Crítica de Filme: O Monge (Le Moine)
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Crítica de Filme: O Monge (Le Moine)



Adaptação do renomado e polêmico romance gótico publicado em 1796 pelo inglês Matthew G. Lewis, O Monge, dirigido pelo francês Dominik Moll é a história do Irmão Ambrósio (Vincent Cassel). Abandonado em um monastério espanhol ainda bebê, ele se torna um influente monge capuchinho em meados do século XVII. De forte personalidade, Ambrósio é um pregador fervoroso, defensor das virtudes católicas, intransigente até, ao ponto de condenar uma jovem freira por uma ingênua carta de amor a um rapaz. Muito respeitado, o monge é o alicerce espiritual da comunidade que rodeia o monastério, distribuindo conselhos nas confissões e inspirando os fiéis.
           
O roteiro adaptado pelo próprio Dominik Moll foca a narrativa sobre a influência de Ambrósio e do constante conflito que o monge mantém dentro de si. Ainda bebê, quando salvo dos corvos na frente do monastério, os monges divagaram sobre a marca de uma mão no ombro da criança. Alguns daqueles católicos acusaram o sinistro sinal como o toque de satanás e essa idéia nefasta permeia boa parte do filme, com as aves negras, conhecidos simbolismo do mau agouro, acompanhando o homem em boa parte das cenas. Se em um primeiro momento não existem dúvidas sobre o caráter de Ambrósio, logo suas virtudes são colocadas em jogo com a chegada de Valério, um misterioso noviço mascarado que surge no mosteiro e Antonia (Joséphine Japy), uma virginal jovem, admiradora confessa dos sermões exaltados do monge.

Assim como seu trabalho anterior, Lemming ? Instinto Animal, o diretor imbui O Monge de um clima crescente de estranhamento, sufocante, marcado por uma trilha sonora prenunciando alguma desgraça, tragédia. Não li a obra literária, mas como razoável conhecedor da Idade Moderna (séculos XV até XVIII) acredito que a ambientação, construída de forma crível, ora alternando entre um CG competente ora usando de cenários, casa perfeitamente com o gótico do romance do escritor Matthew G. Lewis. O diretor Dominik Moll confirma seu talento para filmar na penumbra, dando destaque para o sombrio e usando de elipses que lembram os filmes do expressionismo alemão. Resultado: inegável não afirmar a força imagética que Moll traz para sua obra.

Apesar do evidente poder das imagens na narrativa, a trama apresenta algumas fragilidades, sem delinear claramente as soluções. No entanto, vale lembrar que Dominik Moll também conduz seu filme anterior da mesma maneira, deixando para o espectador divagar sobre conclusões, o que invariavelmente pode incomodar um público ávido por desfechos mais tradicionais. Apegado a simbolismos, o diretor caracteriza sua obra com um bocado deles e ainda que o mote principal envolva a tensão sexual que tanto Valério quanto a virginal Antonia infringem ao protagonista, a temática secundária aborda de forma consistente o duelo entre o bem e o mal, o divino e o satânico. Se O Monge perde um pouco de sua força no terço final, apresentando um epilogo questionável, deve-se ressaltar o bom trabalho do ator Vincent Cassel, imerso no personagem, ele apresenta uma de suas melhores performances dos últimos anos.






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