Crítica de O Lado Bom da Vida
Cinema

Crítica de O Lado Bom da Vida


Há Males que Vem Para o Bem

O Lado Bom da Vida // Silver Linings Playbook

Nota: 10


De todos os filmes que estão (ou estavam) em alta nessa temporada de prêmios, esse é o meu favorito. Logo em seguida vem As Aventuras de Pi e As Vantagens de Ser Invisível, que já caiu fora do quadro das premiações, a não ser pela do sindicato dos roteiristas. Adoro filme sobre gente perturbada. Normalmente eles são dramas, como Garota, Interrompida e Um Estranho No Ninho. Visitar um hospital psiquiátrico é algo bem desconfortável, e é muito, muito fácil conversar com pessoas por cinco minutos, se assustar e apenas rotular como “louco”, internando-as para que não se tenha como lidar com elas. Lá elas ficam invisíveis e a gente não toma conhecimento, porque é desconfortável ter de encarar. Mas filmes como esse vão além, e dão mais humanidade e decência a essas pessoas, nos fazendo olhar através dos estereótipos. 

De doido todo mundo tem um pouco. Mas mesmo assim todos adoram julgar, e a linha entre razão e a doença é tão tênue que até especialistas divergem. Eu mesmo falo sozinho e ando em círculos dentro de casa. Quando criança fazia essas duas coisas brincando com uma bolinha, mangueira ou espanador. Hoje eu mantenho só a bolinha. Moral da história, macaco não olha o rabo. But I’m not crazy, my mother had me tested.

A estória é sobre Pat, que acabou de sair da clínica psiquiátrica por ter espancado o amante da sua esposa. Descobriu que era um bipolar não-diagnosticado, mas se recusa a se medicar. Ainda obcecado com a idéia de reconquistar sua esposa, ele não tem como se aproximar dela por ordem judicial. A única forma de tentar contato é através de Tiffany, uma amiga em comum que ficou viúva prematuramente e se voltou para o sexo como forma de lidar com a perda, ficando mal falada na cidade. Mas ela só o ajudará se ele aceitar ser par dela numa competição de dança.

O filme vem sendo vendido como comédia romântica, o que até pode ser considerado por um lado, mas na verdade ele não tem um gênero específico. É drama na maior parte, com momentos cômicos, como o vizinho inconveniente fazendo pesquisa em momentos inoportunos. Mas com certeza não é um filme da Julia Roberts ou do Hugh Grant. É só uma forma dos Weinstein de colocar o filme em categorias diferentes nas premiações, ter menos concorrência e colecionar mais prêmios.

O elenco tem Julia Stiles e Chris Tucker, que outrora eram protagonistas, mas aqui têm papéis menores. Jacki Weaver, a australiana que conquistou Hollywood com a indicação ao Oscar por Animal Kingdom, foi novamente indicada por esse filme, como a mãe que é o elo de ligação da família, o que eu achei exagerado. Ela está ótima, mas não tem grandes cenas no filme, além de boas reações em momentos importantes. Nicole Kidman em The Paperboy merecia mais a indicação.

Robert DeNiro voltou a fazer bons filmes, e com isso recebeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante. Ele não precisa provar mais nada a ninguém a essa altura, mas ultimamente tem feito filmes bem bobos que não lhe dão muito trabalho, com raras exceções. Mas ele é absolutamente perfeito pro papel de pai italiano supersticioso e com TOC.

Bradley Cooper começou bem a carreira com a comédia satírica Mais Um Verão Americano, mas depois colecionou besteiras no currículo como Se Beber Não Case, aquela apoteose do machismo, preconceito e do senso comum, Idas e Vindas do Amor, aquela perda de tempo colossal, Sim, Senhor e Penetras Bom de Bico, e agora finalmente fez um bom filme. E está colhendo os louros, só que deve ficar na sombra de Daniel Day-Lewis nos prêmios.

Mas pra mim quem rouba a cena é mesmo a Jennifer Lawrence, que é certamente a atriz do ano. Ela só tem uns 23 anos, mas já tem no currículo bons filmes como Vidas Que Se Cruzam, Loucamente Apaixonados, Jogos Vorazes, e a indicação ao Oscar de protagonista por Inverno da Alma. Muitos atores jamais conseguem tudo isso numa carreira inteira. E pra mim levaria não só o Globo de Ouro como o Oscar também. Ela é até jovem demais para o papel, mas há pelo menos umas 3 cenas dela nesse filme que ficaram na minha memória. Já da Jessica Chastain, sua maior concorrente, não me lembro de nenhuma em específico. Muito tem a ver com o material também, mas pra mim o trabalho da Jennifer é superior (e o filme também).

David O. Russell escreveu esse roteiro, uma adaptação do romance homônimo de Matthew Quick. Russell é mais conhecido por dirigir filmes como o incompreendido Huckabees – A Vida é Uma Comédia, Três Reis e conquistou seu lugar ao sol com o filme do Mark Whalberg O Vencedor, que eu não gosto nem um pouco. E esse sem dúvida é o ápice da sua carreira, tanto como diretor quanto como roteirista. Um filme sensível, espirituoso e bem humorado sobre pessoas complicadas e difíceis.

Destaque também pra trilha sonora muito bem cuidada, especialmente por Girl from the North Country de Bob Dylan e Johnny Cash, e What Is and What Should Never Be de Led Zeppelin. E vale também criticar, mais uma vez, a escolha do título nacional, que não traduziu uma expressão inglesa equivalente a “há males que vem para o bem” (silver linings) e colocou um título bem genérico, digno de novela do Manoel Carlos.



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