Finalmente consegui conferir o último e faladíssimo filme da trilogia do assassino em série Zé do Caixão. E, para melhorar, no cinema.
Depois de ficar 40 anos preso, Josefel Zanatas, o serial killer de unhas gigantes continua seu plano de imortalidade através da perpetuação do sangue e, junto com seu fiel escudeiro, o corcunda Bruno, e uma legião de adoradores, sai em busca daquela que será a mãe de seu filho.
O filme conclui a trilogia iniciada com À Meia Noite Levari a sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver (1967). Só pelo tempo entre os dois primeiros filmes da trilogia e seu encerramento, já dá para perceber que Mojica teve muita dificuldade para realizar o trabalho. Foram quarenta anos de espera e muitas tentativas frustadas, mas sua garra e a preciosa ajuda do produtor Paulo Sacramento e do roteirista Dennison Ramalho conseguiram levar o filme às telas do país.
Apesar de algumas atuações exageradas e cortes estranhos, o filme surpreende tanto por seu terror, um gênero praticamente inexistente no Brasil, como pela qualidade de suas cenas. Muito vem da direção de arte de Cássio Amarante (Abril Despedação, O Ano que Meus Pais Saíram de Férias e Central do Brasil), mas o principal tem a marca registrada de José Mojica Marins, que consegue transitar entre o chocante e o hilário sem grandes dificuldades.
O conjunto desses elementos cria uma atmosfera trash diferente com cadáveres assombrados, litros e mais litros de sangue, sacrifícios animais, mulheres nuas e cenas de tortura de embrulhar os estômagos mais fortes, sem uso de computação gráfica e com 3.000 baratas, centenas de aranhas e dezenas de ratos.
O mais interessante do filme é ver que apesar de todas as modernizações do roteiro e da trama, o estilo Mojica de fazer filmes está completamente presente e consegue demonstrar a um público mais jovem, desconhecedor do cinema de terror nacional, quem é de fato este senhor de unhas longas para o nosso cinema.
Claro que o filme está longe de ser a melhor coisa que você já viu na sua vida. A maquiagem não é excelente, o roteiro tem vários buracos e algumas das atrizes chegam a incomodar com atuaçõe tão cadenciadas que lembram uma peça escolar. Ao mesmo tempo, algumas cenas são antológicas e as atuações de Rui Resende, Jece Valadão (outra lenda do cinema nacional) e o cada vez mais fantástico Milhem Cortaz, memoráveis. A ponta de Adriano Stuart, diretor de Kung Fu Contra as Bonecas, também é uma grande homenagem.
Uma excelente oportunidade de conhecer uma das figuras mais fantásticas e visionárias do cinema nacional. Um filme que merece ser visto por toda a sua saga fora das telas e também por ser um dos que melhor representa o cinema de horror do país.
Os fanáticos por produções estadunidenses e aqueles que pretendem ver o filme mais sério de suas vidas podem poupar seu dinheiro e manter distância do filme.
Um Grande Momento
A mulher com o bebê.
Prêmios e indicações(as categorias premiadas estão em negrito) Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro: Direção de Arte (Cassio Amarante), Efeitos Especiais (Kapel Furman, Rogério Marinho, Robson Sartori)
Festival de Paulínia: Filme, Prêmio da Crítica, Fotografia (José Roberto Eliezer), Direção de Arte, Edição (Paulo Sacramento), Edição de Som (Raul Jooken Baptista, William Lopes, Miriam Biderman), Trilha Sonora (Marcio Nigro, André Abujamra)
Links
(Encarnação do Demônio, BRA, 2008) Terror Direção: José Mojica Marins Elenco: José Mojica Marins, Jece Valadão, Adriano Stuart, Milhem Cortaz, Rui Resende, Cristina Aché, Helena Ignez, Débora Muniz, Luís Melo Roteiro: José Mojica Marins, Dennison Ramalho Duração: 90 min. Minha nota: 7/10
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