Entrevistamos Edgar Pêra no MotelX a propósito do seu projcto em exibição, a longa-metragem "O Barão".
Como houve uns problemas na captação de som devido ao inesperado ruído ambiente aqui fica uma transcrição da entrevista.
Antestreia: De que trata o filme? Edgar Pêra: “O Barão” tanto pode ser considerado como uma história de amor como de terror e sobretudo vive dessa relação ambígua entre um Barão que é um marialva e um vampiro decadente, e aquilo que resta do poder que tem sobre os outros, sobre a região da serra do Barroso. Mas também é uma personagem contemporânea, apesar de ser baseado numa obra dos anos quarenta é o típico caciqueiro ou o chefe de família sentado à espera que lhe sirvam o jantar.
A: O Barão é uma personagem ambiciosa pela características draculeanas. O interior de Portugal tem potencial para albergar monstros clássicos ou mesmo para inventar os seus? EP: Os limites somos nós que os impomos, pelo menos em termos de imaginação, depois há a questão dos meios. Se falarmos de fazer cinema de efeitos especiais hoje em dia é mais fácil, mas não deixa de ser complexo.
Antestreia: Foi o seu filme com mais apoios, mas tem parte propositadamente amadoras, a fazer lembrar teatro, para dar um toque mais intimista ao filme. EP: O filme tem uma relação com a montanha apesar de ser totalmente de estúdio, mas há alturas em que a representação se aproxima mais daquilo que é o teatro popular, mas noutras alturas é exactamente o contrário, é o teatro mais contemporâneo que pode haver em termos de representação, sobretudo se falamos do Nuno Melo, ele nunca entra nesse registo. Só deixo que a personagem espectador – que é uma espécie de não-profissional, o inspector – pode entrar nesse registo, uma certa distância relativamente ao seu próprio papel, porque a personagem é assim mesmo.
Antestreia: O filme tem também um tom desafiador como tinha o livro quando foi publicado e como a peça de teatro que não foi encenada. As críticas são as mesmas de então? EP: O Branquinho da Fonseca era um desalinhado. Nesse sentido identifico-me com ele. Ele não tem um programa político entre uma espécie de realismo e surrealismo. O que faz é tentar pôr o leitor no papel do observador e fá-lo viajar de cenário para cenário quase sem que o leitor se dê conta disso. Tentei fazer isso com o filme também.
Antestreia: O filme é assumidamente 2D de um pioneiro do 3D em Portugal. Tenta ser clássico e numa fase em que o cinema está a evoluir - cor e 3D - tenta ser o oposto. É por uma questão de respeito ao original? EP: Cada problema tem a sua solução. Para mim era fundamental pôr-me dentro do espírito de um cineasta dos anos 40 que trabalhasse dentro de um esquema série B, com poucos dias de rodagem. O filme foi feito em 25 dias, não é muito para um filme destes, com tantos planos e movimentos de câmara sofisticados enfim, há ali todo um trabalho de iluminação e cenários que realmente é difícil poder conjugar tudo simultaneamente, fazer em pouco tempo.
Antestreia: Outra questão técnica é o formato das legendas em inglês. EP: Nós somos obrigados em Portugal a ter legendas. Para mim é uma vantagem porque pelo menos não destrói a banda sonora do filme. Por outro lado é também um obstáculo ao visionamento. O que tentei foi conjugar graficamente as legendas com a imagem do filme.
Antestreia: Este filme está a ser feito para o mercado internacional? EP: Eu não faço filmes para mercados. A única área que tem de se preocupar com o mercado é a promoção do filme e não o próprio filme em si. Tem de haver uma promoção bastante agressiva e uma estatégia de marketing que permita que os filmes apareçam nas televisões, nos programas, etc. Aí é que tem de se fazer um investimento muito grande e às vezes não é possível. Aquilo que se pode dizer é que o filme apela a uma certa cinefilia e os espectadores projectam a sua própria cinefilia naquelas imagens. Vão buscar referências.
Antestreia: A maioria dos espectadors não espera pelo final dos créditos para sair e o Barão não gosta disso. Quem abandonar a sala antes do tempo vai-se arrepender? EP: Um dos problemas das ficas técnicas é que ou são mutiladas na televisão ou muitas vezes acendem logo as luzes na sala de cinema e aquilo que eu tentei fazer foi, ao incluir um bónus depois dos créditos, fizesse com que as pessoas ficassem até ao fim e ao mesmo tempo houvesse uma descompressão de toda aquela história. Porque o filme tem muitos registos mas tem um final grave e sombrio e eu quis desconstruir essa impressão. Que as pessoas saíssem do cinema com um estado de espírito mais alegre, mais divertido.
Antestreia: Algo mais que queira dizer aos espectadores? EP: Vão ver o filme. Às vezes os filmes em Portugal têm boas críticas, fala-se bastante, mas depois as pessoas parece que têm dificuldade em chegar à sala, há umas forças magnéticas que as impedem de lá chegar. Espero que ultrapassem essa barreira.
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