Cinema
Especial Oscar: Indicados para Melhor Trilha Sonora
Em
Como Treinar o seu Dragão, John Powell faz o que sabe melhor: compor uma trilha de desenho animado que une mistério, ação, humor e romance, tudo num balaio só. O homem é um especialista nisso, basta dar uma olhada no seu currículo:
Shrek,
Kung-Fu Panda,
A Era do Gelo 2 e
Happy Feet: O Pingüim, entre outros
blockbusters do gênero animação. Essa é a primeira nomeação de Powell ao Oscar; é improvável que ganhe, mas pelo menos já vale pelo reconhecimento que a Academia deu ao talento desse compositor britânico.
Com oito nomeações mais um Oscar (por
Rei Leão), Hans Zimmer é um velho conhecido dos bastidores da maior festa do cinema mundial. Na esteira do sucesso de
Batman: O Cavaleiro das Trevas, ganhador do Grammy de Melhor Trilha de 2008, Zimmer agora concorre com
Inception (
A Origem). Essa é a sua terceira colaboração com Christopher Nolan, diretor de
Amnésia,
O Grande Truque e
Batman Begins.
A música grandiosa de
A Origem magicamente concilia o mundo repleto de velocidade e tensão entre mega-corporações rivais com o elemento surreal do mundo onírico. As músicas de Zimmer tem uma cara contemporânea: o compositor se empenha em construir ?climas? e não temas tradicionais, e aqui e acolá aparecem guitarras e sintetizadores. Meu voto vai para Hans esse ano; se alguém merece ganhar dessa vez, com certeza será ele... E digo mais: seria uma vitória com gostinho de vingança, já que os jurados do Oscar (inexplicavelmente) deixaram Nolan fora do páreo...
Até pouco tempo atrás, o falecido Maurice Jarre ? responsável por
Doutor Jivago,
Lawrence da Arábia e
Ghost, do Outro Lado da Vida ? era o grande, senão o único, representante da França entre os pesos-pesado de Hollywood. Na década que passou, outro nome tem se destacado: Alexandre Desplat. Desde o final dos anos 1990 Desplat vem colecionando várias nomeações ao Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA (o ?Oscar? inglês). O seu currículo tem primado pela diversidade: nele consta desde
Syriana (2005) e
A Rainha (2006) até a
Saga Crepúsculo: Lua Nova (2009) e
Harry Potter e as Relíquias da Morte.
O Discurso do Rei é um drama familiar de repercussões vitais para o futuro de uma nação. O filme se passa em meados da década de trinta, com a ascensão do Rei Jorge VI ao trono e sua difícil tarefa de conduzir seu país, prestes a entrar na Segunda Guerra Mundial. Condizente com a polidez da família Real britânica, a partitura assinada por Desplat é sóbria e contida, entrelaçada pela 7º Sinfonia de Beethoven e seu Concerto 5º para Piano.
O Discurso do Rei foi o grande premiado na noite do BAFTA, e Desplat levou a melhor durante a cerimônia. Isso, de certa forma, era previsível, já que é um filme que trata de personagens tão caros à história da Grã-Bretanha. Agora, acho difícil esse fenômeno se repetir no Oscar, um evento tão americano...
Depois de um período de vacas magras, o diretor inglês Danny Boyle (
Cova Rasa,
Trainspotting ? Sem Limites) voltou ao topo do panteão cinematográfico com o festejado
Quem Quer Ser Um Milionário? (2008). A igualmente festejada trilha de A.R. Rahman, combinando música eletrônica e indiana, agradou a gregos e troianos. Levou os três grandes prêmios de sua categoria (um BAFTA, um Oscar e um Globo de Ouro) e mais
dois Grammys. Ano passado Boyle e Rahman repetiram a parceria em
127 Horas, filme baseado na história verídica de Aaron Ralston, um alpinista americano preso por 5 dias num pedregulho, isolado e sem comida.
127 Horas cai na fórmula
hipster do diretor, no estilo de
Trainspotting (1996) e
A Praia (2000), com o disco cheio de bandas
cool; A. R. Rahman aparece ao lado desses artistas com músicas focadas em violões e guitarras, ora pastoris, ora sombrias. Apesar de o seu trabalho ter sido aclamado entre críticos, é difícil que A. R. Rahman saia vencedor dessa vez.
Trent Reznor, criador do Nine Inch Nails, é um gigante do rock contemporâneo. Seus álbuns venderam 10 milhões de cópias só nos Estados Unidos, levando a música industrial ao
mainstream. Apesar de essa ser a sua primeira nomeação ao Oscar, o rapaz não é um novato para a sétima arte: ele produziu as trilhas de
Assassinos por Natureza (1994) e
Estrada Perdida (1996) a pedido de Oliver Stone e David Lynch, e suas músicas aparecerem em filmes tão diversos quanto
O Corvo (1994),
Se7en (1995) e
Lara Croft ? Tomb Raider (2001).
A música introspectiva e cerebral do Sr. Reznor e seu colaborador Atticus Ross combina com os bastidores da criação desse colosso
hi-tech que é o Facebook. Para os que acompanham a carreira do rapaz, esses vão notar muita coisa familiar: algumas faixas soam como sobras do
The Fragile (1999) ou do álbum instrumental
Ghosts I-IV (2008). Ainda no tema ?familiar?, os timbres retrô / ?Atari? que povoam o álbum, apesar de interessantes, soam meio descontextualizados; o Facebook foi criado em 2004, e não em 1984. Mas, entre momentos tipicamente NIN e sons 8-bits, há espaço para surpresas: uma delas é o brilhante uso de ?Hall of the Mountain King? (tema principal da ópera
Peer Gynt) na cena da derrota dos gêmeos Winklevoss, os arqui-inimigos de Mark Zuckerberg. No Globo de Ouro ? considerado a ?prévia? do
Academy Awards ? a dupla levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora, o que aumenta as chances de
A Rede Social ganhar no Oscar. Apesar disso, tenho minhas dúvidas se ela é realmente merecedora do prêmio esse ano.
Enquanto eu estava escrevendo essas resenhas acabei achando isso aqui no Msn Vídeo; é uma espiada mais que privilegiada no processo de composição da trilha de
Rede Social, com Trent e Atticus Ross dando uma entrevista bastante esclarecedora sobre o tema.
"Enjoy!", como dizem os americanos...
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