Cinema
Kim Ki-Duk em Cannes
Os fãs de Kim Ki-Duk têm sérias razões para estar preocupados. o cineasta que nos deslumbrou com "The Bow", "3-Iron" e que se caracterizava por uma visão do fantástico absolutamente original, e que nos tinha surpreendido com uma produção de filmes em catadupa - 17 filmes em 13 anos eram a prova de uma vontade avassaladora de fazer cinema - regressou a Cannes este ano num estado psicológico deplorável. Os seus fãs não reconheceriam nem o homem nem o cineasta. Tendo-se retirado num exílio voluntário nas montanhas de Arirang, recluso dos seus demónios interiores, apresentou em Cannes um esboço de filme com o título provisório do lugar do seu esconderijo. O filme foi promovido pela FineCut sem imagens num promo onde apenas se visionavam umas breves sequências místicas deste filme acompanhadas por cartazes dos seus trabalhos anteriores. A perplexidade desta promoção tinha sentido. O filme é um auto-retrato do seu isolamento e do seu estado de alma onde a depressão e a angústia são os temas dominantes. Filmando-se a si próprio, longe do estilo e das temáticas dos seus filmes precedentes, a sua passagem por Cannes teve ainda a característica de se querer manter anónimo e longe da imprensa. Num sítio como o festival de Cannes tal atitude é ainda mais problemática. Mesmo assim na única entrevista que concedeu a Christine Masson para as câmaras do tele-festival, assistimos compungidos e emocionados a uma curta entrevista onde Kim Ki-Duk reconhece o seu mal, mas se quer ver também como o seu médico. Numa curiosa referência a Kurosawa e à depressão que também atingiu este mestre do cinema japonês KKD reconhece que o Cinema pode ser a redenção, mas que um cineasta pode estar completamente curado se quer fazer um cinema que marque. E quando a entrevistadora lhe pede para cantar a canção do filme KKD desata num choro convulso que faz entrevista um marco do jornalismo cinematográfico.
Espera-se que Kim Ki-Duk recupere e nos volte a trazer o cinema do seu estilo. Afinal Von Trier também anda a passar um mau bocado, mas apesar dos disparates que disse em Cannes à imprensa, o seu cinema continua sublime,
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