Ao comprar uma entrada para um filme francês, já dá para saber que a chance de ver um drama que mostre o lado duro e triste do ser humano é grande. Com raras excessões, são os títulos desta nacionalidade que marcam tanto pelo modo cru de retratar as fraquezas do homem, como por seus finais abertos que rondam o pensamento dos espectadores mesmo após a projeção.
Claro que, mesmo com todos os resultados positivos e a tradição, não são todos os títulos que conseguem causar o impacto desejado. Há Tanto Tempo Que Te Amo está no meio do caminho: tem o tema, a abordagem e um bom desenvolvimento, mas tropeça, ainda que elegantemente, em alguns lugares comuns.
Duas irmãs, Juliette e Léa, tentam estabelecer uma relação depois de quinze anos de separação. Enquanto uma vive sua vida de casada como se nada tivesse acontecido, a outra não consegue se readaptar a um mundo que parce nunca ter sentido falta dela.
Logo nos primeiros momentos, criamos uma relação de piedade e curiosidade com a personagem de Juliette. Sempre fumando, com olheiras, sem maquiagem e unhas quase sujas vemos em seu rosto que algo muito ruim aconteceu com aquela pessoa.
Por outro lado, Léa demonstra sua dubiedade através de seu olhar . Se em alguns momentos ela está feliz por estar novamente com a irmã, em outros ela se mostra insegura e não consegue esconder o medo e o desconforto com sorrisos.
Neste universo fraterno, outros personagens são muito importantes para a composição de toda a história de um passado que queremos conhecer mas não está ali. A pequena Lys traz seu carinho ingênuo; o avô, o silêncio cúmplice; Fauré e Michel o conforto.
A história leva o espectador para dentro desta realidade e vai abrindo as portas devagar para a platéia ver o que aconteceu. É assim que algumas lágrimas acabam surgindo no meio do caminho.
As atuações são fundamentais. As protagonistas estão muito bem e conseguem transmitir toda a complexidade de suas personagens. Apesar de ter um elenco muito eficiente, com boas atuações de Frédéric Pierrot, Serge Hazanavicius e da pequena Lise Ségur, alguns papéis secundários parecem não ter tido tanta atenção como deveriam.
A direção de arte de Samuel Deshors e Emmanuelle Cuillery é detalhista e traz toda a insegurança e os sentimentos reprimidos do mundo de Juliette para a cena usando e abusando da cor marrom. Sem falar nos quadros de Émile Friant.
A direção de fotografia de Jérôme Alméras também merece ser citada. A luz é sempre muito bem usada e alguns enquadramentos são maravilhosos.
Apesar de tudo caminhar na direção certa, o resultado final não parece ser tão bom como poderia e a sensação de que a edição poderia ser feita com menos apego e de que algumas cenas são desnecessárias.
O longa ganha muitos pontos por resistir à facilidade de técnicas como o flashback, mas não consegue ser convincente por todo o tempo e se atropela nos momentos mais sensíveis como a cena da visita ou a da substituição de Fauré.
Mas mesmo que tenha alguns defeitos, é um filme que vale a pena. Pela história, pela trilha sonora, pela atuações de Kristin Scott Thomas e Elsa Zylberstein.
Um lencinho pode ser necessário.
Um Grande Momento
A entrevista do primeiro emprego.
Prêmios e indicações(as categorias premiadas estão em negrito) BAFTA: Filme em Língua Estrangeira, Roteiro Original, Atriz (Kristin Scott Thomas) Festival de Berlim: Urso de Ouro, Júri de Leitores do Berliner Morgenpost, Júri Ecumênico César: Filme, Roteiro Original, Primeiro Filme, Atriz (Kristin Scott Thomas), Atriz Coadjuvante (Elsa Zylberstein), Música (Jean-Louis Aubert) Globo de Ouro: Filme Estrangeiro, Atriz (Kristin Scott Thomas)
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Drama Direção: Philippe Claudel Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévil, Frédéric Pierrot, Jean-Claude Arnaud, Lise Ségur Roteiro: Philippe Claudel Duração: 115 min. Minha nota: 7/10
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