay assume uma personalidade psicótica, mirando em seus alvos com uma violência desmedida, o que rende momentos de gore únicos, como quando ele literalmente quebra um sujeito a marteladas ou quando esfacela o rosto de um outro homem na parede. A essa altura, o filme começa a ganhar contornos mais adrenergicos e uma tensão crescente é instaurada. No final do segundo trabalho, a dupla se desentende, até pelo descontrole de Jay e decidem por não realizar o terceiro assassinato. Claro que os contratantes não aceitam isso e impõe que o contrato seja concluído, fazendo ameaças às famílias. Assim eles invadem a casa do tal político. Mal eles sabiam que se deparariam com um terror impensável.

Nesse terceiro ato, o filme se abre escancaradamente como um terror pungente e visceral, sem contornos elucidativos, envolvendo ainda seitas satânicas e rituais macabros. São cenas que ficam impressas na retina de tão cruas e marcantes, que não explanarei aqui, porque quem tiver coragem de assistir, possa sentir o devido impacto dos momentos claustrofóbicos e angustiantes. Impressiona pela crueldade e de como o ser humano pode se sujeitar a maquinações execráveis, sempre se superando no quesito maldade. Se alguém tem dúvidas de que um filme pode tirar o sono ou torná-lo agitado, assista Kill List e tirem suas conclusões, mas depois não digam que eu não avisei.






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