Cinema
Festival de Cannes 2014 - Impressões Dos Seis Primeiros Dias
O Festival de Cannes 2014 começou no passado dia 14 de Maio com a exibição da polémica cinebiografia "Grace of Monaco", que chegou a Cannes rodeada de controvérsia, já que a Família Real do Mónaco, os descendentes da atriz e monarca Grace Kelly, não gostaram nada deste retrato realizado por Olivier Dahan, tendo mesmo decidido boicotar a edição deste ano do festival para mostrar o seu descontentamento com a seleção de "Grace of Monaco" como filme de abertura do festival. A sua exibição não apaziguou as críticas ou a controvérsia, já que a crítica mundial reagiu em peso com opiniões negativas, por exemplo, Richard Corliss da TIME Magazine comparou-o a um telefilme barato da BBC, já Scott Foundas da Variety criticou a surpreendente falta de profundidade do filme, que recorde-se, estreia já esta semana, no dia 22 de Maio, em Portugal.
No primeiro dia de competição oficial do Festival de Cannes, 15 de Maio, o grande ecrã do Grande Teatro Lumière acolheu a exibição da cinebiografia "Mr. Turner", de Mike Leigh, que foi acolhida por muitos aplausos e críticas positivas por parte da imprensa internacional, que apreciou bastante este produto cinematográfico sobre a vida do pintor J.M.W. Turner, tendo grande parte da imprensa destacado a brilhante performance de Timothy Spall na pele de Turner, reforçando quem sabe a possibilidade de Spall vir a vencer qualquer prémio em Cannes ou até mesmo, mais tarde, nos BAFTAs por esta sua brilhante performance. Entre os elogios há que destacar a crítica positiva do jornal britânico Independent, que por intermédio do jornalista Geoffrey Macnab, classificou "Mr. Turner" como uma cinebiografia rica e forte que é ancorada por uma soberba prestação de Timothy Spall.
No segundo dia de competição, 16 de Maio, a passadeira vermelha do Festival de Cannes estendeu-se para receber várias estrelas de Hollywood, entre elas Ryan Reynolds, Rosario Dawson e Kevin Durand, os protagonistas do thriller "The Captive", de Atom Egoyan. Este projeto, que segue a investigação de um pai relativamente à sua filha desaparecida, foi amplamente criticado pela imprensa internacional, tendo inclusivamente sido apupado após a sua sessão de estreia no festival. As críticas mais acutilantes partiram da imprensa norte-americana, nomeadamente do jornalista David Rooney do site The Hollywood Reporter, que classificou "The Captive" como um thriller absurdo, algo que foi dito também por Jessica Kiang do site The Playlist, que diz ainda que Egoyan tentou copiar, sem sucesso, a fórmula do bem sucedido "The Prisoners", um dos grandes filmes de 2013. A grande estreia de 16 de Maio estava, no entanto, reservada para o drama turco "Winter Sleep", de Nuri Bilge Ceylan, que foi recebido com grandes ovações, confirmando assim que é um dos grandes candidatos à Palma de Ouro, um estatuto que ostenta desde que foi anunciada a seleção oficial deste certame. Em traços gerais, a imprensa internacional reagiu muito bem a este projeto dramático, que segue o quotidiano familiar e laboral de um ex-ator que agora tem um pequeno hotel. Uma das principais críticas positivas veio da BBC, que embora não tenha apreciado o ritmo lento e a duração exagerada do filme (aproximadamente três horas), acabou por concluir que "Winter Sleep" é um filme profundo e amplamente intenso que está repleto de pequenas nuances de humor negro. Na secção Un Certain Regard há que destacar a estreia do drama "The Blue Room", de Mathieu Amalric, um projeto produzido por Paulo Branco, que retirou pontos amenos da imprensa presente.
A cinebiografia "Saint Laurent", de Bertrand Bonello, que segue a vida do estilista Yves Saint Laurent, dividiu a opinião crítica. É certo que muitos dos presentes nas suas sessões classificaram-no como uma película biográfica diferente e bem montada, mas ainda assim vieram a público muitas vozes dissidentes, como por exemplo a do jornalista Peter Bradshaw do jornal britânico Guardian, que se mostrou irritado com a descrição machista e nada clássica que é feita por Bonello do famoso estilista Yves Saint Laurent. No passado Sábado também foi exibido o drama "The Disappearance of Eleanor Rigby", que compete na secção Un Certain Regard, e que conseguiu chamar a atenção da imprensa norte-americana, que parece ter gostado bastante da forma como é desenvolvida a história de um casal que, após um mau período, tem que reconstruir a sua relação.
Já que se fala em cinema americano, aproveito também para mencionar a estreia do western "The Homesman", da autoria do também ator Tommy Lee Jones. Os palcos de Cannes acolheram a sua exibição no passado Domingo, 18 de Maio, e todos os presentes nessas sessões acabaram por sair da sala bastante satisfeitos, como comprovam as várias críticas positivas que inundaram a internet, como aquele que foi escrita por Peter Debruge da Variety, que louvou a capacidade técnica de Tommy Lee Jones, tendo apreciado largamente este seu esforço para criar um western cativante mas nada excessivo. É claro que houve também quem não gostou de "The Homesman", mas na generalidade, este western saiu de Cannes com opiniões bastante positivas, que ainda assim confirmaram que este projeto não tem qualquer hipótese de chegar à Palma de Ouro. E continuando na senda do cinema americano, chegou a altura de falar sobre um dos principais filmes da Competição Oficial de Cannes que, ao contrário de "The Homesman", tem grandes possibilidades de vir a conquistar a Palma de Ouro. Trata-se do thriller dramático e criminal "Foxcatcher", que estreou ontem, 19 de Maio, em Cannes, sob o olhar atento do seu realizador Bennett Miller, o diretor de "Moneyball". Esta longa de cariz psicológico e biográfico, que junta no elenco nomes como Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Vanessa Redgrave e Sienna Miller, segue a história real de um wrestler olímpico que foi assassinado a sangue frio por um homem esquizofrénico, algo que provocou a fúria do irmão da vítima, também ele um wrestler consagrado. É escusado dizer que "Foxcatcher" confirmou as expetativas e foi muito aplaudido em Cannes, especialmente pela imprensa norte-americana, que reafirmou em massa que este thriller pode muito bem ser um dos grandes candidatos deste ano aos Óscares. Entre as críticas apoteóticas conta-se a de Jordan Hoffman do site Film.com, que classificou-o como uma provocante obra prima dentro do género, algo que é acompanhado por Todd McCarthy do The Hollywood Reporter, que destaca ainda a grande performance de Steve Carell, que aqui afasta-se do género cómico para nos dar uma prestação que pode mudar a sua vida profissional.
Num plano mais controverso e menos positivo, convém lembrar que ontem também foi dia da estreia de "Maps to The Sars", o novo trabalho de David Cronenberg, que dois anos após a estreia do polémico "Cosmopolis", voltou a chocar o Festival de Cannes com mais um filme complicado e extravagante, que fica a léguas do que inicialmente se esperava. Esta película, que é protagonizada por Julianne Moore, Mia Wasikowska, John Cusack, Robert Pattinson, Olivia Williams e Sarah Gadon, pode até ter um elenco de luxo, mas isso não impediu a crítica de o trucidar, sendo de destacar a opinião de Todd McCarthy do Hollywood Reporter, que de certa forma apelida-o como uma péssima paródia de mau gosto sobre a Hollywood moderna. Esta opinião parece ser apoiada por muitos outros jornalistas, mas convém dizer que uma pequena minoria apreciou o filme, como Eric Kohn do site indieWIRE, que apreciou o seu objetivo e aproveitou para louvar os impulsos destrutivos de Cronenberg. É portanto fácil de concluir que "Maps to The Satrs" é um daqueles filmes polémicos e muito subjetivos. Já fora da competição, Cannes também apadrinhou a estreia do thriller "The Rover", um filme algo complexo de David Michod que, tal como "Mapts to the Stars", causou grande divisão entre os que tiveram a oportunidade de o ver, mas poucos foram aqueles que devem ter saído plenamente convencidos, já que nem mesmo as opiniões positivas parecem apontar "Rover" como um filme abrangente e positivo, pelo menos é isso que se retira da opinião do jornalista Scott Foundas da Variety, que aproveitou para classifica-lo como um thriller poderoso, mas também para deixar rasgados elogios ao protagonista do filme, o jovem Robert Pattinson, que pode ter tido neste filme a melhor prestação da sua carreira.
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