Por Isabelli Gonçalves (Jornalista)
Relembrando a rotina de um dos grandes personagens do distrito que nesse ano comemora meio século de existência.
Esqueça os grandes prédios, a avenida movimentada e o cotidiano veloz do Jabaquara atual. Até os anos 20 a região era tipicamente rural com grandes chácaras. A vida era levada de forma tranquila em meio aos eucaliptos. Pouco a pouco a população foi crescendo e tudo se transformou com novas construções, formas de trabalho e entretenimento. Este cenário descrito por
Ordalina Candido,
68, artista plástica, se interliga com o cinema, que nesta mesma época ganhava muitos amantes na Grande São Paulo. E foi assim que a região em construção chamada Jabaquara se encontrou com o cine Maringá.
Luz, câmera... Ação
Para chegar ao cine Maringá era preciso pegar um ônibus da linha 12 da CMTC - Cia. Municipal de Transportes Coletivos, que ligava o Jabaquara ao centro da cidade. Nesse tempo os cinemas eram referencias tão importantes nos bairros quanto às igrejas. O cine Maringá, que oferecia 1282 lugares, levava beleza e movimento ao bairro, suas sessões diárias marcavam a memória de muitas pessoas.
O cine Maringá teve sua estreia em 2 de julho de 1953, na atual Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira (antiga Avenida Conceição), que nada lembrava a rotina atual dos espaços empresariais. Sua inauguração estava conciliada à nova rotina do Jabaquara: a abertura da autoestrada Washington Luiz em 1920, o inicio das atividades do aeroporto de Congonhas no final da década de 30, a construção da paróquia de São Judas Tadeu em 1940 e, como grande marco, em 1968, a chegada do Metrô.
A terra da garoa, também era terra dos telões...
Promovendo uma atmosfera que envolvia arte, entretenimento e diversão na década em que o cine Maringá foi inaugurado, segundo pesquisas do Centro Cultural São Paulo, existiam mais de cem cinemas espalhados pela cidade de São Paulo, entre eles o cine Metro (1938) localizado na Avenida São João, tido como um dos mais elegantes da época, o cine Ipiranga (1943) que encerrou suas atividades somente em 2005 e o cine Astor (1960) na região da Av. Paulista.
"Antigamente a gente usufruía mais desses cinemas, dos bailes, o pessoal era mais maleável. Podia se juntar todas as tribos e ouvíamos músicas, dançávamos... Íamos para nos divertir", descreve com brilho nos olhos Ordalina, que sempre sonha com a antiga São Paulo e a cultura de se ver filmes na década de 50. Quando o tema muda e, se faz um paralelo entre assistir cinema ontem e hoje, o tom de voz muda e a artista descreve:
"Agora não tem mais poesia, antes tudo era poético... Agora se pergunta para um jovem: o que é poesia? Ele responde: É de comer?", uma reflexão sobre a mesma arte, a mesma cidade, mas que outrora vivia de outra forma.
Foto do cinema: Valentim Cruz
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